As 10 Melhores Músicas de 2014

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.


Sem poupar palavras, 2014 não foi um ano muito feliz para a música popular.

Apesar de alguns veteranos retornando e de alguns novos talentos surgindo, pouca coisa de 2014 sobreviveria ao teste do tempo, e olhar que a década ainda nem acabou.

Estes são os melhores singles de 2014:


10 | future - move that dope

Muitos trappers nos últimos anos tem sido apontados como os novos Lil Waynes, seja pela imagem que passam ou por construírem seus trabalhos em torno do mumble rap que Wayne ajudou a popularizar. Porém, o único deles que chega próximo na questão que mais gosto de destacar da inconsistente carreira do rapper, esta sendo a prolificidade, é Future.

Lil Wayne lançou, durante os até agora 20 anos de carreira, mais de 40 trabalhos e admitidamente não lembra nem de ter feito várias das músicas, pois diferentemente de artistas como Kanye West e Jay-Z, Wayne lança tudo que grava, não se importando se vai funcionar ou não. E Future é igual, com um emaranhado de mixtapes e álbuns que, caso você misturasse todas as suas faixas e as redistribuíssem, não mudariam praticamente nada, o rapper de Atlanta construiu sua reputação de onipresença na cena.

É por isso que faixas como “Move That Dope”, um rap clássico com uma estrutura convencional de versos (e dois excelentes de Pusha T e Pharrell Williams) se destacam tanto, por mostrar o potencial de Future caso selecionasse um pouco melhor seus lançamentos. Pois, por mais que seu conteúdo não seja diferente do ex-traficante que sucedeu na vida, a energia infecciosa dele e suas estéticas atuais transformam esta em uma versão 2010s de rap raiz, algo que muito nos falta no mainstream.


9 | run the jewels - close your eyes

De longe o grupo de rap mais subestimado de seu tempo, a dupla formada por Killer Mike e EI-P tinha tudo para estourar caso tivesse visto seus dias nos anos 90. “Close Your Eyes” é, além de um inteligente e ressonante protesto à brutalidade da polícia contra a comunidade negra nos Estados Unidos, um hit que nunca foi.

Com uma batida frenética e uma energia mais que contagiante, a faixa já começa a 100 por hora, com uma introdução de Zack de La Rocha (em feature) que apenas repete o nome do grupo como um disco sendo arranhado que, inexplicavelmente, vai grudar na sua cabeça como o pior chiclete pop de 2014. A partir dali, as batidas pesadas e a dinâmica do duo tomam conta, neste single que é também a melhor música de seu excelente segundo álbum de estúdio.


8 | fetty wap - trap queen

Fetty Wap veio e foi com uma velocidade assustadora.

O trapper de New Jersey, visualmente marcante por conta do glaucoma que cegou seu olho esquerdo, emplacou um hit atrás do outro entre 2014 e 2015, mas, desde então, praticamente sumiu do mainstream. Mas, independente se um dia voltará a ele ou não, teve papel fundamental em popularizar o Trap como gênero mais popular do planeta.

“Trap Queen”, por mais que de acordo com o próprio Fetty Wap não seja uma música de amor, é literalmente a personificação do amor Trapper, onde o casal prepara suas drogas juntos, as vendem e depois aproveitam a montanha de dinheiro que fazem festejando com estas mesmas drogas. Contagiante como poucos hits do gênero, é a melhor versão de Bonnie and Clyde - mesmo que não intencional - em anos.


7 | beyoncé - flawless remix

Este é o terceiro ano dos cinco que cobrimos até então que Beyoncé tem uma música no top 10, e se isso não é evidência de sua dominância artística nesta década, bem, esperem pelas próximas listas.

A verdade é que Queen Bey parece ser uma pré “4” e outra pós “4”, com a artista se libertando e descobrindo sua voz além dos hits para entregar além de álbuns extremamente bem construídos e inovadores como singles que, apesar de não repetirem o sucesso do começo de sua carreira, figuram como hinos para o resto da vida de seus fãs.

“Flawless”, por si só uma bela faixa de “Beyoncé”, de 2013, ganhou um tratamento especial em 2014 quando a Rainha do Rap emprestou mais um verso monstruoso em sua carreira cheia destes, transformando este remix em um hino do feminismo que evidencia a força e empoderamento destes dois símbolos da música negra. Acima de todo o dinheiro, luxo e sucesso que ostentam por direito - algo que apenas homens faziam até pouco tempo atrás - Beyoncé e Nicki Minaj querem que todas que ouçam à esta música se sintam como elas se sentem e como toda mulher deveria se sentir: flawless.


6 | ilovemakonnen - tuesday

ILoveMakonnen foi um surfista claro da onda gerada pelas três mixtapes de The Weeknd em 2011, misturando tendências do Hip-Hop e mergulhando o R&B na vida noturna que parece tomar conta dos artistas antes que os mesmos estejam estabelecidos para poder, como clamam, tomar conta dela.

“Tuesday” é um hino sobre a disfuncional vida do jovem trabalhador que, sem tempo para festejar no final de semana, têm de se contentar com a terça-feira. É engraçado que Drake tenha aparecido para o remix, pois o rapper canadense, definitivamente, não precisa escolher dias para fazer festa, o que adiciona à faixa um contraste mais do que interessante e contribui para sua mística.

ILoveMakonnen pode não ter ido mais longe do que isso no mainstream, mas seu hit de 2014 foi fundamental em estabelecer o PBR&B que seria, junto ao Trap, o gênero dos anos 2010.


5 | future islands - seasons

Cumprindo a taxa de bandas indie/eletrônica das nossas listas (brincadeira, mas não), este single do álbum “Singles” da banda de synthpop Future Islands foi o único a sobreviver acima da reputação do próprio álbum, dominando diversas listas de 2014.

