Crítica | As Baladas de Buster Scruggs

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‘‘As baladas de Buster Scruggs’’ é o perfeito exemplo de filme que quanto mais se pensa nele, melhor fica.

Inicialmente cogitado como uma série mas acabando como um longa metragem, os irmãos Coen trazem a tona o lado mais primitivo do ser humano usando como alicerce o faroeste e a fronteira americana para contar suas 6 histórias, que, depois de introduzidas, são desconstruídas parem serem contadas da forma mais peculiar e particular através dos olhos dos diretores.

Aliás, essa talvez seja a genialidade da história. A forma pouco convencional e diversificada como é contada, misturando comédia, música, drama, romance e suspense e de alguma forma conseguindo encaixá-las por uma única particularidade, a morte, é excepcional. Ela, inexorável, vem das formas mais imprevisíveis possíveis, coisa que os Coen amam fazer com seu público. Deixá-los atônitos. Algo que os diretores parecem sentir prazer. Enquanto escrevem, imaginar p que pode improvavelmente chocar qualquer um que está assistindo. Fez suas carreiras, aqui não seria diferente.

O primeiro conto, que carrega consigo o título do filme, nos mostra a história do irreverente Buster Scruggs. Sua solidão, musicalidade e graciosidade o tornam instantaneamente gostável, independente de quantas pessoas ele tivesse matado ou venha a matar. A violência vulgar aqui é ao mesmo tempo cômica e hipnotizante e tudo isso faz parte do show do ator Tim Blake Nelson, que consegue extrair de um personagem tão caricato algo memorável.

‘‘Near Algodones’’, o segundo segmento do filme, trata basicamente de como a morte é inevitável. James Franco, também ótimo, trabalha bem com um personagem que tem pouco a dizer, mas que ironicamente sabe qual o seu destino.

‘‘Meal Ticket’’ impõe um tom completamente diferente a história até então. É triste, obscuro e arrastado. O processo de degradação do relacionamento entre Liam Neeson e Harry Melling (que da um show a parte apenas com expressões) é trabalhado de forma tão lenta e infame que chega a ficar cansativo, mas tudo se justifica com um ótimo final, extremamente impactante e reflexivo.

‘‘All Gold Canyon’’ é a mais vistosa, visualmente falando, das seis histórias. O fato de Tom Waits contracenar sozinho reforça o grau de majestosidade da natureza aqui, reforçada por planos abertos e por um personagem que a venera , fazendo questão de deixar claro que apesar de ser velho, ‘‘Mr. Pocket’’ é mais, e que, querendo ou não, independente de todo esforço humano para encontrar riquezas nesse mundo somos insignificantes e passageiros, conforme a narrativa nos lembra: ‘‘Só as pegadas no campo e a terra mexida restaram da vida turbulenta que havia interrompido a paz do local e seguido em frente.’’

O pragmatismo de ‘‘The Gal Who Got Rattled’’ é sua beleza. O único romance das 6 histórias, como esperado, foge do clichê. A velha máxima de que o amor é imprevisível se rende a ideia do conformismo. O desenvolvimento da relação entre Billy (Bill Heck) e Alice (Zoe Kazan) é esquisito da forma mais encantadora possível, e por isso sua conclusão é de certa forma devastadora. Ironicamente, o único alguém que se nega a seguir o que lhe é imposto, Presidente Pierce, sobrevive no final de tudo.

Seu último conto, The Mortal Remains, é um show a parte de escrita e atuação. Incrível também são os pequenos detalhes inseridos pelos diretores ao longo do filme, nos dando pequenas pistas de tudo que está para acontecer, seja nas imagens do livro que antecedem o começo do segmento, seja na sutileza das palavras ou da iluminação. Tecnicamente é um obra perfeita, porém, por vezes cansativo, o que, com o próprio tempo, é relevado por possuir tanta originalidade. Seu ritmo lento é justificável, por, além de trazer o melhor de cada gênero a tona, se faz duradoura na cabeça de quem quer que o assiste. Cada história planta algo de memorável na cabeça do espectador. Quem assistiu sabe sobre o que eu me refiro em cada uma delas.

8,5

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