Crítica | Os Pássaros de Massachusetts
Em linhas gerais, “Os Pássaros de Massachusetts”, do diretor Bruno de Oliveira capta a perambulação de três jovens perdidos durante dias nada memoráveis.
Essa falta de acontecimentos chave destaca a frieza da Porto Alegre invernal e traz um gosto de Nouvelle Vague.
Inicialmente somos apresentados a Michel, um estrangeiro que pede ajuda de Sofia para localizar um antigo cachorro quente que ficava pelas ruas de POA. Sem conseguir ajudar o homem que a parou abruptamente Sofia segue seu caminho também confuso, pois ela não consegue localizar a casa de seu amigo Bruno. Michel desperta certa curiosidade, pois se faz um personagem marcante e misterioso, porém ele desaparece sem conseguir finalizar seu objetivo. Durante o filme, volta e meia me peguei pensando se a cena seria gratuita, mas após finalizar o longa e entender o universo que Oliveira criou junto com a montagem posso dizer que de forma alguma há gratuidade aqui. Michel assim como Sofia, Bruno e Fernanda (protagonistas), procura se encontrar.
O objetivo aqui é acompanhar Sofia, Fernanda e Bruno vivendo. Assistimos eles tomando café da manhã, jogando videogame e fazendo carinho em seus animais de estimação enquanto a cidade de Porto Alegre se alimenta dessas rotinas. O mérito é criar uma Porto Alegre personagem que continua ativa enquanto as personagens andam por suas ruas. O que nos é entregue é um olhar contemplativo de um porto-alegrense retratando sua cidade natal.
Acredito que por esse motivo a direção de Bruno é tão minuciosa e escolhe planos longos que inicialmente são em maioria estáticos que evoluem para caminhadas pelas ruas onde a câmera precisa “correr” para não perder a personagem de quadro, isso dialoga diretamente com outro recurso muito utilizado durante as cenas: Em muitos momentos vemos os jovens saindo de quadro, deixando um vazio na tela quadrada. Tudo isso contribui para marcar a presença da cidade que está ali mesmo que os personagens não estejam.
Por outro lado, todos esses aspectos citados assim como impulsionam o filme, de certo modo, acabam prejudicando o andamento da narrativa. A construção em capítulos é interessante para apresentar os personagens separadamente enquanto acompanhamos os afazeres maçantes, porém essa construção gera expectativas de uma virada nessas rotinas após essas vidas se cruzarem, porém o filme não nos entrega isso. O que vemos são pequenos diálogos que não nos levam a muitos lugares e tão pouco criam laços. Com certeza esses aspectos contribuem para criação do ambiente contemplativo envolto em monotonia, porém é difícil ter empatia por personagens tão apáticos e toda contemplação em alguns momentos se torna cansativa.