FANTASPOA 2023: Dia 17 de abril

Mostra de curtas traz forças do cinema gaúcho.

Nas segunda-feiras o Capitólio e a Casa de Cultura fecham, então é o momento para apreciar a mostra de curta-metragens do Fantaspoa. Às 16 horas a sessão 02 da mostra de curtas trouxe um amplo leque de temáticas com filmes de diversos países misturando gêneros, sensações e técnicas. Já às 19 horas assistimos na sessão 06, um grupo de produções mais semelhantes, com muitas imagens ao ar livre ou na natureza e alguns bons destaques do cinema local.

Viagem sem fim (Brasil): Abrindo com um bom exemplo de cinema experimental, o curta remonta o filme “O Descobrimento do Brasil” (1937), usando seus negativos para remontar algumas fortes imagens da obra, depois disso ele parte para imaginar o que aconteceria caso Pedro Alvares Cabral e seus barcos tivessem se perdido no espaço.

Nota: 6,5

Os Macurus (Brasil): Uma animação em stop-motion muito bem construída mas que o roteiro deixa um pouco a desejar. Com um objetivo nitidamente educativo sobre meio-ambiente e natureza, a obra usa os espíritos da floresta para ensinar sobre nossa relação com o mundo a nossa volta. Falta conflito, o embate com o monstro se resolve em poucos segundos e a gente não entende bem o que deveria mais ter acontecido.

Nota: 4

Draught (EUA): Esse foi o mais difícil de assistir na Mostra. O filme abre com uma maquete de uma pequena cidade com um bondinho que anda, a câmera encontra uma mulher que escreve olhando da sua janela. Não tem muito mais que isso, talvez me falte conectar com a intenção do diretor mas não deu para entender o que deveria acontecer aqui.

Nota: 2

La Luz (Espanha): A premissa muito simples sobre uma vila que a cada 20 anos é atacada por monstros e para se salvar uma família não pode deixar nenhuma luz acesa. O conflito geracional entre pai e filha adolescente porém coloca isso em risco. “La Luz” é hábil para nos deixar tensos e com medo do destino de cada pessoa que integra a família, além disso o monstro que aparece e a cena climática no final funcionaram bastante.

Nota: 8

Drowning People (Coreia do Sul): Um filme que precisa do apoio da sinopse para entender, dito isso, é uma bela direção em que a personagem fotógrafa parece nunca estar bem posicionada no quadro e a câmera sempre omite algo de nós. Com muita composição começamos a compreender a história da jovem que retorna para casa e lá encontra uma antiga amiga habitando seu quarto.

Nota: 7

Face Not Recognized. Try Again. (Espanha): Eu tenho certeza que esse filme nasceu de um pesadelo que alguma das diretoras teve. O que vemos é: uma mulher no meio de uma floresta com a cabeça toda envolta em cimento. Trabalhando com muitas sensações como angústia, desespero e tensão, vemos a personagem tentando encontrar maneiras de sobreviver. Para mim, é um trabalho sensorial excelente que me levou na jornada proposta pelas diretoras e já me fez imaginar alguns cenários.

Nota: 7,5

Hammer (EUA): Tecnicamente muito redondo, esse curta trabalha em um plano só mostrando o personagem que chega em casa mais cedo para encontrar sua esposa. A câmera joga com o espectador, contando coisas para nós antes de o personagem saber delas e ao mesmo tempo nos escondendo informações importantes. O filme, apesar de bem feito, é um pouco bobo, e mesmo trazendo alguns debates sobre masculinidade e família ele soa mais como uma esquete do que como uma proposta.

Nota: 5

Instantes Capturados (Brasil): Esse curta tem também planos e cenas incríveis que trabalham com variação na velocidade do movimento e imagens estáticas criando uma relação dialética entre o público e a personagem apesar das diversas maneiras de ver o mundo que a diretora nos apresenta. A temática da censura na escola acaba ficando em segundo plano contra a proposta visual do filme que nos insere num mundo em que movimentos mecânicos e naturais parecem sempre estar em conflito.

Nota: 7,5

Wolf Whistle (Reino Unido): Um filme simples que vai direto ao ponto e termina com uma promessa da diretora que a história terá uma continuação. A estrutura muito convencional em cinco minutos ainda tem tempo para usar uma surpresa e um quadro bem impactante. Agora gostaria de ver quais outras ideias a diretora guarda para essa história.

