Crítica | BAD BUNNY - DeBÍ TiRAR MáS FOToS
Eu e meus amigos temos um Drinking Game cujo propósito é dar 2 opções para os demais componentes da roda e eles votarem sobre o que alguém prefere. Quem errar, por lógica dá um gole em sua bebida.
Pessoas felizes, copos na mão, e um dos meus melhores amigos joga aos lobos: O “Pipo” (eu) preferiria nunca mais poder ouvir músicas novas (lançadas hoje em dia) ou nunca mais ver filmes antigos. Os votos ficaram divididos e eu preferiria nunca mais ouvir músicas recém lançadas.
Mas não pude parar de refletir sobre. Pareceu tão lógico na hora. Acreditei, naquele momento, que tinha em mãos tudo que precisava ouvir. E além disso, mesmo que eu tente até o final da minha vida ouvir todos os álbuns já lançados, não teria sucesso, o que é um pensamento reconfortante nessa decisão. Porém é uma pergunta verdadeiramente difícil, e pouco tempo depois passei a questionar se minha viagem ao passado (distante ou recente) ecoaria em mim da mesma forma que algum artista contemporâneo poderia me atingir.
Tudo é direcionado pro futuro no universo da arte ao meu ver. Uma obra pode ser reflexo do seu tempo mas propulsiona muito de si pro futuro através de (bom…) outras obras. O pensamento de que não poderia ver o que algum ser humano aleatório faria com referências e ideias tão incríveis já postas ao mundo me tomou em ansiedade.
Comicamente, o relato acima obtém sua resposta num álbum de um artista que eu nunca entendi o hype, líder de um gênero que nunca se comunicou comigo. Mas me empolga muito e me emociona ao mesmo passo que me faz querer dançar.
Ele interpola os graves de baixo típicos do Trap Latino que compõe boa parte de sua discografia com sopros e cordas que deixariam os integrantes do Buena Vista Social Club orgulhosos. Traz pro curta metragem do álbum, conforme texto da Pitchfork, Jacobo Morales, diretor de “Lo que pasó a Santiago”, o único filme porto-riquenho já indicado ao Oscar, há quase 35 anos (a Academia posteriormente proibiu submissões de Porto Rico na categoria Internacional, forçando os cineastas da ilha a competir contra os orçamentos de estúdios americanos).
O álbum como Manifesto será, sem a menor dúvida, objeto de teses e estudos acadêmicos (e estudado mais a fundo pelo escritor que vos fala). É politizado e carrega a história de Porto Rico e da América Latina consigo em uma densidade de referências, metáforas e relatos que um simples texto não poderia cobrir.
E ao mesmo tempo, como objeto musical, como som, como forma de vida, é um baile inesquecível. O famoso destrava cintura. O 01 de toda coisa.