As 10 Melhores Músicas de 2011

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.


A maior história musical de 2011 foi, sem sombra de dúvidas, o sucesso estrondoso de Adele, se expandindo além do normal para qualquer artista em todo o século, mas, o que mais chama atenção olhando para trás, é como o sucesso que o trap faz hoje era representado por um gênero que tinha como líderes LMFAO e Pitbull.

Repito, LMFAO e Pitbull.

E muitos de nós dançamos e fizemos o passinho ao ouvir “Party Rock Anthem” ou “Give Me Everything”, além de encarnar o sentimento adolescente passivo-otimista provocado pelos hits da P!nk, ou o adolescente ativo-otimista provocado pelos hits de Katy Perry, ou quem sabe o adolescente ativo-pessimista provocado pelos dramas de um jovem Bruno Mars, ou o adolescente ativo-otimista que tenta até hoje rimar a parte deBusta Rhymes em “Look At Me Now”.

Com tudo de ruim, bom e medíocre que esse ano teve a oferecer em seus hits, suas músicas mais marcantes, em sua maioria passaram debaixo do radar, atingindo seu ápice conforme entendemos o impacto que elas causariam.


10 | rihanna - we found love

Há uma clara polarização de críticos e fãs quanto ao primeiro single do sexto álbum de estúdio de Rihanna, “Talk That Talk”. Apesar de a produção de Calvin Harris - junto com a EDM e suas muitas vertentes - estar em seu total auge de popularidade durante o início da década, assim que o efeito passou todos os ouvidos que se emprestaram repetidamente a tantos hits similares praticamente enjoaram do gênero, o fazendo ter uma das quedas mais bruscas já presenciadas no cenário musical.

“We Found Love” é um fruto indiscutível da pior parte dessa era, com todo o drop pós refrão, toda a sonoridade energética e toda a vibe “vamos festejar até encontrar a felicidade”. Por isso e pelo fato de o vídeo mostrar Rihanna aparentemente brigando e se reconciliando com um sósia de Chris Brown, teríamos tudo para simplesmente não aguentar mais ouvir este que se tornou um de seus singles mais bem sucedidos.

Porém… há definitivamente algo de hipnótico nas dezenas de vezes que a cantora de Barbados fala que ela e seu companheiro encontraram amor em um lugar sem esperanças. Toda a levianidade e simplicidade da música parece engolida pelos vocais relaxados de Rihanna, que vendem a ideia de felicidade de forma sincera e quase serena.

Se eles encontraram mesmo este amor, é difícil dizer, mas por um breve momento, sempre que “We Found Love” toca, é possível acreditar que há, sim, uma maneira de se concertar as coisas. Se ela está - no caso estava - bem com isso, quem somos nós para contrariar.


9 | tyler, the creator - Yonkers

Tyler, The Creator abre o single que catapultou sua carreira com uma das frases mais reveladoras sobre sua enigmática e singular carreira: I'm a fuckin' walkin' paradox — no, I'm not, ele fala sobre a mal funcional, urbana batida que tem como objetivo imitar o Hip-Hop nova iorquino.

O que vem a seguir é uma discussão acalorada entre ele e seu alter ego, onde sonhos de assassinato e pesadelos vivos demais para não serem reais tentam abafar o que soa como um preocupante um relato de depressão. Como um jovem com muito a falar, mas sem saber o que dizer, ele ataca outros artistas de forma direta, como Eminem em seu auge, e sob um incandescente flow torna o single um dos mais infecciosos e estranhamente magnéticos na história recente.

Tyler mudaria mundos nos anos a seguir, mas poucas músicas retratam tão bem sua complicada persona quanto esta ode à uma cidade com tantos pecados que suas virtudes servem apenas de disfarce.


8 | lana del rey - video games

Desde o início de sua carreira, se tem uma palavra que nunca passou perto da opinião crítica ou popular sobre Lana Del Rey, essa palavra é unanimidade. “Video Games”, seu primeiro sucesso, até hoje parece um pouco inusitado. A despretensiosa produção, o clipe feito pela própria, editado no iMovie, tudo isso soma em uma música que estava no oposto do pop de 2011.

