Crítica | Para todos os garotos: P.S. Ainda Amo Você

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Em 2018, em meio a lançamentos bombásticos como “Roma”, “A Balada de Buster Scruggs”, “Cam” e “Birdbox”, a Netflix surpreende o mundo com uma excelente comédia romântica: “Para Todos os Garotos que já Amei”

Adaptado do livro homônimo, de Jenny Han, um sucesso juvenil. Dirigido por Susan Johnson e estrelando Lana Condor e Noah Centineo, três estrelas em ascensão, o filme chamou atenção por roteiro e direção serem bastante elaborados, com jogos técnicos no desing de produção, criatividade cinematográfica e boas atuações. Não havia de ser diferente, sua sequência de 2020 era aguardada por muitos, apesar de desnecessária, um filme tão bem feito parecia que teria muito mais a dar. Infelizmente a sequência não teve a mesma qualidade do trabalho, resultado da troca de direção, Susan Johnson foi substituída pelo excelente diretor de fotografia (aparentemente não tão bom diretor), Michael Fimongari. O ditado “não se mexe em time que ganha” nesse caso foi mal interpretado, pois o diretor apenas apostou em ressaltar aspectos celebrados no primeiro, sem acrescentar novidades. Se o antecessor foi elogiado pela direção de arte e figurino terem sido usados para contar a história de Lara Jean, a sequência transforma todos quadros em cores primárias excessivas que tornam o jogo muito óbvio, se o fato de ser uma homenagem a obra oitentista de John Hughes, agora a cada cinco minutos é tocada uma música clássica dos anos 1980 em releitura atual.

Parece que o diretor não percebe que o filme “Para todos garotos que já amei” foi elogiado especialmente por sua criatividade.

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“P.S: Ainda Amo Você” é uma sequência natural da história do primeiro, o desenrolar dos problemas surgidos após a irmã mais nova de Lara Jean, Kitty (a interpretação de Anna Cathcart nesse papel segue sendo encantadora) manda cartas de amor que sua irmã escreveu para os destinatários devidos. No primeiro filme conhecemos três deles: Lucas (Trezzo Mahoro) que retorna para o papel, Josh (Israel Broussard) crush original da protagonista que inexplicavelmente some no novo filme e claro, Peter Kravinsky, namorado de Lara Jean. Esses são três dos cinco destinatários, no começo do filme novo, uma carta recebe resposta, John Ambrose (Jordan Fisher) retorna para a vida dos personagens e causa dúvidas na inexperiente Lara Jean que tem dúvidas sobre namorar Peter, uma vez que ele segue amigo de sua ex-namorada, e também ex-amiga/inimiga de Lara Jean,  Genevive (Emilija Baranac). O triângulo amoroso entra em ação quando Lara e John acabam sendo voluntários em um lar de idosos, o que reacende a chama dos dois, piora pois John é “patético de um jeito legal”, assim como Lara, ao contrário do seu namorado, um atleta bonitoso que todas colegas de escola são apaixonadas. 

Um problema sério do filme é o ritmo, ao entrar no terceiro temos a sensação de que a história ainda está começando, pois os dois primeiros terços são pouco objetivos, dão a sensação que não querem arriscar o carinho que sentimos pelos personagens e nenhum vai longe o suficiente para fazer uma ação que mude o rumo da história. Parte disso é pela qualidade do primeiro filme, claro, a conexão que criamos com os personagens é literalmente cara para Netflix, então um roteiro que arrisque quebrar isso pode custar dinheiro. Então, na última meia-hora quando o filme começa a andar, há uma desconexão, parece que seus 100 minutos são mal distribuídos, os acidentes excitantes e plot twists não sustentam a narrativa como deveriam, pois foram colocados de forma a segurar os personagens e não dar ação para eles.

A mensagem, por sua vez, é excelente, mesmo mal executada. A transformação de Lara Jean para superar os nós do seu passado com Genevive e John é fundamental para sua relação com Peter. Se em “Para todos garotos que já amei”, Lara Jean tenta mudar sua vida no presente, em “P.S: Ainda amo você” ela olha para seu passado e compreende que parte das coisas que não funcionam em sua vida é sua responsabilidade e não dos outros. Essa linha harmoniza com a história paralela de seu pai, que tenta entender a perda da mãe de suas filhas e sua esposa de uma maneira que ele consiga seguir em frente sem prejudicar sua memória. Marcante na cena em que convida seu interesse amoroso para a celebração de família.

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Infelizmente, “P.S: Ainda Amo Você” parece uma oportunidade perdida de contar uma história com mensagem de forma original e criativa (o que é preocupante, pois ainda teremos mais um filme na série), indo num rumo contrário ao antecessor, jogando seguro, abrindo mão de uma narrativa com recursos para “chover no molhado” do ponto de vista cinematográfico. É divertido? Sim, mas menos que o antecessor. No fim das contas, parece que é apenas um eco distante do que deveria ter sido. Se a intenção era essa ou não, fica para os produtores, mas abrir mão da possibilidade de fazer um bom filme por medo da reação do público tem sido a tônica dos principais estúdios em Hollywood e me dá medo a possibilidade de em alguns anos, filmes do principal mercado do mundo serem todos pasteurizados, mesmo ao surgir algo relevante ser imediatamente apagado por um estúdio.

“P.S: Ainda Amo Você” decepciona quem esperava uma sequência a altura, apesar das boas atuações e da tentativa de passar uma mensagem, o filme fica abaixo do que deveria e deixa a desejar especialmente em termos narrativos.

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