Sonoramente agradável e com uma mensagem que, apesar de comum, sempre funciona, “Seasons” é uma declaração à monda antiga feita sob a nova moda do gênero, sintetizando todas as maiores qualidades da banda que, infelizmente, não conseguiu construir em cima de seu moderado sucesso.


4 | d’angelo and the vanguard - really love

Após um hiato de 14 anos, D’angelo provou com “Black Messiah” o que ninguém tinha dúvidas, por mais que muitos tivessem esquecido.

Ao abrir este álbum, que serve quase como uma cápsula do tempo, percebemos a evolução lógica de seu excepcional “Voodoo”; uma mistura de R&B, Jazz e Soul, enraizados na cultura africana e com tantas jóias que quase ficaram perdidas no tempo que é difícil escolher qual tem o brilho mais ofuscante.

“Really Love” é uma dedicatória àquela pessoa que esteve com ele desde o começo e sobre como todo o tempo que passaram juntos não diminuiu de forma alguma o amor verdadeiro que nutrem um pelo outro. É um dos poucos momentos do álbum onde D’angelo se permite deixar de lado suas convicções sociais para se entregar à seus sentimentos pessoais, uma faixa com letras simples e vocais sinceros, quase como um lembrete de que de nada adianta lutar sem ter algo para proteger e amar.


3 | fka twigs - two weeks

A falta de reconhecimento que FKA Twigs experienciou após seu excelente “LP1” foi criminosa.

A cantora tinha tudo para se tornar parte fundamental do movimento PBR&B, indo ainda mais longe na obscuridade e no lado sombrio da mente humana ao explorar com força e vulnerabilidade, ao mesmo tempo, a sexualidade feminina. Nesse ponto ela não foi menos longe que SZA ou até mesmo Beyoncé, o que simplesmente não justifica seu trabalho, muito mais acessível do que o de Grimes, por exemplo, não ter atingido o sucesso merecido.

“Two Weeks”, o primeiro single de seu primeiro álbum de estúdio, é uma condensação de todo talento que ela possui, desde sua particular estética sonora à ausência de pudores ao falar sobre sexo. Seus vocais afetados sugerem muito mais nessa relação do que o desejo sexual que possuem um pelo outro, e nos leva à uma possível viagem ao antes e o depois daquele relacionamento, aparentemente tão complicado.


2 | caribou - can’t do without you

Dentre os dois principais motivos pelos quais a música se tornou parte fundamental da humanidade, um deles é diretamente relacionado à como esta forma de arte pode influenciar e dialogar diretamente com nossos sentimentos, emoções e sensações. Me parece lógico, também, que após o advento da energia elétrica e de sua evolução, a mesma tivesse um impacto gigantesco não apenas na nossa forma de fazer música, mas de sentir-la também.

“Can’t Do Without You” é o tipo de música que aqueles mais presos ao saudosismo julgariam como preguiçosa. O título da canção é repetido durante todos os seus 4 minutos, entre distorções de pitch e pequenas alterações na frase em si, Caribou repete possessivamente o único sentimento que quer expressar sobre um relacionamento que nem mesmo sabemos aonde foi parar. Mas o efeito não cansa, muito pelo contrário, é como se a cada nova repetição a musicalidade crescente nos levasse mais adentro àquele sentimento tão claro, como nos lembrando das muitas vezes onde tentamos dizer mais do que o que realmente sentíamos.

Ao final, ele ainda expressa o óbvio: aquela é a única pessoa com quem ele sonha e a única pessoa em quem ele pensa, mas não é como se precisássemos que ele nos explicasse isso. Um feito incrível para uma música com não mais de 20 palavras diferentes. Caribou é, talvez, o artista de eletrônica mais injustiçado nestes últimos 20 anos onde o gênero tomou conta do planeta Terra.


Menções Honrosas: Perfume Genius, Queen; St. Vincent, Digital Witness; Sia, Chandelier; Flying Lotus, Never Catch Me; Lana Del Rey, Shades of Cool.


1 | taylor swift - blank space

Assim como seu incansável algoz, Taylor Swift vive no limiar do me ame ou me odeie, mas fale de mim.

A garotinha que antes encantava multidões ao sentar com um violão na mão cantando canções de amor sobre exes, atuais e futuros, reincarnava as clichés, mas inescapáveis comédias românticas adolescentes em seus vídeos e possuía uma imagem tão inofensiva que parecia o equivalente musical de Tobey Maguire, cresceu a ponto de se tornar a maior estrela pop do planeta em menos de 5 anos, passando por uma metamorfose digna de todas as analogias possíveis.

Taylor Swift, essa de “1989”, é uma mulher formada, ciente da própria imagem que passa e absolutamente no controle de sua vida e carreira. Não que seus temas estejam exatamente diferentes do que eram antes, mas dessa vez é como se ela abordasse sua quase inabilidade de cantar sobre qualquer coisa que não pretendentes do sexo oposto como uma auto-crítica que, ao mesmo tempo, ainda zomba da imagem, naquele momento já altamente polarizada, que possuía na mídia.

“Blank Space” é uma faixa que poderia, de certa forma, ser batizada com o próprio nome da cantora, pois possui tudo que faz de Taylor Swift, Taylor Swift: uma história de amor, uma briga, um desabafo sobre um ex, um novo interesse e, mais importante, a auto realização. Com uma das melhores produções da carreira de Max Martin, o single é a perfeição do pop nos anos 2010 e o cenário perfeito para que ela abandone completamente a menininha de álbuns passados. E é genial que ela complemente sua clara crítica à mídia (“they’ll tell you I’m insane”) com um belo mas (“But I've got a blank space, baby And I'll write your name”).

Ame a, ou odeie-a, “Blank Space” é infalível.

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