Crítica | Sophia chablau e uma enorme perda de tempo - autointitulado

O importante é reconhecer o belo E ousar expressá-lo


Há um momento na vida em que o excesso de linearidade nos atinge com a força de um tsunami. As idas são sempre iguais, e as vindas geralmente ocorrem pelo mesmo caminho. As mesmas sinaleiras, esquinas e curvas. A mesma cadeira, o mesmo teclado; os mesmos amores e as mesmas pessoas. É tudo extremamente automatizado.

Pra sobreviver é necessário se revestir de um otimismo que beira a ingenuidade. É preciso tentar algo de diferente, fazer a curva mais aberta, reparar na pessoa que está naquela mesma esquina, perdendo tempo buscando algo de novo no mesmo.


Quando temos esses lapsos de percepção do belo, percebemos também que eles passam num piscar de olhos. Não proporcionam histórias grandiosas e acontecem tão rápido quanto moças e aeromoças entram e deixam nossas vidas.

Justamente assim passaram-se os 22 minutos do álbum homônimo de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, na mesma intensidade que ocorrem esses encontros e desencontros abruptos durante nossa existência.

São 22 minutos de experimentação de sons, arranjos e estilos. De músicas que misturam inglês e português em sua letra guiada por acordes característicos da Bossa Nova (Hello), e músicas encharcadas por guitarras Shoegazistas que nos descarregam milhares de volts em Deus Lindo.

Nesse piscar de olhos, há espaço também pra dançar com o groove infeccioso - comandado pelo baixo pulsante - da multifacetada e divertida De Baixo do Pano, e também pra chorar com a voz angelical de Sophia em Se Você.

O coração palpita com essa mistura de sabores que nem sabemos explicar como dão certo. A entrada, o prato principal e a sobremesa são servidos de forma não convencional no mesmo recipiente, mas quando botamos tudo na mesma colher e provamos, a harmonia está lá, e de forma muito bem pensada, na verdade.


Voltamos á realidade com ímpeto de perder tempo. Sinceramente não sei medir a duração dessa sensação, pois as esquinas acabam sendo muitas, e esses momentos - que são lapsos, e não a regra, como já dito - se ofuscam na mesmice do cotidiano.

Ainda assim, há algo de genuinamente contagiante sobre a curiosidade como forma de viver e escrever de Sophia. Perder tempo é legal, reconhecer o Belo é importante, e se expressar é necessário.

8.5

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