Crítica | The Rain (1ª Temporada)
Não é ao acaso que obras estrangeiras (aquelas que não são norte-americanas) estão fazendo sucesso no serviço de streaming Netflix. Bons exemplos deste subgênero de séries são: a espanhola La Casa de Papel, a alemã Dark e a brasileira 3%. E pelo visto, há mais uma querendo trilhar este mesmo caminho.
The Rain é a primeira série dinamarquesa que carrega o selo de “original Netflix”. O seriado estreou no serviço de streaming no dia 4 de maio de 2018 e conta com oito episódios em sua primeira temporada.
Criada por Jannik Tai Mosholt e Esben Toft Jacobsen e produzida por Christian Potalivo, o enredo traz uma realidade pós-apocalíptica em que quase todos os humanos da Escandinávia foram mortos infectados por um vírus que se transmitiu através da chuva. A história começa com os irmãos Simone e Rasmus, que ficam durante seis anos enclausurados dentro de um bunker. Quando resolvem sair, eles se deparam com o que restou da sociedade se matando por comida e abrigo da chuva.
Criar uma história de ficção científica que se passa após um evento de grande devastação pode parecer fácil, tanto que se vê muitas obras cinematográficas levando a mesma ideia para as telonas. O complicado é justamente fugir da normalidade, ou seja, destoar daquilo que já foi feito.
Pode-se afirmar que The Rain tem suas próprias especificidades, mas nem tudo flui como o desejado. Um grande exemplo disso é ao utilizar de um elemento até então esquecido por outras obras do gênero: a água.
É uma estratégia genial. Colocar as personagens a todo o momento em contato com a água faz elevar o suspense sentido pelo espectador. Isso vai desde o episódio piloto, com o temporal que transmitiu o vírus e acabou matando boa parte da população, até em momentos de pequena escala em episódios sucessores, como pingos de chuva vindos de uma pequena goteira no teto de uma casa abandonada.
Por outro lado, os produtores e roteiristas parecem não ligar muito para o exagero. Por estar tão presente, algumas vezes a água não se torna tão ameaçadora. Há momentos de descontração em cada episódio da série, nos quais a trama se direciona para cenas mais leves e, como está ali, a utilização da água segue o mesmo rumo.
Algumas situações de conveniência forçada deixam a desejar, mas não podem ser consideradas como um grande erro na trama. A série foca em mexer com os sentimentos de angustia, anseio e curiosidade do espectador.
A caracterização das personagens é um dos pontos fortes da série. Com exceção da protagonista Simone (Alba August), todas seguem uma interpretação recheada de camadas e complexidades. Tanto que o seriado coloca como destaque um por episódio, contando sua história antes da devastação da infecção, através de flashbacks.
As interpretações mais proeminentes são as de Lucas Lynggaard Tønnesen, Mikkel Følsgaard, Angela Bundalovic e Lukas Løkken como Rasmus Anderson, Martin, Beatrice e Patrick, respectivamente, com ênfase neste último.
A personagem de Løkken parece ser inspirada nos antigos badboys e valentões. Ora faz o que for necessário para se safar e ora chega a chorar por seus amigos, vide um anti-herói.
A cronologia apresentada é bem coesa, apesar dos flashbacks presentes em toda temporada. As personagens e os instrumentos são de fácil familiarização para o público, podendo uma criança assistir que entenderia, apesar de não ser recomendada para menores de 16 anos.
Separando por episódios, a série traz alguns melhores do que outros, com destaque para os 4, 5 e 6. Contudo, o piloto, que em tese deveria prender a atenção para os demais, está abaixo do esperado.
Porém, quem insistir vai encontrar mais uma boa série estrangeira. Com personagens cativantes, uma história entendível e que vai mexer com sua cabeça.
Há episódios que revivem o espírito de detetive do espectador, e isso é bom. O 5º, por exemplo, mostra uma espécie de mansão "mal-assombrada", com moradores que cultuam um novo tipo de religião pós-apocalíptica, o que faz com que a todo instante se queira descobrir do que realmente se trata tudo aquilo.
The Rain é uma bela série de ficção científica e uma bela série dinamarquesa, que explora seu espaço geográfico. Não deixa muitas dúvidas na cabeça do público, mas a questão da sobrevivência do grupo, que permanece unido no final (apesar de algumas baixas) instiga os mais adeptos a este tipo de entretenimento. O que levou a Netflix a renová-la para uma segunda temporada que estreia em 2019.