Crítica | Leon Bridges - Good Thing

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Apesar de aclamado, Coming Home, o álbum de estréia de Leon Bridges contava com a objeção de uma falta de voz própria para alcançar todo potencial de seu talento. Comparações com Sam Cooke representavam toda a aptidão e competência do cantor mas também traziam a tona a questão se Leon se limitaria, ainda com uma longa carreira musical por vir, a ser comparado com os grandes do passado ou se juntar a eles em um futuro. 

Felizmente, logo de cara, se percebe o quão o horizonte de Bridges se expandiu. 

O cantor consegue trazer uma diversidade músical para dentro de ''Good Thing'' mesmo sem abandonar a nostalgia que sua voz remete a qualquer ouvido. 

Parece um tanto inconceptível, mas com esse segundo LP temos um cantor que além de conseguir misturar de forma excelente Gospel, e suas eventuais preces inseridas em alguns versos,  o R&B, com sua melancolia e incríveis falsetes (Bet Ain't Worth the Hand), o Funk, e seu groove excepcional (If It Feels Good -Then Must Be-), o Jazz com o saxofone transportador de ''Georgia to Texas'', temos músicas que parecem não ser datadas. Não há um lugar certo para elas no tempo.

Os instrumentos e a produção nos dizem a todo instante que estamos nos anos 60/70. As letras escritas por Bridges são perfeitamente contemporâneas. Sua voz nos diz as duas coisas.

Claramente Bridges tem uma alma velha para fazer música. E não, não teria porque abrir mão disso e do sucesso do evocativo ''Coming Home''. ''Bad Bad News'', por exemplo, com sua linha de baixo memorável nos mostra Leon muito bem quando se trata de Jazz e Funk. É nessas faixas, onde o cantor segue a linha de seu álbum antecessor onde a confiança e segurança em sua voz ganham destaque. Mais do que qualquer coisa, elas reforçam a voz de Leon Bridges como única.

''They tell me I was born to lose
But I made a good good thing out of bad bad news''

Mas apesar da Hype que circunda Leon Bridges existir em função de seu estilo ''Soul'' mais clássico, os momentos que excedem em Good Thing são onde o cantor canta sobre o amor e se entrega ao R&B. Não é surpreendente ver tamanho sentimentalismo na voz do cantor,  mas é admirável e espantoso a facilidade de Leon em cantar sobre o amor e relacionamentos, algo que não tínhamos visto em seu LP de estréia.

Bet Ain't Worth the Hand começa o álbum da forma mais emocional possível. Absolutamente tudo, desde a melodia da música até sua estrutura e progressão, completam perfeitamente a voz de Leon, que descobre um novo alcance e aperfeiçoa seu falsete. É fácil sentir toda paixão aqui, e difícil não entregar o coração a uma das melhores músicas do ano.

Beyond beira o cafona, mas o sentimentalismo na voz de Bridges se torna tão confessional e apaixonada que ela se torna inegável. Beira o cafona porque parece, enquanto canta, um completo idiota. Ai que está. Beyond consegue representar 100% das pessoas apaixonadas pelo mundo, afinal, quem de nós não pensa coisas, no início de qualquer paixão, como:

''I wanna take it slow but it's so hard
I love to see her face in daylight
It's more than just our bodies at night''

ou

''I'm scared to death that she might be it
That the love is real, that the shoe might fit
She might just be my everything and beyond''

Em contraste com a completamente apaixonada Beyond, Forgive You é um choque. Ganha peso em função de sua faixa anterior, e claramente trata com melancolia e maturidade o fato que mesmo o amor mais intenso acaba.

''Mrs'', a penúltima faixa do álbum, é sensacional. É Leon Bridges cantando sobre a parte física e emocional de se amar e toda sua toxidade, e que, na cama, quase sempre as coisas se consertam e parece que tudo vai ficar bem. Enquanto fala de sexo com um cuidado e delicadeza impressionante, a voz suave de Leon é acompanha por uma guitarra extremamente sensual. É onde ele mistura o novo e o antigo presentes em sua voz, mas agora, concretamente, é onde temos certeza que Leon Bridges não é Sam Cooke, e sim Leon Bridges.

''I remember how it felt the first few times
Skin-to-skin before you knew how to get under mine
If we get it, get it right we'll be together for life
'Cause it only feels good after a good, good fight''

8,1

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