Crítica | A Outra História Americana
De quantas maneiras diferentes um filme pode te tocar? Muitas vezes, ele pode influenciar no nosso jeito de tratar as pessoas, por nos deixar felizes. Outras vezes, nos convencer a observar a vida com olhos mais sorridentes. Acreditar no amor, querer incessavelmente ser um Jedi ou ter super poderes.
Mas e se um filme tratar de maneira nua e crua sobre preconceito, mudanças e reflexões, algo que pensávamos ter superado, mas que as vezes parece tão cominador em pleno século 21? Existem vários longas que tratam sobre problemas reais, com histórias e personagens palpáveis e intensos. Filmes com uma capacidade exorbitante de repercutir internamente em qualquer pessoa. Temos como exemplos recentes ''Boyhood'' e ''Moonlight''. Outros exemplos, mais antigos são ''Beleza Americana'' e ''Réquiem''.
Mas e se ele conseguir mudar toda linha de pensamento de alguém?
American History X seria muito, mas muito oportuno se fosse lançado esse ano.
A intensidade e os vários e longos momentos de silêncio nos são oferecidos a toda hora e fazem questão de deixar pré estabelecida uma tensão amedrontadora em relação aos seus personagens, que não cessa mais em momento algum. ''Outra História Americana'' faz questão de lembrar que o ódio é muitas vezes um círculo sem fim, deixando claro que é através de inseguranças e por acreditar em algo mais grandioso que sua própria existência que esse tipo de pensamento retrógrado se desenvolve. E o filme faz isso sem medo.
Derek Vinyard (Edward Norton) é um homem assumidamente neo nazista e uma grande influência para basicamente todos os outros homens da facção que participa, inclusive seu irmão mais novo, Danny Vinyard (Edward Furlong). Após ir preso e retornar com visões e ideologias totalmente diferentes, transitamos pela cabeça da melhor atuação de Norton. Entre flashbacks e diálogos extremamente bem construídos, temos acesso a todas múltiplas camadas do personagem: de jovem prodígio a adolescente com crises pessoais a nazista, em um processo de amadurecimento difícil e arrastado, porém recompensador para Derek.
O principal, e talvez único problema do filme é a falta de persuasão na justificativa de alguns atos por seus personagens.
Alguns muito sucintos, outros pouco trabalhados. A direção e o roteiro deixam a pressa se sobrepor a história que estão contando.
De fato esse é um longa dominado por suas atuações e pela história que tem a contar. Não só Norton está espetacular mas também Furlong deu a atuação de sua vida, e Guy Torry, o trabalhador negro da prisão, nos presenteia com uma performance maravilhosa e tocante, então, inevitavelmente, outros quesitos técnicos acabam sendo ocultados - o que não os absolve de não manter o nível altíssimo do filme. A direção segura de Tony Kaye; a cinematografia, sutilmente sombria, trabalhando com o preto e branco durante flashbacks e brincando com as cores durante o filme, evocando um sentimento de insegurança indescritível em momentos que temos tons mais mórbidos. A trilha sonora da ótima Anne Dudley, que já havia ganho um Oscar no ano anterior, é perfeita em todos seus momentos.
A realidade é que a minha preferência era manter esse filme pra mim, assim como você vai querer guarda-lo com você, porque após 2 horas, com certeza foi ou será uma das experiências mais pessoais, impressionantes e intrigantes vividas através do cinema.
'Então.. Eu acho que é aqui que eu falo o que aprendi.. Minha conclusão, certo? Bem, minha conclusão é: O ódio é um peso. A vida é muito curta para estar brabo a todo momento. Apenas não vale a pena.'
'Derek diz que é sempre bom terminar um papel com uma citação.'