Os 20 Melhores Álbuns de 2024
Indo direto ao ponto: que ano musical incrível tivemos em 2024! Um daqueles para ficar marcado na história, mas por razões completamente diferentes das de 2016. Naquele ano, vimos grandes nomes do passado se reafirmarem – Nick Cave, Radiohead, Bowie, A Tribe Called Quest, Kanye West, Beyoncé – ao mesmo tempo em que os talentos mais promissores da geração (ou que eram, certo Sr. Chance The Rapper?) lançaram álbuns que os consolidaram como referências para o que viria a seguir (Blonde, 22 A Million, Atrocity Exhibition, Puberty 2).
Hoje nossa lista traz outro panorama. Não contamos com tantos nomes estabelecidos; em vez disso, temos figuras emergentes, projetos solos de artistas que saíram da sombra de suas bandas e músicos que finalmente ganharam o merecido brilho dos holofotes após demasiado tempo tocando no escuro.
Mas independente de nomes pesos-pesados, que carregariam esse catálogo por si só (com certeza contamos com muitos de vocês descobrindo artistas a partir dessa lista, e surpreendendo-se até certo ponto), é o tipo de de ano que já marcou época simplesmente por existir, seja o motivo que for quando o revisitarmos.
Quando olharmos para trás, daqui a 5 ou 10 anos, não haverá dúvida: estaremos contemplando projetos que marcaram uma geração. Artistas que, sem sombra de dúvida (sim, é uma afirmação, não uma aposta), terão transcendido seus nichos e se tornado grandes nomes da música contemporânea.
Menções honrosas:
The Cure - Songs of a Lost World
Vampire Weekend - Only God Was Above Us
Bright Eyes - Five Dice, All Threes
Parannoul - Sky Hundred
Father John Misty - Mahashmashana
acloudyskye - There Must Be Something Here
Crumb - AMAMA
Dora Morelenbaum - PIQUE
Amaro Freitas - Y’Y
Dr. Dog - Dr. Dog
20
English Teacher
“This could be texas”
É interessante observar a influência que BCNR e Black Midi têm conquistado nessa nova onda de bandas britânicas, que emergem com uma força irrefreável. A ausência de um "britanismo" escancarado, por assim dizer, torna-se cada vez mais evidente. Ideias inovadoras, conceitos intrigantes e arranjos pungentes, aliados à ausência de um único gênero que os defina, são os elementos que realmente marcam e impressionam.
No entanto, diferente das duas primeiras bandas mencionadas, o álbum de estreia do grupo aproxima o post-punk de uma sensibilidade lírica mais sincera e direta, que captura melhor, ao meu ver, a essência modernista do viver o aqui e agora. É genuinamente empolgante.
19
Caxtrinho
“Queda Livre”
O Brasil é rico. Rico como nenhum outro país no mundo.
No entanto, é também viciado em importar e exporta mais por necessidade de valorização externa do que por orgulho interno. Às vezes, parece não gostar de tocar suas próprias raízes, de observar de onde vem, para onde vai e, principalmente, de compreender sua profundidade. Historicamente, aqueles que se atrevem a fazer isso tendem a enfrentar oposição.
Mas não me entenda mal: o movimento recente da Música Popular Brasileira é forte e volta a andar com as próprias pernas. Ainda assim, soa cada vez menos como Brasil.
Por isso, é impossível não sentir o peito arder, o coração pulsar e o olho brilhar ao ouvir alguém que se proponha a falar sobre Brasil, África, periferia, classicismo — e o faça com arranjos ousados e um ímpeto que reverbera em cada faixa. Queda Livre é um redescobrimento do que somos.
18
Billie Eilish
“HIT ME HARD AND SOFT”
A temática do amor, embora universal e amplamente conhecida, aqui é apresentada por alguém que parece vivenciá-la pela primeira vez, evocando sensações que são, ao mesmo tempo, novas e nostalgicamente familiares.
Billie Eilish trata sua música com uma delicadeza inédita em seu repertório. O subjetivismo de suas composições — tanto líricas quanto sonoras — carrega uma honestidade tão profunda que é capaz de transformar qualquer estado de espírito em questão de segundos. Da felicidade genuína de Birds Of A Feather à mágoa introspectiva de The Greatest, Billie transita entre emoções com uma naturalidade arrebatadora.
