Crítica | Meu Professor Polvo
Eis que estava em casa, fazendo qualquer coisa, quando vejo minha mãe assistindo este documentário de Pipa Ehrlich e James Reed, sobre o biólogo Craig Foster e como este documenta sua relação com um polvo - ou melhor, uma polvo - durante o curto ano de vida da criatura. E quem diria que no mesmo dia que assisti “Godzilla” (o original), que fala sobre nossa total incompreensão de outras formas de vida mesmo que seja nosso comportamento que as tornem nocivas, teria minha fé resgatada na beleza e pureza da natureza.
Inclusive, acredito que o doc tenha uma relação tão intrínseca com a arte que acabe revertendo-a para onde veio, da própria natureza. Pois nossos conceitos de belo, ou melhor, nossos conceitos sobre tudo partem do lento processo de evolução que tivemos, de quando o que tínhamos a nosso dispor era apenas aquilo a nossa volta, e conforme aprendemos a nos expressar com linguagem e começamos a compreender e, claro, conquistar todo o mundo que então nos era desconhecido, reproduzimos em nossas formas de expressão, nossa cultura, estes mesmos valores que, por sua vez, também passaram por anos de evolução. Não à toa, nossa brincadeira favorita envolve um objeto redondo que, por que não, representa uma versão maior que um dia cultuamos por nos trazer calor e luz e, até hoje, não pudemos tomar para nós.
Mas se faço parecer que “Meu Professor Polvo” traz questões filosóficas a este nível… é porque em mim, o fez. Ao longo dos curtos 85 minutos assistimos nada mais do que a vida de uma criatura que, pelo que li e ouvi, é o mais próximo que temos de inteligência alienígena na Terra. E por mais que Ehrlich e Reed utilizem de elementos cinematográficos eficazes - a fotografia embaixo da água ressalta a beleza natural da floresta de algas, e o uso de câmeras lenta em certos momentos provoca um efeito emocional gigantesco -, sinto como se nossa janela para aquele mundo fosse além até mesmo do que o Cinema pode proporcionar.
Apenas assistir a relação daquele homem e daquele animal, conhecido por ser anti-social e passar a vida sozinho, foi algo que me fez contemplar o milagre que é tudo que temos aqui, como cada ser que já passou pela Terra teve sua própria história. Em certo momento (spoilers moderados a frente) vemos o pequeno animal brincando com um cardume de peixes e, instantes depois, ela espontaneamente abraça Foster por vários segundos. É um momento tão puro, tão inexplicável quanto à tudo que representa, que estou chorando enquanto escrevo este parágrafo.
Ele jamais à deu comida, não à protegeu de tubarões, não interferiu no curso da natureza, tudo que fez foi ficar ali até que ela se acostumasse com sua presença o suficiente para esticar um de seus tentáculos para tocá-lo, assim como, olhem só, o próprio E.T.. E se no clássico de Spielberg ele o faz para curar, é possível dizer que a pequena polvo também, não só seu novo amigo que redescobriu sua vida graças à relação com a criatura - e por mais que Foster não seja exatamente carismático, ver a quantidade de emoções que expressa enquanto relembra aqueles momentos é algo comovente -, mas nós próprios. Ao menos para mim, após um ano de pandemia, foi uma injeção de esperança e, quem diria, admiração por essa esfera gigante onde vivo.