O primeiro single de Lana tinha somente uma força inegável: verdade artística. Em tempos de música fabricada aos lotes todos os dias, isso pode ser o suficiente para chamar a atenção de audiências maiores, como aconteceu. Não há, ainda, nessa canção, a batida forte, a finesse que surge na ostentosa produção de “Born to Die”. Temos uma instrumentação minimalista, um vocal de puro sentimento e uma letra que consegue ser o resumo de um relacionamento millenial, sem deixar de tratar de paixão de forma atemporal.

Quer você queira, ou não, “Video Games” marcou uma geração e foi a propulsora da carreira de uma das artistas mais icônicas dos anos 2010.


7 | beyoncé - countdown

Decidir entre “Countdown” e a irresistível “Love On Top” foi uma das tarefas mais difíceis relacionadas à estas listas anuais que estamos realizando. Afinal, a última é uma das favoritas dos fãs e foi em uma apresentação da mesma, no VMA de 2011, que Beyoncé anunciou sua tão publicizada primeira gravidez, para alegria do casal mais poderoso da história da indústria musical, ainda mais após a cantora ter sofrido um trágico aborto natural anos antes.

E que bela homenagem à pequena Blue - que pode muito bem ser uma das pessoas mais talentosas do mundo graças à seus qualificados genes - sendo que “Love On Top” é uma belíssima tomada moderna de um hit dos anos 80, que Michael Jackson teria aprovado com toda certeza. Nela Beyoncé canta com uma energia implacável e se diverte ao declarar seu amor à Jay-Z e, por que não, à própria filha que estava por vir.

Se, após tudo que escrevi, não termos escolhido “Love On Top” parecer surreal, é apenas pelo fato de que “Countdown” é, subestimadamente, uma das melhores músicas da carreira da artista mais influente - e importante - do século 21. Com uma deliciosa, exótica e divertidíssima mistura de elementos e gêneros diferentes, o single é um tour de force, onde Bey encarna a única pessoa que conseguiria fazer jus à ideia da canção: ela mesma.

Estranhamente, acabou não fazendo um décimo do sucesso que deveria, mas talvez seja melhor assim. Todas as grandes músicas de Beyoncé foram também grandes sucessos e, talvez, ter uma joia incandescente um tanto quanto escondida em uma caixa tão brilhante de diamantes não seja uma má ideia.


6 | pj harvey - the words that maketh murder

Em um ano que todo o terrorismo que aterrorizou o mundo durante boa parte do início do século parecia ter uma queda drástica - Bin Laden foi morto em 2011 -, e a palavra certa é parecia, a aclamada cantora britânica, PJ Harvey lançou um de seus singles mais curiosos.

Ao cantar os horrores da guerra sem aparentes alegorias para acontecimentos da vida cotidiana do ser humano, Harvey cria uma composição sonora leve e harmônica, quase contrariando todos os absurdos que ela descreve tão brutalmente. É uma dicotomia atraente e magnética, que eleva o peso conceitual da canção à níveis que uma produção mais bombástica e depressiva não conseguiria, pois tudo soaria como um simples lamento acinzentado.

A guerra é um lugar terrível e talvez a melhor maneira de repassar essa ideia seja fazendo isso entrar de forma “agradável” em seus ouvidos.


5 | Nicki Minaj - Super Bass

O mundo da música é lindo com todas as suas particularidades, mas talvez nada valha mais o preço do Spotify, ou o investimento em uma caixa de som capaz de estourar seus ouvidos do que um bom e velho hit pop. Admita, você gosta, nós gostamos, todos gostam. E, apesar de pararmos de tempos em tempos para discutir música de uma forma mais profunda e compenetrada, são os pequenos momentos de leveza que essa arte nos proporciona que fazem a vida valer a pena.

“Super Bass” é uma simples e açucarada mistura Pop-Rap, onde Nicki Minaj mais canta do que rima, sobre estar apaixonada por alguém e decidir abordar esta pessoa da maneira mais criativa e direta possível. E, apesar de o conteúdo lírico não ser o mais inovativo de sua carreira, há algo de genialidade em chamar de super baixo (instrumento) uma música e dedicá-la aos garotos - voltando às caixinhas - com os sistemas de som que fazem baixos (instrumentos) soarem mais pesados conforme o volume é aumentado.

