Crítica | Louca Obsessão
Quando um filme vai tão longe quanto seu personagem principal pode levá-lo, pode ser tanto um bom sinal como um bem ruim. No caso de "Louca Obsessão", ou de seu muito melhor nome original, "Misery", a primeira opção encaixa melhor.
Um dos livros mais prestigiados de Stephen King, "Misery" conta a história do escritor Paul Sheldon, que após sofrer um acidente e ficar seriamente machucado é encontrado por Anna Wilkes, uma fã obcecada por seu trabalho que o mantém refém em uma casa isolada do resto da cidade.
Várias coisas funcionam aqui, desde a cinematografia com cores frias, à ambientação dentro da cabana de Wilkes e à inteligente e enervante direção de Rob Reiner, sempre dando a entender que o pior está por acontecer e nunca deixando o filme previsível. O roteiro do excelente William Goldman funciona muito bem e traz da melhor forma a história do livro, guardando espaço para os twists necessários e, quando necessário, conseguindo aliviar o clima pesado provocado pelo enervante suspense, muito graças à excelente interpretação de Richard Farnsworth como o xerife Buster e sua relação com sua mulher, interpretada por Frances Sternhagen. James Caan também está muito bem como Paul Sheldon e funciona como uma extensão do espectador, apresentando a preocupação crescente do escritor com maestria. Por vezes ele interpreta dentro do próprio papel, é um excelente trabalho.
Mas tudo isso quase não interessa, pois o show aqui pertence inteiramente à Kathy Bates.
Sua interpretação vai além de sua presença em tela, pois junto à tensão criada pelo diretor, Anna Wilkes parece estar sempre por perto. Sua perturbação se torna visível logo nos primeiros momentos, mesmo que o fundo de suas intenções nunca fique exatamente claro, e a forma maníaca como ela realiza qualquer ação não te deixam mais assustado do que fascinado. É um trabalho excepcional, digo do Oscar de Melhor Atriz que lhe foi dado. Anna Wilkes é sem dúvidas um/a dos/as antagonistas mais assustadores e interessantes já criados.
"Misery" é um filme muito bem feito, construído, escrito e contém uma das melhores personificações de um vilão da história do cinema. Uma das melhores interpretações de Stephen King às telonas continua eficiente até hoje.
9