FANTASPOA 2023: Dia 16 de abril
Domingo de salas cheias em Porto Alegre.
No terceiro dia de filmes do festival assisti mais dois longas internacionais no Capitólio, entre eles o meu favorito até agora e forte concorrente a filme do festival. A sala imensa estava quase cheia nas duas sessões que fui e para as outras duas soube que encheu, mas não consegui assistir “Give me an A” (que chegou muito badalado) nem “A Incrível Elisa” por conta de outros compromissos.
O Tio (Croácia/Sérvia - Mostra internacional):
É o grande filme do festival até agora! Os diretores croatas criaram um thriller com algumas das melhores composições que já vi no cinema. A mise-en-scène deles não nos permite relaxar por um segundo, mesmo quando tudo parece estar correndo bem na casa da família que espera seu tio para viver um dia de natal. O ambiente super tradcional com a configuração heteronormativa da família é quebrada pelo uso de música prog que dá a sensação que a qualquer momento tudo aquilo vai cair. E cai. Conforme cada cena avança a gente estranha mais e mais coisas, seja o som incomodativo que o peru praticamente cru faz ao ser cortado e elogiado pelo tio, seja o filho do casal que nitidamente já adulto é tratado como um adolescente.
A casa se abre para o público nas mãos dos diretores, nós entendemos cada espaço dela e vemos eles interagindo de formas diferentes a cada cena, a composição dos quadros realça a presença dos três personagens que habitam ali e a ausência do Tio nas cenas em que ele não está. Não há constrangimento (ainda bem) em brincar com níveis diferentes, campos de profundidade, reflexos de espelhos e vidros, alterar o ritmo das cenas e a razão de aspecto e dar ênfases a sons estranhos ou corriqueiros assim como tirar a importância de outros. A atmosfera vai ficando cada vez mais tensa até ficar insuportável e os diretores se recusam a dar qualquer alívio, ao final já estamos atordoados com a situação e as relações que se criaram em tela.
Nota: 9
Convenience Story (Japão - Mostra Internacional)
Segundo filme japonês que vejo nessa Mostra e mais uma vez saio com a sensação de estar perdendo alguma coisa na tradução cultural, especialmente em termos de humor. “Convenience Story” nos apresenta um roteirista com uma relação difícil com sua namorada, seu cachorro e sua chefe, para quem tenta vender seus roteiros que parecem nunca andar. Um dia, no meio de um lugar isolado, acha uma loja de conveniência vazia que vende tudo que ele quer, mas ao tentar ligar seu caminhão alugado ele está estragado. Quando volta dentro da loja entra por um portal dentro das geladeiras de bebidas geladas e lá conhece uma mulher e seu marido.
Com piadas bem rápidas e aposta em visuais que realçam os sentimentos da cena, amarelo muito forte de dia e vermelho muito forte de noite, o diretor cria um mundo que nunca estamos totalmente confortáveis nele mas que precisamos aceitar isso. De certa forma, é isso que o protagonista também faz, nunca se rendendo ao desejo de tentar entender as coisas estranhas que acontecem na sua volta. Satoshi Miki é um diretor com um currículo muito forte, mas às vezes a gente tem que aceitar que só não vamos nos conectar com algumas histórias que vemos. Esse foi o meu caso com “Convenience Story”.
Nota: 5