Ou seja, ela faz aqui uma música destinada a ser tocada o mais alto possível e que é simplesmente impossível de não se deixar levar toda vez que o refrão, imitando seu coração toda vez que vê estes garotos, chega aos nossos ouvidos.

Repetindo a posição que ocupou em nosso top de 2010, dessa vez a Nicki Minaj que vemos é completamente diferente da dona de múltiplas personalidades em “Monster”. Digo, completamente diferente. Se aquela trocava de energia, velocidade e voz durante seu verso mais aclamado, esta é definitivamente mais doce, mais amável e menos perigosa. Como Nicki consegue, ainda assim, manter toda sua pose empoderada em sua performance quando faz tudo isso é o maior trunfo de seu hit mais irresistível.


4 | bon iver - holocene

A evolução de Justin Vernon desde “For Emma, Forever Ago” pode ser vista de forma cristalina no seu segundo single. “Holocene” é uma linda canção acústica e introspectiva que, ironicamente, nunca poderia figurar no álbum mais acústico e introspectivo de Bon Iver. O riff principal da música é tocado por um violão de 12 cordas, a bateria que carrega o resto da canção é quase inteiramente orientada pela caixa, e destoa totalmente de qualquer canção feita por Vernon até então.

O fantasioso clipe apresenta um menino (provavelmente o mesmo senhor que é protagonista no clipe de “Towers”), andando por paisagens de tirar o folego numa caminhada matinal, e juntamente com a capa campestre e rustica, dão a atmosfera perfeita para aproveitar a trilha sonora do disco, e principalmente, dessa faixa, que é talvez a mais delicada e sonhadora do disco. “Holocene” nos faz lembrar que o mundo é enorme e nós não somos prioridade dele e, se Deus existe, ele tem mais trabalho a fazer do que realizar nossos caprichos.

“And at once i knew I was not magnificent / Strayed above the highway aisle / Jagged vacance, thick with ice / I could see for miles, miles, miles…”


3 | the throne - ni**as in paris

O ato de ostentar tem sido um dos maiores combustíveis da música popular desde o início das gravações, porém, nenhum gênero se apossou tanto disso como o Hip-Hop. Parte enraizada de sua cultura desde, as batalhas de rima transformaram a ostentação em um malabarismo de palavras e ideias, sempre tentando reinventar o jeito de se falar que quem canta - no caso rima - é maior, melhor, mais forte, mais habilidoso e, é claro, mais rico que o adversário a quem se dirige.

Dito isso, é importante notar como Shawn Carter sempre utilizou suas muitas experiências como traficante e sua ascensão na vida para contar histórias complexas, enquanto Kanye West revirou o gênero ao provar que os diamantes poderiam ser substituídos por mochilas, desde que as mesmas estivessem recheadas de ideias novas. Ostentar nunca foi o campo de destaque dos dois artistas mais aclamados da história do Rap - não, não é discutível - que, no ano de 2011, decidiram fazer um álbum colaborativo inteiro centrado no tema. Sim, era quase como uma constatação: “isso não é o que fazemos de melhor, mas ainda assim fazemos melhor do que você”.

E o resultado, bem quase todos já sabem, “Watch The Throne” se tornou icônico apenas por existir, mas o álbum em questão não é o assunto aqui. O ponto é, enquanto o Hip-Hop e sua principal vertente atual, o Trap, tomariam conta das rádios, playlists e plataformas de streaming nos anos subsequentes, com artistas novos surgindo em todos os cantos, ninguém conseguiu - ou passou perto de - criar uma narrativa tão convincente centrada na pura ostentação do que a dupla que se auto intitulou como o trono.

Não bastasse o título que evoca toda a dicotomia de um negro em Paris fazendo sucesso, um verso afiado de Jay-Z, outro eufórico de Kanye West e um sample espetacular do filme “Escorregando Para Glória”, a produção de Hit-Boy é quase uma droga sonora que vai te forçar a ouvir o single de novo. E de novo. E de novo.

