Crítica | Fuja

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“Fuja” é o típico filme pra se assistir com os amigos na sexta a noite. O problema: podia ser muito mais.

Escrito e dirigido por Aneesh Chaganty (de “Buscando”), o suspense que atualmente faz sucesso na Netflix é baseado no caso real de Gypsy Rose, uma jovem que descobriu, depois de anos, que sua mãe a manipulava para acreditar que tinha problemas físicos e que era incapaz de viver sozinha. No fim, Gypsy assassinou a mãe junto ao namorado, em um dos casos mais macabros que você vai ouvir falar.

Mas se o que ocorre na vida real é, por si só, capaz de gerar questões sobre maternidade e solidão, além de ser um caso (aparentemente) único para a medicina e um exemplo vivo da Caverna de Platão, Chaganty se mostra menos preocupado com isso, e sim em como utilizar o cenário peculiar para criar um suspense econômico, curto e que, ao menos, sabe se utilizar da tensão adjacente na premissa.

Lembrando o recente “Hush” (que também contava com uma protagonista com deficiência física), a grande atração de “Fuja” é justamente o jogo que acontece entre o controle da mãe e os descobrimentos, e impulsos da filha de se libertar. O que permite ao cineasta criar sequencias inventivas envolvendo a jovem, e o fato de Kiera Allen ser cadeirante de verdade confere maior veracidade ao esforço que tem de fazer para, simplesmente, atravessar uma rua. Inclusive, minha cena favorita é a do cinema, onde a manipulação dos espaços que vemos e que não vemos criam uma tensão gigantesca, culminando em um ponto de virada crucial na narrativa - e adoro o fato de o cinema ser usado como “distração” e “enganação”.

A fotografia de Hillary Fyffe Spera (que nome!) mescla bem cores mais leves quando vemos a filha, e tons mais escuros, que parecem apodrecer as cores na tela, quando estamos em torno do mundo atormentado da mãe, interpretada por uma Sarah Paulson que, visivelmente, se divertiu demais durante a projeção. Sua performance quase extrapola os limites do natural, assim como o filme onde está inserida e, por isso, casa perfeitamente com o quê de overacting da filha.

Porém, como disse antes, embora “Fuja” sirva bem sua proposta, fico com pena de ter sido um tanto de desperdício do singular - e único - material fonte. É como se Chaganty simplesmente se recusasse em ver a complexidade daquela trama que, sim, tem contornos de absurdo, mas a própria abordagem do longa é assim, então ele poderia tranquilamente ter explorado mais esse “exagero”.

Ainda assim “Fuja” é um bom filme e, como disse antes, uma recomendação mais do que acertada para se ver com a gurizada.

7

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