Crítica | Relatos do Mundo

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Temporada de Oscar é sinônimo de Tom Hanks.

Um dos atores mais queridos pela cerimônia, indústria e por todo o mundo, basta colocá-lo em um filme pseudo-dramático sobre eventos reais que é garantia de especulação em todos os prêmios. Seu carisma é tanto, que acredito que a maioria destes filmes (“Ponte de Espiões”, “Capitão Phillips”, “Sully”, pra citar os recentes) só funciona por causa dele, em algo que poderia tranquilamente chamar de “a fórmula Tom Hanks”. Novo filme de Paul Greengrass, “Relatos do Mundo”, se encaixa perfeitamente nessa linha.

Baseado no livro de mesmo nome de Paulette Jiles, o longa se passa em 1870 e acompanha o Capitão Jefferson Kidd, que ganha a vida lendo notícias do mundo (daqui o nome) para pessoas analfabetas de cidade em cidade dos EUA, mas ao encontrar uma menina nativo-americana perdida decide levá-la de volta para seu povo.

Este é o tipo de filme para você ver com toda a família. Suportável o suficiente para as crianças, e com o fator Tom Hanks para conquistar mães, pais e avós, o maior acerto de Greengrass é conseguir construir a relação de Kidd e da jovem Johanna de maneira sincera e calorosa, mesmo que os dois não falem a mesma língua. Carregadas por Hanks do ponto de vista dramático, mas abrilhantadas pela naturalidade da jovem, e promissora, Helena Zengel, as cenas são o ponto alto do filme, desde como eles ensinam ao outro palavras em seu idioma, a como ele percebe no olhar da menina que ela trouxe de volta memórias que seria melhor esquecer.

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Com um design de produção eficaz e auxiliado pela fotografia com uma paleta amarelo/achocolatada de Dariusz Wolski, a recriação de época funciona, sendo que desde as locações precárias, ao chão barrento, à utensílios e móveis soam antigos e desgastados, assim como o estado de boa parte daquelas pessoas de classes desprovidas, todas com uma maquiagem que mistura sujeira, suor e a falta de água limpa (o que acaba contrastando com os dentes BRILHANTES de Hanks). Porém, ao comparar este com o excelente “First Cow”, que também deve aparecer no Oscar, Greengrass é consideravelmente inferior em nos imergir naquela época, algo que atribuo à tendencia do diretor de filmar tudo com a câmera tremida e com planos médios/fechados que não conversam com o tom da narrativa, limitando o impacto que as locações, sejam cidades ou desertos, possam causar, de modo que quando vemos uma paisagem aberta chega a ser uma espécie de choque de forma, quase que pertencente a outro filme.

A trilha de James Newton Howard chega a ser óbvia, apostando em acordes crescentes nos momentos de maior emoção que conferem uma importância que aquela pequena história não tem de verdade. Este, sendo meu maior problema com “Relatos do Mundo”, pois além de ter um roteiro reciclado (que lembra muito “Bravura Indômita”), Greengrass não consegue desenvolver praticamente nenhum dos temas que propõe, os apresentando durante a narrativa, mas jamais se aprofundando. Sim, era uma época desigual, sim os mais ricos controlam as notícias que os mais pobres recebem, sim os Estados Unidos foi construído ao dizimar as tribos nativas, mas isso tudo parece pequeno perto da dinâmica Road Movie adotada pelo filme. Inclusive, sua cena final pode soar quase que de mal gosto, com a menina aceitando sua nova identidade como uma cidadã (de bem?) norte-americana.

O que mais me chamou atenção aqui, no entanto, foi o elemento que deveria ser o central de um filme com este nome, pois ver as pessoas maravilhadas com Hanks contando para elas notícias como se fossem histórias é algo que chega a ser comovente por pensarmos que, não muito tempo atrás, vivíamos em completa desconexão com o resto do mundo. Mais uma vez, gostaria que Greengrass tivesse mostrado mais disso e menos de eventos como aquele onde Hanks duela contra três bandidos (que é bem filmado e até um pouco tenso, mas claramente está lá para mostrar que o ator ainda está “em forma”).

Mas no fim, as intenções de “Relatos do Mundo” são claras. Um filme de Tom Hanks para conquistar os velhacos que votam nos prêmios da indústria e que pode, no processo, aquecer o seu coração. É o tipo de filme que minha mãe amaria (ela ama o Tom Hanks!), que eu gosto, mas dificilmente pensarei ou assistirei novamente.

6.4

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