Crítica | Palm Springs (Hulu)
Quantas vezes você já viu esse filme?
E caso não tenha visto, por favor, assista-o antes e depois leia a crítica.
Personagem vive um dia intenso, finalmente dorme e, quando acorda, lá está ele/a de novo. Obviamente no clássico “ O Feitiço do Tempo” e em outros nem tão clássicos como “No Limite do Amanhã”, “A Morte Te Dá Parabéns”, “Antes que eu Caia”, entre outros. Mas, permitam me, vocês nunca viram esse filme igual a “Palm Springs”.
Rindo da própria premissa, o filme de Max Barbakow é também uma comédia, mas surpreendentemente te faz repensar a própria vida, assim como o clássico de 1993, sem parecer que está tentando te fazer repensar a própria vida. Eu fui para o filme sem saber o que assistiria, e espero que tenham feito o mesmo, e o resultado será surpreendente.
Pois para alguém desavisado, assistimos a um filme qualquer com Andy Samberg sendo ele mesmo, que se desenvolve em uma comédia romântica screwball e então pronto, estamos presos no mesmo dia de novo e de novo, mas o personagem de Andy está lá a mais tempo que nós e, ao descobrirmos isso, os primeiros dez minutos não apenas fazem sentido, mas assustam por nos fazer perceber quanto tempo ele já não está preso neste mesmo ciclo. Nossos olhos aqui seriam os de Christin Milioti, como Sarah, mas como o filme tende a nos pender para o lado de Nyles, o tom nunca se torna desesperador ou reflexivo, mas sim pessimista e, com isso, ele nos desarma para que recebamos suas reflexões da melhor forma.
Nyles está preso, mas não apenas figurativamente, mas na própria expectativa de sair dali. Estes filmes sempre trazem uma mensagem sobre se estar estagnado, mas Nyles a vive e o pior, já está conformado com ela. Tanto, a ponto de simplesmente não ligar e parecer até gostar da rotina repetida - que o levou a experimentar com a vida, e a morte também. Já Sarah até consegue se divertir no começo, mas logo descobre não conseguir se contentar com o para sempre sendo sempre igual, passando por cima da velha “faça boas ações e será recompensado” e admitindo que quer sair dali, apenas, por querer. Com isso, o filme quase deixa de lado o altruísmo que uma experiência como essa poderia proporcionar, mas faz bem em o incluí-lo no personagem de J.K. Simmons, que com poucos minutos em tela consegue transmitir toda a gratidão em poder apreciar coisas que nunca antes pôde, como o filho regando cocô do cachorro no quintal (e continuo incomodado com o fato de que ele continua no loop!).
Assim, o filme de Barbakow consegue algo difícil, mostrar diversas maneiras de se ver a vida com uma premissa que já havia se desgastado tanto que soava apenas mesquinha. Algumas pessoas aceitam a situação que se encontram, outras querem sair delas não importa o que, já outras realmente conseguem tirar algo de proveitoso de cada obstáculo. Além disso, transformar o loop em algo científico, ao menos parcialmente, também me soa como uma mudança bem vinda.