Crítica | SZA - CTRL
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"CTRL" é um tour de force. O álbum de estreia de SZA é uma profunda e dedicada dissertação sobre o papel da mulher nas relações de amor modernas, que ao mesmo tempo excede e desafia os limites do R&B, além de mostrar a vulnerabilidade de sua estrela de estar no exato ponto entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta.
Fazia tempo desde uma estreia tão consistente e impactante no R&B como o primeiro álbum de SZA. Enquanto ela já havia feito seu nome vir a público por ser a primeira mulher e artista do gênero a ser contratada pela gravadora independente TDE (mesma de um tal Kendrick Lamar, talvez você conheça), seus três EPs até então, apesar de bem recebidos pela crítica, não atingiram um sucesso que justificasse qualquer hype para "CTRL". Aqui, como o nome sugere, ela reclama controle de sua vida talvez pela primeira vez, apenas para nos mostrar o quão insegura ainda é a menina dentro de si e o quanto a confiante mulher que cresce a cada dia tenta se estabelecer.
É justamente essa dicotomia, este misto entre insegurança e confiança que torna o álbum tão leve e divertido mesmo que seus temas sejam explorados sem pudores. Durante os compactos 49 minutos do álbum, SZA utiliza de suas próprias experiências para falar sobre as complexidades dos relacionamentos modernos. Sexo, amor, desejo, inveja, auto-aceitação, a influência da sociedade e de suas mídias em cada um desses temas. O tom é profundo e confessional, o nível de relação entre as letras de distintas faixas prova isso, validando cada história e sendo totalmente centrado em torno de sua estrela que, apesar de ser introspectivo conceitualmente, se faz extremamente convidativo e apelativo para qualquer pessoa que queira se aventurar.
A produção tem papel essencial nisso, se utilizando de influências claras dos artistas R&B mais bem sucedidos dessa década. The Weeknd, Drake, Frank Ocean, além do trap e indie fazem deste um dos álbuns mainstream mais experimentais de 2017, um misto de R&B, neo soul e pop que, além de estar em ótima sintonia com os temas abordados, funciona de forma orgânica com a voz de SZA. A cada faixa ela passa todas as dúvidas e incertezas que têm, mas de forma tão convincente e madura que por vezes apenas ouvi-la cantar já seria o suficiente. Soa como muitas grandes cantoras do jazz, mas com uma acidez e provocatividade que apenas a loucura do século 21 pode proporcionar.
Os destaques aqui são muitos e, apesar de que acabem se concentrando demais na primeira metade, uma das melhores em qualquer álbum de 2017, tem um impacto que vai além de seu tempo de duração.
"Supermodel" é uma abertura ousada e climática apesar da simples produção (praticamente centrada em torno de cordas de guitarra solitárias). A excepcional "Love Galore" empresta um pouco do tropicalismo de algumas faixas de Drake e um excelente verso de Travis Scott, mas se torna o auge do álbum graças aos vocais arrebatadores de SZA. Kendrick vêm bem na drogada "Doves In The Wind", mas é a forma como ela pronuncia uma certa palavra que rouba a cena. "Drew Barrymore" e a maravilha pop "Prom" são tão efetivas como qualquer single possa ser e "The Weeknd" poderia muito bem ser revolucionária por ter SZA aceitando ser a "outra" nos finais de semana.
Talvez justamente por ter essa sombra da excelente primeira metade, a segunda parte de "CTRL" acaba se tornando definitivamente menos interessante. "Go Gina" ainda tem um flow contagiante, mas "Garden (Say It Like Dat)" falha em ser apelativa como outras faixas do álbum. "Broken Clocks" se tornou um de seus maiores sucessos, mas sua fórmula é um tanto genérica, se apoiando demais nas batidas trap. "Anything" é rasa e travada e, enquanto "Pretty Birds" explora o crescimento de SZA como pessoa de forma metafórica, não consegue se destacar sonoramente. "Normal Girl" é facilmente o melhor momento dessa segunda metade, com uma mistura de vocais de SZA que vão desde rimas à um culminante refrão, onde ela se lamenta por não ser uma menina normal.
Em uma era onde artistas afro-americanos tentam fazer de sua música uma forma de protesto e revolução da sociedade racista onde vivem, SZA consegue fazer de seu álbum de estreia uma mensagem de que o papel de uma mulher negra na música não precisa ficar enraizado em qualquer tipo de imagem pré-determinada. Aqui ela nos lembra que música é universal, não tem cor, sexo, gênero ou qualquer preconceito, ao contar diversas de suas muitas histórias e as fazendo ser relacionáveis com qualquer pessoa que algum dia já esteve em algum relacionamento.