Crítica | Lightyear

DEPOIS DE UMA BRILHANTE SEQUÊNCIA DE FILMES ORIGINAIS, A PIXAR VOLTA A CAIR A TENTAÇÃO DOS SPIN-OFFS QUE NINGUÉM LIGA E DECEPCIONA, DE NOVO.

Na abertura de “Lightyear” um letreiro nos conta que o filme que vamos assistir é o mesmo que fez Andy virar fã do boneco quando era criança. Eu duvido, “Lightyear” apresenta tão poucos sentimentos reais que é difícil acreditar que uma criança, ou qualquer pessoa, se conectaria profundamente com ele.

Isso porque, apesar de momentos divertidos, não tem uma história envolvente o suficiente para ser lembrada. “Lightyear” conta a história do Capitão Buzz Lightyear, impulsivo piloto da comando estelar que com sua parceira, a comandante Alisha, exploram planetas (por algum motivo), ao aterrissarem em um lugar hostil e sua nave estragar, presos lá eles e toda a imensa população passam a habitar o planeta enquanto Buzz tenta achar um jeito de sair. Com uma estrutura bastante episódica, o filme tenta contar uma história sobre viver no momento ou aproveitar a vida.

A história é uma típica de ficção científica, presos no planeta, os membros da tropa estelar o transformam na sua casa e Buzz faz voos testes com o motor que pode tirá-los de lá. O problema é que a cada voo que ele realiza em hiper velocidade décadas passam na superfície do planeta, mas para ele foram apenas alguns segundos. A cada novo fracasso do personagem em cumprir sua missão seus colegas envelhecem consideravelmente e vivem suas vidas normalmente. Quando ele finalmente consegue retorna para o planeta para encontrar uma guerra acontecendo, um exército de robôs cercou a cidade construída, caçando os habitantes, nesse cenário de devastação, ele conhece uma tripulação que ficou presa fora do domo de proteção formada por Izzy, neta de Alisha, Mo e Darby, juntos eles precisam parar Zurg e ajudar a colônia a voltar para casa.

Na tradição Pixar esse é o primeiro filme de Angus MacLane (terceiro estreante seguido a lançar um longa com o estúdio) que já trabalha lá desde os anos 90 e é membro do time criativo sênior, ele também assina o roteiro (também seu primeiro), no caso de “Lightyear” parece que ele não soube usar muito bem o manual de roteiro da Pixar, a começar que é muito difícil gostar de algum personagem de verdade, conhecemos Buzz já agindo e suas ações nem sempre são bem justificadas. Na primeira parte a relação entre ele e sua amiga Alisha são o centro emocional, na segunda a ideia é que possamos depositar em Izzy essa dinâmica que carrega a história subjetivamente, mas como o filme faz questão de apontar: elas não são a mesma pessoa.

O roteiro do início ao fim apresenta problemas episódicos para o protagonista, deixando claro que a sua missão é secundária, a cada cena ele tem um objetivo pontual diferente que depois de superado abre caminho para mais um problema e assim por diante. Os últimos três filmes da pixar (“Soul”, “Luca” e “Red”), todos excelentes, foram lançados diretamente no streaming, porém entre eles “Lightyear” é o que mais parece TV ao invés de cinema, sua história tem mais de um momento em que problemas são apresentados e resolvidos imediatamente, como a sequência dos insetos gigantes no meio, ou o medo de Izzy de voar. A moral do filme vem muito rápido e a gente passa mais de uma hora vendo Buzz aprender a mesma lição várias vezes, sem nada da sensibilidade que os filmes do estúdio em criar uma dialética entre a tese do roteiro e seus personagens. Por isso, “Lightyear” parece vários filmes (várias vezes a mesma moral é contada) e não uma obra só.

Apesar de alguns momentos divertidos e que certamente farão sucesso com o público (como todas cenas com o gato mecânico Sox), “Lightyear” deixa a desejar em mais de um elemento e dá impressão de muita insegurança em tentar usar um personagem muito querido pelo público, trocar a dublagem dele não colabora nem um pouco (no Brasil, Marcos Mion substituiu Guilherme Briggs e fez um trabalho abaixo do desejável). O fim de uma das melhores sequências da Pixar veio com “Lightyear”, pensado para ser um blockbuster mas que talvez não consiga nem status de sucesso com o público por suas inseguranças que o tornam previsível e burocrático e muito menos repetir a quente recepção da crítica que seus antecessores tiveram.

4,5

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