Ah é claro, os dois sabem disso, pois costumavam repetir “Ni**as In Paris” mais de 12 vezes consecutivas em sua turnê e sim, todos cantavam junto. That shit is - definitely - crazy.


2 | m83 - midnight city

Assim como todas as coisas que nos dão prazer no mundo, os efeitos da noite na psique humana são um enigma para todos nós que decidimos apenas apreciá-la. Foi com isso em mente que a banda francesa, M83, quase atingiu o sucesso que merecia. Quase.

A “banda”, composta única e exclusivamente pelo francês Anthony Gonzales, flertou com reconhecimento internacional durante toda a sua carreira, mas o início da década foi uma era de tortuosas tempestades para a música eletrônica, que fizeram com que todos ignorassem aqueles poucos que as navegavam da melhor forma. Sendo seu principal single de seu principal álbum, “Midnight City” fez barulho, mas ainda assim não conseguiu fazer com que Gonzales adentrasse à uma terra banhada de tantas estrelas com brilhos muito inferiores.

Composta em cima de um loop distorcido de guitarra que insiste adentro de camadas sobrepostas de piano, batidas e sintetizadores, a atmosfera criada é imagética, lisérgica, devaneadora e, mais do que tudo, contagiante e convidativa, encerrada de forma triunfante com um dos melhores solos de sax de toda a década. Há também um forte senso de nostalgia diretamente relacionado com o simples ato de estar nas ruas de uma cidade, a noite, pois de acordo com Gonzales - que você não precisa nem entender o que ele está falando para concordar -, toda cidade ganha vida quando o sol se põe.

“Midnight City” é uma música que a maioria dos adolescentes perderam e só vão descobrir anos depois, em listas e mais listas que a coloquem entre as melhores de sua era. Uma música tão relacionável e universalmente apelativa para qualquer um que já tenha feito da noite seu habitat natural que será como uma bela memória perdida, mas tão viva na mente daqueles que a descobrirem que a farão ter vontade de criar novas, para compensar o tempo perdido.


Menções Honrosas: Beyoncé, Love on top; james blake, the willhelm scream; drake, marvin’s room; a$ap rocky, peso; gotye feat. kimbra, somebody that i used to know


1 | adele - rolling in the deep

2011 foi o ano de Adele.

Tudo bem, como explicamos em nosso top 10 álbuns de 2010, o motivo de seu segundo álbum de estúdio ter vendido tanto foi o fato de ela conseguir trazer de volta aos fãs mais ortodoxos de música um sentimento há muito esquecido, de que sua música deveria ser consumida de maneira tradicional e não digitalmente.

Mas nada foi tão importante para sua ascensão do que seu primeiro grande hit: “Rolling In The Deep” - tecnicamente lançada em 2010 - dominou as paradas nos Estados Unidos em 2011, mas poderia ter feito o mesmo décadas atrás, pois poucas músicas lançadas em todo esse século retratam tão bem a sensação de estarmos ouvindo uma “canção”, que funciona tanto nos altamente tecnológicos estúdios de hoje como em uma roda, ao redor da fogueira, com estalares de dedos e backing vocals feitos na hora.

Como qualquer grande single Pop, é uma sing along song, que te convida a adentrar a melodia tanto enquanto dirige seu carro saindo do trabalho quanto em uma arena gigantesca com milhares de outras pessoas. Como qualquer grande composição de Soul, conta com uma performance seminal de Adele que, de acordo com a própria, atinge notas vocais que julgava não ser capaz até gravar o single. E, como qualquer grande canção de Blues, retrata o fim de um amor perdido em meio a chamas e cicatrizes, que deixou marcas profundas demais para serem esquecidas.

Adele se tornou a maior estrela da música por causa desse single, justamente por ele ser tão universal que qualquer um, desde sua vó à seu filho que a recém está dando seus passos, pode e deve cantar junto. “Rolling In The Deep” é uma música tão ligada às emoções humanas, que a entoamos com todo o fogo do nosso coração sem nem saber o porquê.

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