Crítica | Christina Aguilera - Liberation

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Seu soprano de 4,5 oitavas é capaz de atingir e manter notas altas para quantidades de tempo longo. Consegue atacar agressivamente o cinto peitoral, um registro brilhante. Nomeada por três revistas diferentes a VOZ DA GERAÇÃO, é uma vocalista que dispensa apresentações: Christina Aguilera.

Em seu oitavo álbum, “Liberation” (seu primeiro lançamento em seis anos), Christina Aguilera não poderia estar cavando melhor sua libertação e move-se em direção ao Hip-Hop. “Eu não posso viver com essas correntes em mim/ Eu tenho que me libertar”, canta Aguilera em 'Sick of Sittin', sobre guitarras de rock de Anderson .Paak. Mas do que ela deseja se libertar?  Se esta letra estivesse cunhada sobre o álbum de qualquer outra cantante, poderíamos dizer que era apenas uma bela teatralidade. Mas para Aguilera, que disse recentemente como foi se libertar de vez de um programa que não era para ela, o The Voice, soa muito pessoal. “Não é sobre música. É sobre fazer bons momentos na TV e massagear uma história”.

Existem outras canções com conotação pessoal ao longo do caminho, a exemplo do tema 'Fall in Line'. O dueto feminino com Demi Lovato, que estreou no Billboard Music Awards, fala sobre se libertar do patriarcado  e enfrenta questões como o abuso e a exploração sexual.

"Garotinhas, ouçam com atenção

Porque ninguém me disse

Mas vocês merecem saber

Que neste mundo

Você não está em dívida

Você não deve a eles

O seu corpo e a sua alma"

Sobre o título do disco, Aguilera explicou: "Eu queria ter um título que tivesse um significado sobre me libertar de qualquer coisa que não fosse minha verdade. Esse é um constante pensamento na vida de todos: toda vez que você se sente sufocado em uma situação atual na qual surge o pensamento de que você não é você mesmo ou que está sendo atolado pela opinião de outras pessoas. Ou quando você se sente como se estivesse preso em um lugar estagnado"

Na capa do álbum Christina Aguilera aparece com um visual mais clean, cara quase lavada , sem retoques. Segundo a cantora, “está em um lugar, mesmo musicalmente, onde há um sentimento libertador, poder despir tudo e apreciar quem você é. Sua beleza crua!"

Em seus álbuns anteriores, Christina já avançava sobre temas de libertação, como em “Stripped” onde se libertava da inocência pop, e assumia características mais agressiva e sexys, se despia da sexualidade e revisitava sua essência musical em “Back to Basics", se tornando a mulher biônica e futurista em “Bionic”,  e renascendo com “Lotus”. Mas nenhum destes discos chegaram em um momento digamos que, crucial para a cantora, onde ela precisava provar sua força diante da mudança que a indústria da música vem passando. E ela fez isso muito bem com “Liberation”. O álbum todo tem a liberdade como tema principal, mistura gêneros como R&B, Hip-Hop, Soul e até Raggae, reúne parcerias inusitadas, tanto na produção (Kanye West) quanto nos chamados 'feats' ( Keida e Shenseea, Demi Lovato, GoldLink, XNDA, Ty Dolla $igne 2 Chainz), deixando o Pop mainstream de lado.

“Searching for Maria”  é um dos mais belos interlúdios do álbum. Com duração de apenas 0:25 segundos, Xtina canta com uma voz mais lírica e em falsete, se questionando como resolver um problema da melhor forma possível.

“Como você resolve um problema como Maria?

Como você pega uma nuvem e a fixa?

Como você encontra uma palavra que significa Maria?”

“Deserve” é de longe a mais bela balada do álbum. A pegada aqui é mais R&B, e Aguilera explora um tom vocal pouco usado em outros trabalhos dela. A composição ficou a cargo de Julia Michaels ( Britney Spears, Justin Bieber, Kelly Clarkson).

“Dreamers” um novo interlúdio do álbum, dessa vez um pouco mais longo, 0:36 segundos, conta com a participação da filha da cantora, Summer Rain, e de outras crianças, mais um momento de empoderamento feminino que expressa que o lugar da mulher é onde ela quiser, jornalista, super-herói, chefe, cantora e até presidente.

“eu sou forte

Sou invencível

Eu sou um líder

Eu sou o chefe do meu próprio mundo

Eu crio minhas próprias regras

eu vou trabalhar duro

Eu não sou a princesa de ninguém

Eu quero crescer e ser presidente

Eu quero ser presidente”

“Right Moves" no maior estilo Raggae, conta com as vozes de Keida e Shenseea. Produção de Bryan, Nelson, Kosine e Pope, a letra fala sobre a liberdade de amar. Em “Like I Do” parceria com GoldLink o Hip-Hip corre solto novamente. Anderson .Paak aparece na produção para  provar que o álbum é suficiente difuso, apesar de uma aparição repetida aqui e ali, os resultados tendem a ser bem diferentes de um para o outro.

“Twist” cumpre o papel de ser uma balada Pop arrebatadora. A composição e produção podem ter ficado a cargo do Kirby Dockery, mas Christina facilmente desliza seu sentimento na faixa, como se os problemas de Kirby fossem dela.

“Bem, às vezes me pergunto qual o sentido da minha vida

Descobri o preço do amor e perdi a cabeça

Perdoarei todos meus erros e acertos

Faria tudo de novo e não pensaria duas vezes, não

Whoa, pensaria duas vezes”

“Maria” e “Accelerate” tem apenas um ponto em comum: as mãos de Kanye West. Enquanto a primeira segue uma linha mais R&B, com uma letra sobre questionamento ao eu interior e de como enfrentar uma vida solitária, a segunda, uma colaboração entre os rappers Ty Dolla $ign e 2 Chainz, cai nas batidas do Hip-Hop e sintetizadores, é a liberação de algo, mas é seguido de uma série de episódios desconexos com elementos supérfluos. Talvez seja aqui o maior erro do álbum.

"Unless It's with You" tem composição de Aguilera e produção de Ricky Reed (Meghan Trainor). Aqui Christina, que está noiva há mais de quatro anos, canta sobre ter fobia do casamento, mas se mostra pronta  para dar um passo a frente.

“Sim, eu estou em cima da minha cabeça me sentindo confuso

Estou perdendo a cabeça, não sei o que fazer

Porque eu não quero me casar

A menos que seja com você, a menos que seja com você”

“Liberation” é uma coleção de 15 faixas, e dá sinais de que para Christina Aguilera, não existe zona de conforto, que está pronta emocionalmente para  enfrentar o monopólio da indústria. É prova também de que recuperou de uma vez por todas seu status de força inquebrável na música.

8.4

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