17
Jpegmafia!
“I Lay Down My Life For You”
Não se trata de um álbum romântico, muito menos religioso, como o título poderia sugerir. Peggy — apelido carinhoso do rapper mais consistente da atualidade — trabalha aqui como um verdadeiro devoto ao jogo.
Ele é um viciado criativo, e parar não parece ser uma opção. A consistência a que me refiro está tanto na quantidade quanto na qualidade. Desde 2016, seus projetos chegam até nós com uma regularidade quase ritual, sempre como reinvenções de si mesmo. Não necessariamente melhores, mas versões mais necessárias para manter o gênero vivo e respirando.
16
Luiza brina
“prece”
É curioso como, recentemente, o termo “aura” ganhou popularidade nas redes sociais, associado a algo animalesco, quase agressivo. Tudo que emana essa energia parece assustar, a ponto de se tornar intocável.
Prece, de Luiza Brina, por outro lado, carrega a definição original que o Latim e o Grego antigo atribuíam ao termo aura: vento, brisa suave ou respiração.
Ele irradia energia em abundância, desejando tocar tudo que encontra pelo caminho. É meditativo e espiritual, onde Luiza utiliza arranjos delicados para explorar temas como fé, pertencimento e conexão humana.
15
Friko
“Where We're Been, Where We Go From Here”
Imprevisível, exigente e emocionalmente carregado, este álbum se destaca como um dos mais intensos do ano.
A experiência pode ser comparada a uma ventania lateral atingindo um ciclista: amedrontadora nos primeiros segundos, desafiadora logo em seguida e, por fim, catártica ao alcançar o destino.
Cada faixa transita de momentos em câmera lenta para explosões monumentais, exigindo atenção absoluta. A sensação resultante é uma adrenalina pulsante, que implora para ser vivida novamente — algo que está completamente fora do nosso controle.
14
Quadeca
“Scrapyard”
Quadeca é o epítome do que considero uma das características mais cativantes da indústria musical contemporânea — e também um retrato escrachado da Geração Z. Um YouTuber famoso (com 2 milhões de inscritos), que conquistou notoriedade jogando FIFA, decide se aventurar no mundo da música.
No início, títulos ironicamente autodepreciativos (Bad Internet Rapper), pouco a oferecer e críticas negativas definiram sua carreira. Em 2021, Anthony Fantano o nota, e o álbum From Me To You chama atenção pela produção crua, mas ousada, que tenta inovar.
Dez anos após seu primeiro projeto, Quadeca lança Scrapyard (que podemos entender como álbum e não apenas uma mixtape). Aqui, ele apresenta uma obra vasta em sonoridade, marcada por experimentalismo musical e introspecção lírica. Tudo isso é explorado de maneira tangível, desbravando, no sentido mais profundo, sua própria identidade.
13
Porter Robinson
“Smile!”
Impulsivamente, enfiar uma colher de sopa em um saco de açúcar e saborear o pico de serotonina resultante. Ou, de maneira mais tangível, é como aquela primeira garfada de um bolo delicioso após sair da dieta.
Após o emocional Nurture, Porter Robinson retorna com um disco que busca transmitir otimismo em tempos desafiadores. Smile! combina sua habilidade de criar atmosferas eletrônicas com melodias emocionais e cativantes, entregando faixas que soam ao mesmo tempo grandiosas e íntimas.
É um álbum que celebra a melancolia natural da vida e seus padrões. E que dá vontade repetir a todo momento.
12
Charli XCX
“BRAT”
BRAT é Charli XCX em sua forma mais ousada e experimental.
O disco convida o ouvinte a refletir sobre seu próprio entendimento do que é amadurecer. Por que não podemos enxergar nossos tombos, irresponsabilidades e traumas com a paz de saber que são precisamente eles que nos farão mais inteligentes, maduros, realizados? Por que amadurecer precisa ser sofrido, traumático, melancólico? Por que não pode ser uma festa?
