Crítica | Space Jam: Um Novo Legado

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Mesmo que isso não acrescente nada ao legado esportivo dos dois, a comparação é inexorável, e na disputa de space jams “MJ” levou a melhor.

É engraçado pensar que não importa o que Lebron James faça dentro de quadra (e as vezes fora também), sua vida é ditada por parâmetros que Michael Jordan começou a estabelecer antes mesmo do atual maior astro do basquete saber escrever (Michael entrou na NBA no mesmo ano em que Lebron nasceu). Tendo isso em vista, se houvesse uma continuação, ou um remake extravagante (o que acontece aqui), o único sucessor de Jordan deveria ser James.

Levando isso em conta, é importante analisar brevemente os acontecimentos que precederam cada filme, percebendo as contradições entre a vida pessoal de ambos protagonistas e notando como isso acabou prejudicando o novo Space Jam, claramente produzido e lançado no momento errado.

Michael Jordan sempre foi uma pessoa reservada quando se trata de sua vida particular e um absoluto maníaco, literalmente falando, quando falamos de basquete. Em 1991 ganhou seu primeiro título da NBA e o movimento “Be Like Mike” ou “Ser Como Mike”, oriundo de uma propaganda da Gatorade, tomou conta dos Estados Unidos e de grande parte do mundo, tornando MJ a figura esportiva mais globalizada do momento, até, em 1994, ele anunciar sua aposentadoria para jogar Beisebol, depois de ter ganho as Olimpíadas em 1992. Todos queriam saber sobre o Mike aposentado ainda em seu auge, e a ideia proposta como problema no primeiro filme é instantaneamente provocativa: Será que Jordan ainda leva jeito pra coisa?

Já Lebron é eloquente em relação a tudo: política, vida privada e basquete. Conhecemos bem quem é LeBron Raymone James, tanto fora de quadra quanto dentro - e olha que ele está na ativa há mais de 18 anos. Contudo, ele não é indiscutivelmente o rosto mais popular dessa atual geração. Lebron está velho - conforme os padrões impostos para atletas de alto nível - e, por conseguinte, diferentemente de 1996, a história aqui não é propriamente sobre a grande estrela, e sim sobre um problema familiar que sabemos que não condiz com sua vida real, o que é automaticamente frustrante.

Nesta toada, o roteiro transforma rapidamente uma das figuras mais carismáticas da atualidade e um protagonista não gostável (não é como se Lebron fosse um grande ator, mas como vi o filme dublado, vou evitar de tecer críticas às performances). Além disso, numa clara demonstração de desespero em querer criar uma nova identidade visual emancipada de seu predecessor, abandona tudo que funcionou há 25 anos atrás, narrativamente falando, para se tornar um exibição estética gritante e incomodativa, além de subaproveitada, pois em momento nenhum nos da indícios que toda complexidade apresentada será aprofundada. É uma amostra auto bajuladora da Warner, tentando dizer para seu público “Olha só, somos criadores de Harry Potter e de Game Of Thrones, então você vai gostar disso também”.

Como se não fosse suficiente, Don Cheadle é um antagonista ruim. Não há muito que desenvolver sobre ele, pois é tão superficial quanto o algoritmo do Orkut (não que eu entenda algo de algoritmos). O que em 1996 eram outros monstrinhos previamente escravizados, fascinados com suas novas habilidades adquiridas de outras estrelas do basquete próximas a Jordan (a vida dos jogadores após perderem seus talentos é outro aspecto fascinante de se acompanhar no primeiro filme), aqui é apenas um computador rejeitado e nada atrativo. Importante salientar que a motivação de Jordan para ganhar o jogo do século era palpável: recuperar o talento de seus amigos mencionados. Já em Um Novo Legado, inexplicavelmente o roteiro não só se acomoda com o conveniente, mas torna mais tristemente preguiçoso, tornando o inconcebível realidade: Se Lebron não ganhar o jogo de seu filho, milhares de pessoas - algumas conhecidas, a maioria esmagadora não - que foram sugadas (?) para dentro da tecnologia ficariam presas para sempre lá. A esse ponto eu só rezava para que algum milagre esportivo acontecesse.

Tal fenômeno quase aconteceu quando Michael B Jordan apareceu em tela, concebendo a possibilidade de ser o Bill Murray dessa geração. Não aconteceu. Sobrou então para os Looneys, que são a melhor coisa do filme. O poder da nostalgia ajuda, mas rever características tão antigas e duradouras de personagens tão marcantes, misturados com diversas referências da Cultura Pop atual, criaram alguns momentos incríveis, mesmo que a opção pela transformação dos Cartoons de 2D para 3D no clímax da história seja desanimador e um maquinismo meramente expositivo.

Porém, isso não atenua todos os erros que o filme possui, e no basquete isso é lei. Acertos não se sobrepõe à erros, que se somam de maneira excruciante, como em nenhum outro esporte, e te derrotam sem você perceber. Space Jam 1 faz jus a Michael Jordan, já Space Jam: Um Novo Legado subaproveita não condiz nem um pouco com a grandeza de Lebron James. Fazê-lo coadjuvante e distorcer sua própria história, evitando que seu magnetismo natural espontaneamente pudesse sustentar o filme, foi como errar uma bandeja, que é o fundamento mais básico do jogo .

Ainda espero que, para crianças, a história consiga semear amor por esse esporte que é uma das minhas paixões.

3,5

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