Nota 6,5

Luminárias (Brasil): Esse filme estava sendo o mais interessante de todos até o seu último momento, quando decide entregar para nós o mistério e nos contar que se trata de uma ficção. O ambiente misterioso que cria enquanto mostra uma equipe de documentário que entra em um lugar proibido atrás de umas luzes folclóricas no interior de Minas Gerais é sedutor e cativante. A atmosfera é realista e o estilo que lembra found footage apesar de o protagonista começar o filme em um quente ambiente caseiro falando em primeiro plano com o público e nos mostrando o vídeo das aventuras que viveu no Brasil tem um contraste bem legal. Isso é até o final desistir do mistério e explicar coisas que não precisavam ser explicadas.

Nota: 7

NAU (Brasil): Um mergulho sensorial com uma personagem. Seja no calor de Porto Alegre, nos sons das ruas do centro (que estou escutando enquanto escrevo essa crítica), na luz, nos reflexos e por fim numa espécie de nojo ao mostrar a animalização da personagem acontecendo.

Nota: 6

O Abraço (Brasil, Hungria): Contando a história de um pai e um filho que saem para caçar na floresta, o filme explora os limites nas relações homem-natureza-mundo, destacando os traumas geracionais que levam a violência e a possibilidade de agência frente a isso. Com atmosfera sobrenatural e contastando a morte no dia e a vida na noite, o diretor nos conduz pela jornada dos personagens em um mundo muito maior que eles.

Nota: 7,5

Histórias de Catharina Paulsen: O Café (Brasil): Retrabalhando a história dos Crimes da Rua do Arvoredo, as diretoras introduzem a dita cúmplice desses assassinatos em um ambiente contemporâneo ao explorar as relações de um homem e uma mulher que estão abrindo um café temático sobre os assassinatos. Uma produção de baixo orçamento com um roteiro forte mas que por vezes foi difícil de ouvir o que estava sendo dito, mesmo assim a inversão dos papéis de gênero para o clímax do filme e toda a construção da relação dos dois personagens é bem feita e nos cria sentimentos controversos sobre cada um.

Nota: 5,5

Bleed, Don’t Die (Brasil, Canadá): Um belo curta sobre a maneira como um trauma afeta a vida de duas irmãs. Ao longo do filme entendemos que a violência de gênero é maior que um acontecimento em comum no passado das duas, pois o roteiro nos apresenta um tempo elíptico em que o passado e o futuro são comuns as duas. Ambientado a maior parte em uma espécie de forte de cobertores no meio de uma floresta, temos um mundo inteiro produzindo sons na volta das duas, mesmo assim a câmera só se interessa pelas personagens que contra tudo que seria imaginado parecem mais confortáveis frente as lentes da diretora do que sobre qualquer outra coisa.

Nota: 8,5

Meta (Brasil): Abrindo com um plano espetacular (que é a imagem que está no cabeçalho desse post), o diretor trata de maneira irônica mas verdadeira sobre uma personagem que vive numa eterna busca pelo aperfeiçoamento pessoal, até uma inteligência artificial que é responsável por avaliar seu desempenho diz que a Evolução Pessoal dela ainda é muito baixa. São as imagens que às vezes criam humor e às vezes angústia (mesmo sendo as mesmas imagens repetidas) que destacam o bom trabalho do diretor, a luz muito clara cria certo desconforto e nos coloca em um ambiente distópico.

Nota: 9

Amor Irreal (Brasil): Esse filme borra os limites entre cinema e performance mostrando a violência entre um casal se tornar cortes explícitos e sangrentos que um faz no outro, tudo acompanhado de uma narração calma da protagonista. A criação de sentido através das imagens é realmente o que mais chama atenção e o que nos confronta e faz os personagens se confrontarem.

Nota: 8

Silêncio dos Homens (Brasil): É um frenético Body hoorror que nos seus 3 minutos mostra como a masculinidade afeta os homens. O visual simples e potente mostra um grupo de homens sentados com as bocas costuradas tentando se comunicar, sem corta temos tempo de ver cada um deles. O diretor sem dúvidas demonstra na obra os sentimentos reais sobre ser um homem no mundo e gostaria de ver ele explorando mais essa sua visão em outros filmes.

Nota: 7

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