Cada faixa é um manifesto de confiança, e por conseguinte, BRAT é uma coroação. Charli, a adulta realizada, em parceria com Charlotte, a pirralha cheia de sonhos, entrega sua obra mais honesta e autêntica. Ao mesmo tempo, entrega a melhor iteração sonora do seu hyper-pop, aperfeiçoado por anos e, aqui, à serviço das canções: pela primeira vez, em sinergia perfeita.
11
Glass Beach
“Plastic Death”
Um álbum explosivo e multifacetado, Plastic Death combina elementos de emo, synthpop e math rock. A banda utiliza mudanças bruscas de ritmo e estilo para criar uma experiência caótica, mas incrivelmente coesa.
O disco é uma declaração artística audaciosa, cheia de energia juvenil e criatividade desenfreada. As camadas (instrumentais e emocionais) não param de se apresentar a cada faixa.
MGMT
“Loss of Life”
10
A QUEM INTERESSA NÃO FALAR SOBRE MGMT?
A quem interessa manter a dupla presa e atrelada aos hits do passado? Loss of Life representa uma nova fase para o duo psicodélico, misturando experimentalismo e acessibilidade em doses perfeitas.
Este álbum queima mais devagar do que todos os trabalhos anteriores da banda, mas deixa sua marca de maneira mais visível. Aborda temas como mortalidade, perda e transcendência com instrumentações que variam de sintetizadores a arranjos orquestrais.
As melodias continuam tão cativantes quanto excêntricas, reafirmando MGMT como mestres do pop alternativo, porém aqui sem qualquer imediatismo.
9
Waxahatchee
“Tigers Blood”
Katie Crutchfield explora temas de aceitação e cura neste álbum profundamente enraizado no folk e no country alternativo (e quando eu digo enraizado, é daquelas que se a árvore caísse em um local urbanizado, destruiria uma rua inteira).
Tigers Blood, dessa forma, é uma celebração da conexão humana e do crescimento pessoal como forma medicinal. O tempo cura, e tudo passa. Com letras que capturam a beleza nas dificuldades da vida e a produção mais orgânica do que nunca, temos a solidificação de Waxahatchee como uma voz indispensável do gênero.
8
Magdalena Bay
“Imaginal Disk”
Um caleidoscópio de sons e cores, Imaginal Disk é uma viagem absolutamente linda pelo que há de melhor no hyperpop.
Cada música parece ser a melhor já feita, e o valor de retorno chega a atrapalhar a experiência do álbum como um todo. É impossível não querer parar, apreciar e fotografar cada faixa.
Ao unir melodias magnéticas com letras introspectivas, explorando temas como a relação com a tecnologia e as ansiedades do mundo moderno, e sintetizadores vibrantes com uma produção absolutamente impecável, Imaginal Disk dá vida ao melhor dos dois mundos — ao concreto e ao abstrato, à dança e à reflexão.
Magdalena Bay parece ter chegado à sua forma final, mas este é apenas o começo.
7
Cameron winter
“heavy metal”
O compromisso com a vida acontecendo de maneira lenta, com as memórias sendo um bem valioso, sem qualquer viés, hipnotiza de maneira que talvez nenhum outro disco do ano tenha feito. A devoção à história, ao caminhar, aos maus cantores que amam cantar e aos que demoram a se entender, mas que ainda assim não param de tentar.
Apesar do título, este álbum é uma jornada introspectiva que explora camadas emocionais e texturas sonoras complexas. O vocalista do grupo Geese utiliza arranjos que mesclam folk, indie e influências da música experimental para criar uma obra que flerta com melancolia e serenidade. É um disco introspectivo, perfeito para quem busca uma experiência contemplativa e emocionalmente rica.
6
clairo
“charm”
É misterioso como um quebra-cabeça, mas exibido como uma vitrine. É evocativo e ao mesmo tempo moderno. É, por falta de um termo mais adequado, um orgasmo auditivo que não foi feito para se ouvir com a cabeça, mas sim para ser sentido com o coração.
