Crítica | Turma da Mônica: Lições

ENGRAÇADO E sensível, “LIÇÕES” APRESENTA O QUE HÁ DE MELHOR NO CINEMA INFANTO-JUVENIL ATUAL COM OS PERSONAGENS E A HISTÓRIA IDEAIS PARA DIVERTIR E EMOCIONAR O PÚBLICO.

Se o primeiro filme, o ótimo “Laços” era baseado em aventuras infantis como “Os Goonies” (1985) e “Conte Comigo” (1986) a sequência “Lições” é uma história de coming of age que coloca os quatro amigos mais famosos do Brasil em conflito com suas próprias dificuldades e limitações. Embalado por um roteiro bastante redondo que emociona e diverte, o diretor Daniel Rezende mostra mais uma vez sua competência dando vida ao bairro do Limoeiro e seus tradicionais personagens na linguagem cinematográfica mas mantendo as personalidades que sempre conhecemos. As identidades de Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão são colocadas em questão depois de Mônica quebrar o braço ao tentar fugir da escola em um dos planos infalíveis de Cebolinha, a partir de uma sugestão da diretora do colégio que estudam os pais dos membros do quarteto decidem colocá-los em atividades extracurriculares que os façam lidar com dificuldades individuais: Cebolinha na fonoaudiologa, Cascão na aula de natação, Magali na aula de culinária e Mônica é trocada de escola para que ela passa fazer novos amigos. Os personagens passam por pequenas jornadas individuais e coletivas em que os problemas deles são testados durante o filme, essa estrutura de história episódica é fundamental para que a proposta de quatro protagonistas funcione, pois apesar da força deles estar em serem “A Turma da Mônica”, o filme é capaz de justificar a presença dos quatro na história.

A saída de Mônica da escola dos amigos causa repercussões que acompanhamos especialmente no 2º ato, Magali se sentindo sozinha e mais ansiosa passando a comer ainda mais que o normal, Cascão e Cebolinha entrando em conlito com o valentão Tonhão que até então tinha medo da líder da gangue, no outro lado, Mônica também tem dificuldade de se enturmar na nova escola e algumas outras crianças implicam com ela por ir para aula sempre com o Sansão. Eventualmente um dos alunos da escola rouba o coelhinho da Mônica, quando Cebolinha descobre o que aconteceu ele reune Magali e Cascão com um plano para resgatar Sansão e devolvê-lo a sua amiga. Além dos quatro protagonistas, vários personagens aparecem nas histórias individuais de cada um como Tia Nena, que dá aulas de culinária para Magali e a ajuda a controlar sua ansiedade, Do Contra que faz Cascão perceber que pode combater o medo de água, Humberto que escuta Cebolinha por tempo suficiente até ele entender o que tem que fazer para ajudar Mônica e Tina, Pipa, Rolo e Tonhão que conversam com Mônica e explicam sobre como nossas amizades evoluem quando vamos deixando a infância, mas que nunca precisamos deixar de ser um pouco criança. O filme começa e termina do mesmo jeito, com a turma encenando uma versão de “Romeu e Julieta”, na cena 1 eles estão ensaiando para apresentar no festival do bairro do Limoeiro, mas com muitas dificiculdades causadas pelos problemas que os personagens vão ter que lidar até o fim do filme, quando na cena final, eles apresentam uma versão da peça de Shakespeare e mostram que cresceram e mudaram desde o começo da história, mas o que não muda é a amizade e o amor que um sente pelo outro.

Baseado em graphic novel homônima “Lições” é uma história bastante desenvolvida sobre crescer, trazendo questões bastante honestas sobre o tema, que muitas crianças passam em algum momento, o momento de fazer novos amigos, de não dividir os mesmos interesses com as pessoas de sempre de entendermos nosso papel no mundo, de descobrirmos que não precisamos nos definir pelo que as pessoas esperam de nós e que amizade é muito mais que ver as mesmas pessoas todos dias, mas é sobre solidariedade e afeto, aliás, não só os quatro principais personagens demonstram isso, mas ao final todos que a turma fez durante o filme se juntam para ajudá-los a encenar seu “Romeu e Julieta” demonstrando que eles terem vivido suas aventuras individuais ao longo da trama os ajudou a fazer novos amigos e não substituir os antigos. O roteiro é bom por si só, mas sabe fazer um trabalho excelente ao se aproveitar do rico universo desenvolvido por Mauricio de Souza nos últimos 60 anos, as aparições de personagens secundários famosos como Marina, Dudu, Tina, Nimbus, Milena e Franjinho ajudando ativamente os protagonistas em suas jornadas é a prova disso, pois o público já possui conhecimento sobre as carecterísticas mais importantes dos personagens e isso economiza tempo para lidar com as tramas criadas e suas resoluções ao mesmo tempo esses personagens dão muita cor para o longa-metragem brilhando nos momentos em que aparecem. “Turma da Mônica: Lições” mostra que Daniel Rezende, a Globo e a produtora de Mauício de Souza entenderam o tom certo para essa saga de aventuras live-action da turminha mais famosa do Brasil no cinema, repetindo as melhores coisas do primeiro filme, mas sem se tornar repetitivo, apresentando um belo exemplar do gênero coming of age, mas sem tirar a identidade daquilo que faz Turma da Mônica ser um patrimônio tão querido na cultura brasileira.

8


Anterior
Anterior

Crítica | Ataque dos Cães

Próximo
Próximo

Crítica | O Piano