Crítica | 3% (2ª Temporada)
Essa crítica contém spoilers. Não leia sem ter terminado de assistir a temporada.
A segunda temporada de 3% nos traz o Maralto, mais informações sobre a Causa e reviravoltas chocantes e até mesmo difíceis de se processar automaticamente.
Começamos a nova temporada com mentiras sendo desmascaradas. A cena inicial mostra os famosos fundadores do Maralto que, ao contrário da crença popular dos personagens, eram um trio e não um casal. Depois de uma cena com uma carga narrativa tão importante e impactante, é chato ver as novas vidas de Michele e Rafael no Maralto assim como os desfechos de Joana e Fernando no Continente. Isso torna o primeiro episódio levemente arrastado pois uma questão e é aberta e só é respondida no final da temporada.
A partir do segundo episódio, a narrativa passa a se desenrolar mais facilmente abrindo espaços para os diversos plot twists que a série traz. Somos finalmente apresentados a Causa em si, além da visão de Michele e Rafael. Conhecemos seus membros, seus princípios, seus ideais e, principalmente, seu plano de impedir que o Processo 105 aconteça. Também conhecemos o Maralto, o paraíso utópico com pegação moderada digna do episódio Hang The DJ de Black Mirror. A propósito, essa temporada trás diversas referências à série britânica.
Um dos grandes destaques são, no entanto, os plot twits inesperados da produção. É preciso coragem para descartar personagens importantes e resgatar personagens antigos.
O retorno de Marcos é, particularmente, um favorito. Sua participação na primeira temporada havia sido bem interessante e despertou o interesse em ver de sua história. Além do fato da atuação de Rafael Lozano ser, de longe, a melhor da série.
Já a morte de um personagem central como Ezequiel é impactante e repentina, mas define Marcela como a nova antagonista da série. Aliás, a personagem foi uma ótima adição na série. Sua frieza e seu calculismo a tornam detestável no nível Dolores Umbridge. É revigorante ter uma vilã que segue seus ideais acima de tudo, inclusive acima da própria família.
Mas não só de reviravoltas baseia-se a nova temporada. Há diversos aspectos da sociedade e da cultura brasileira presentes. No episódio 06, "Garrafas", temos um show de brasilidade com a performance de Liniker durante a procissão da igreja. É importante entender todo o significado dessa cena. Temos um povo vivendo em miséria constante, mas que ainda assim festeja e celebra suas crenças. Crenças fomentadas por uma religião que prega uma fé inabalável, uma fé nos seres que criaram o mundo como o conhecemos, seres que estão acima de todos e cujas palavras não podem ser contestadas, mas que continuam mantendo o povo desamparado.
Outra cena incrivelmente marcante acontece no episódio 10, "Sangue", quando os candidatos manifestam para participar do Processo 105. São jovens de 20 anos indo contra a guarda armada do Estado para reivindicar um direito. E mesmo esses jovens sendo o futuro do Maralto, a permissão para atirar (e matar!) ainda é dada pela Comandante. Parece familiar, não é?!
Contudo, o maior defeito da temporada é certamente deixar o gancho para o próximo ano nas mãos de Michele e Fernando, os dois personagens menos carismáticos. A ideia de Michele de criar um lugar que não seja nem o Maralto nem o Continente é muito interessante. Porém o que esperar da liderança de uma pessoa cuja lealdade está sempre em questão?