Crítica | Eu, Tonya

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Influências negativas e relacionamentos tóxicos acabam gerando escolhas erradas. Mudam uma vida, como mudaram a da patinadora Tonya Harding em um dos escândalos mais polêmicos da história do esporte. Ela, a primeira americana a realizar um ''Axel Triplo'' (manobra quase impossível de ser feita) em uma competição não marcou seu legado por seu talento, mas sim por estar envolvida em uma ataque contra Nancy Kerrigan, outra patinadora olímpica americana, motivo pelo qual seus nativos, e o mundo, amaram odiá-la.

Mas isso não é um artigo esportivo. O filme, todo baseado em fatos reais, procura contar sua história de uma maneira diferente do que seria a convencional. Há o gosto de Pseudodocumentário aqui, afinal se trata de uma história verídica e o diretor, com uma edição brilhante, trabalha com diversos pontos de vista para contá-la, com diversas quebras indiretas da quarta parede, aproximando os personagens do público de forma narrativamente tendenciosa. É hilário o fato de cada personagem expor a sua verdade sem nenhum senso crítico de suas atitudes, e não haver uma verdade absoluta na história de Tonya Harding te faz repensar que talvez a posição que a patinadora estivesse não fosse a melhor para tomar decisões.

Novamente, a direção aqui que é sensacional.  Craig Gillespie usa e abusa de cortes rápidos e precisos para contar a história de Tonya dentro e fora das arenas de patinação, deixando o filme dinâmico e excêntrico.

O longa se arrisca ao inserir um tom burlesco à sua história. Propriamente um drama sobre a vida da patinadora, a linha tênue entre alívio cômico e estragar algumas cenas com maior carga emocional existe, mas o fato é que de tão excepcionais e palpáveis que são as interpretações, em conjunto com o trabalho de escrita de Steven Rogers, esse contraste acaba por deixar a história mais engajante.

 E falando em interpretações, finalmente temos a prova de toda capacidade de Margot Robbie. A atriz, que sempre demonstrou potencial para ser uma grande protagonista, desabrocha aqui, finalmente recebendo um papel compatível com todo seu talento.

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Toda fraqueza emocional e insegurança, em atrito com a brutalidade e inquietação por saber que somente seu talento não bastava para se encaixar no mundo da patinação, é crível graças a melhor Margot Robbie que já presenciamos. Sebastian Stan está ótimo como Jeff Gillooly. É tóxico, abusivo e louco por ela, se utilizando a toda hora da vulnerabilidade de sua esposa. Mas quem rouba a cena aqui são dois coadjuvantes. Allison Janney faz o papel da mãe de Tonya e é a negatividade em pessoa. De todas pessoas que estragaram a carreira esportiva de Harding a principal foi sua mãe. Maligna, lesiva e inexplicavelmente engraçada, não há como não vê-la sem o Oscar de atriz Coadjuvante na mão. Já Paul Walter Hauser é provavelmente o personagem mais odiável do ano. É questionável uma pessoa tão estúpida existir, e parabéns ao ator por representá-lo com extrema fidelidade.

"I, Tonya" é um filme sobre Tonya Harding, mas não inteiramente para ela. Mostra a história de uma mulher odiada por muito tempo sob olhos empáticos e compreensíveis, mas que nunca induz o espectador a sentir pena da ex-atleta. Você vai sair do cinema sabendo que a patinadora não era flor que se cheire ao mesmo tempo que algumas injustiças e escolhas erradas que estragaram sua carreira vão martelar na sua cabeça. A história de Tonya tomou conta do mundo em 1994. A verdade de Tonya tomará conta da sua cabeça em 2018.

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