Em Charm, Clairo mergulha profundamente na vulnerabilidade emocional, entregando um álbum que é ao mesmo tempo delicado e confiante. Explorando temáticas como saúde mental, amor e autodescoberta, o disco apresenta uma produção polida que mistura elementos de indie pop e R&B. As letras são confessionais, quase diários musicados, enquanto a instrumentação minimalista mantém o foco em sua voz suave e expressiva. Charm marca um amadurecimento artístico notável.
5
laura marling
“Patterns In Repeat”
Não há experiência nesse mundo que soe tão delicada quanto ouvir Laura Marling. Sua música afaga qualquer dor e não sobram resquícios de ansiedade.
Cada acorde, cada nota e cada harmonia são sentidos nos ossos. É como se pudéssemos observar a química do nosso cérebro mudando e voltando à um estado inaugural.
O foco em criar uma narrativa mais descritiva do que nunca cria um filme em nossas cabeças. Cada faixa é meticulosamente construída, com letras que exploram os ciclos da vida e do amor.
Por osmose, a maturidade em Patterns In Repeat parece me fazer pronto pra vida adulta, refletindo uma artista em pleno domínio de sua arte, equilibrando simplicidade instrumental com profundidade lírica.
É, de forma objetiva, a coroação da cantora como uma das maiores compositoras do folk contemporâneo.
4
Geordie Greep
“The New Sound”
O primeiro trabalho solo do vocalista do black midi é uma ode à experimentação.
The New Sound é um álbum que se recusa a ser categorizado, combinando art rock, jazz, elementos de spoken word e texturas eletrônicas. Greep demonstra seu gênio criativo ao criar faixas imprevisíveis e frenéticas enquanto mantém uma ironia presente em suas letras (que é um dos carros chefes).
É um disco desafiador e vanguardista, exagerado e egocêntrico. Adiantamos: não vai ser fácil se encantar logo de cara, mas historicamente falando é quase impossível não se apaixonar por um cafajeste que sabe que é bom no que faz.
3
Mount Eerie
“Night Palace”
Phil Elverum continua sua exploração sobre perda, memória e espiritualidade em Night Palace.
Definitivamente uma experiência como nenhuma outra no ano (e provavelmente que nenhum outro artista pode replicar), o novo álbum do projeto de Elverum parece que existe numa realidade de associação livre de ideias e conceitos.
Não é meticuloso, tampouco intimista ou explorador para aqueles habituados com cantor através do The Microphones. Aqui, as canções são como paisagens densas, com instrumentação esparsa e gravações ambientais que criam uma sensação sombria. Naturalmente nos fazendo contemplar sobre nossa própria mortalidade e sobre a necessidade dele de criar um legado em um mundo que constantemente muda.
2
Adrianne Lenker
“Bright Future”
O Poder da efemeridade como meio de conforto.
Dentro da música de Lenker passamos a entender coisas que não entendíamos. Esse é seu poder como liricista. A dor do passado que se torna algo belo no presente e que cria a esperança em um futuro brilhante.
Em seu novo trabalho solo, a vocalista do Big Thief alcança uma vulnerabilidade ainda mais crua do que havíamos visto em Songs. Cada acorde carrega uma história. Cada estrofe possui o risco de quebrar, se segurarmos forte demais.
Sua poesia explora de forma ímpar a fragilidade humana, seus ciclos de cura e a ligação intrínseca entre a natureza e a alma. É uma ocasião de absoluta presença.
1
MJ Lenderman
“Manning Fireworks”
MJ Lenderman é contador de histórias nato. É daqueles patéticos e simplistas, é verdade, mas faz sua função com maestria. Sua autenticidade salta pra fora do janelas, pois o cômodo é espaço insuficiente.
É o tipo de cara que ri das próprias piadas, que romantiza sua ressaca e que uiva pra lua com uma falta de compromisso com a cultura da provação conquistando a todos que não aguentam mais essa dinâmica.
Com essa abordagem despretenciosa, Manning Fireworks transforma experiências aparentemente banais em eventos genuinamente importantes.
A amizade entre o humor seco e a melancolia, refletindo sobre temas como nostalgia, relações e o passageiro da vida criam um clima íntimo e reflexivo, onde seriamos ouvintes por todo tempo do mundo do anti-herói moderno do Folk Coitadista.