Crítica | Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

NEM ANIMAL, NEM FANTÁSTICO

No terceiro filme da franquia “Animais Fantásticos”, temos a prova concreta de que efeitos especiais e bons atores não conseguem salvar uma história ruim


Sabemos que o universo criado por Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada tem sido um sucesso há décadas tanto na literatura quanto no audiovisual. Mesmo a franquia mais recente não sendo nem de longe tão popular quanto sua obra-mãe, isso não a tornou um fracasso. Os primeiros dois filmes faturaram, juntos, mais de um bilhão de dólares em bilheterias, mesmo que "Os Crimes de Grindewald" tenham recebido a brilhante pontuação de 36% no Rotten Tomatoes. Mas o terceiro filme felizmente é melhor que seu predecessor e o melhor de tudo: constrói uma narrativa que poderia facilmente encerrar a saga e nos poupar de mais roteiros sofríveis por parte da criadora do universo mágico.

A obra traz um desfecho dos ganchos deixados pelo filme anterior, entregando respostas às perguntas feitas e, aparentemente, encerrando o conflito entre Dumbledore e Grindewald. E com a recente notícia de que as falas do filme que faziam referência à relação afetivo-sexual entre ambos, é difícil não comentar sobre o "casal". Com Mads Mikkelsen substituindo Johnny Depp no papel de Gellert Grindewald, a química entre o personagem e o jovem Dumbledore de Jude Law é digna somente dos casais de reality show da TV aberta. No entanto, o novo ator traz uma performance muito mais refinada e cruel do bruxo das trevas. O Grindewald de Mikkelsen é mais maquiavélico, mais manipulador e mais emocionalmente frio, superando a caricatura cansativa que Depp sempre entrega na maioria dos papéis em que atua.

Para enfrentar um vilão tão implacável, Dumbledore rouba uma página das táticas de guerra de Nick Fury e reúne um time peculiar, juntando heróis com forças e fraquezas diferentes e complementares para defender o mundo. Newt e seu irmão Teseu, o trouxa Jacob Kowalski, a assistente de Newt, Yusuf Kama, cuja participação foi tão pífia que se tornou-se quase esquecível e, a melhor adição ao elenco até então, a professora Lally Hicks são incumbidos de partirem numa missão para impedir que o inimigo seja eleito através das linhas tortas da democracia vigente.

A missão em si parece um grande heist com um desfecho previsível. No entanto, as batalhas entre ambos os lados rendem cenas de luta interessantes, bem coreografadas e com efeitos especiais que ajudam a entrar na atmosfera sombria de um momento político delicado. Não que isso não existisse na franquia "Harry Potter", mas agora não vemos crianças e adolescentes aprendendo a usar seus poderes mágicos, vemos bruxos adultos com ideais políticos dispostos a lutar até a morte, o que é legal e levemente assustador de assistir. Quanto se trata do suposto segredo de Dumbledore, a resposta é anticlimática e não traz nenhuma informação nova que potterheads de carteirinha já não saibam. E a relação da família com Credence, que é revelado ser parte dela no último filme, é tão fraca que essa trama se resolve em uma única cena.

O maior acerto da obra certamente foi ter chamado Steve Kloves, roteirista de todos os filmes da saga "Harry Potter" exceto o quinto, para escrever o roteiro de "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore". É nítida a melhora da qualidade narrativa em relação aos roteiros escritos somente pela criadora da saga para os filmes anteriores. No entanto, a franquia atual não consegue entregar o mesmo tipo de magia avassaladora que cativou multidões de fãs mundo afora durante mais de uma década. Talvez pelas constantes polêmicas envolvendo a criadora, talvez pelos diversos casos criminais contra parte do elenco ou talvez os dias de glória do mundo mágico tenham se acabado, deixando de herança aos fãs uma trilogia que além de não se sustentar por si só, também não consegue brilhar.

"Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" é mediano, incapaz de prender o espectador com sua narrativa e dá indícios de que, com sorte (ou azar, depende do ponto de vista), será também o último filme da saga.

3.5

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