Crítica | Tempo
M. Night Shyamalan é um diretor que gera bastante discussão no mundo do cinema. Há aqueles que o amam e aqueles que o odeiam. Não me considero membro de nenhum dos clubes, mas sei que admiro a força polarizante que o autor traz. Fui assistir Tempo (Old) com algumas esperanças, mas também com muita cautela, pois minha última experiência com o diretor não havia sido muito frutífera, sendo que tinha assistido a uma de suas obras mais aclamadas, A Vila (The Village). Felizmente, Tempo foi uma bela surpresa.
Em Tempo, Night não reinventa a roda. Traz mais um de seus filmes que mergulham em mistérios que flertam com drama, suspense e, principalmente, terror. O diferencial, que torna o filme um dos mais interessantes em sua filmografia, reside na própria execução. Na obra, o diretor escolhe um conceito relativamente simples, abordando a temática do envelhecimento, e o faz com um toque humano, que transmite o drama vivenciado pelas personagens de uma forma muito íntima.
Diferentemente de em A Vila - que acho um boa obra para usar de comparação -, o tema não é tanto a conspiração que revolve a trama, mas sim a repercussão do terror na humanidade das personagens. No filme de 2004, há um conceito interessante, mas que se perde na ausência do realismo, com a criação de um mundo absurdo que impede que a mensagem do autor seja transmitida de forma fiel.
Em Tempo, a conexão com os personagens é quase instantânea. O terror, ainda quando é delicado, a exemplo da cena em que as crianças gradualmente percebem estar 3 anos mais velhas, é visceral. E quando é espalhafatoso, como quando removem um tumor do tamanho de um abacate de uma das personagens, também é chocante, porque a conexão já está criada. O filme usa tanto de artefatos sutis, com diálogos típicos de dramas familiares, quanto ultrajantes. Os primeiros são os que mais tornam o filme rico, mas não carregam a obra sozinhos, que também possui bons momentos de terror Shyamalanesco, enquanto ele, como no seu próprio personagem do filme, brinca com sua audiência.
Ao final, ainda há, previsivelmente, aquele apego de Night à necessidade de impor um plot twist, que, por um lado, é interessante, já que demonstra um certo terror sci-fi distópico utilitarista que, conceitualmente, é inteligente e pode ser usado como analogia social. Mas que, entretanto, acaba sendo um dos momentos mais desconexos do filme, que foge de todo o intimismo que vinha sendo demonstrado, em favor de apresentar uma proporção de escala global que, de certa forma, acaba minimizando os eventos apresentados anteriormente.
Tempo é um filme que apresenta nossos próprios corpos como dispositivos dos nossos apocalipses. O desespero rasteja enquanto somos justapostos a um mundo inescapável, de forma que a paz só poderá ser encontrada se buscada em nossos interiores. O horror é muito vibrante, enquanto vamos descobrindo que capítulos de nossa existência estão sendo apagados e o tempo é irreversível. O filme poderia ser melhor, especialmente se não abusasse tanto dos diálogos expositivos, mas a humanidade do filme, de qualquer forma, remanesce.