Crítica | O Date Perfeito

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Quantos filmes Noah Centineo fez nesses últimos seis meses?

Principalmente conhecida por suas muitas séries originais - algumas ótimas, outras não - a Netflix tem se tornado piada quando o assunto é filme. Optando por quantidade sobre qualidade, poucas de suas produções se sobressaem e merecem qualquer atenção e até mesmo o público, que ainda é fiel ao serviço, reconhece isso.

No entanto, há uma única área onde, lançamento após lançamento, os executivos se fartam com uma nova onda de sucesso (que, bem, não sabemos se é verdade, pois eles não disponibilizam os dados de streaming, mas acreditamos que seja por conta do famoso boca a boca). “O Date Perfeito”, filme escrito por uma dupla e dirigido por um diretor sem páginas na Wikipedia, é mais um da série “comédias românticas adolescentes com Noah Centineo”.

O jovem, que estrelou também o divertido “Para Todos os Garotos Que Já Amei” e o fraco “Sierra Burges…”, surge como o novo galã infanto juvenil da Netflix, interpretando variações moderadas de si mesmo e o fato de ele conseguir fazer isso sem ser sofrivelmente repetitivo é algo a ser notado. Não que Brooks Rattigan - o personagem que ele interpreta - seja alguém muito interessante, mas a abordagem de Noah transforma um jovem que se espelha em ídolos óbvios e contraditórios - Steve Jobs, Michael Jordan, Elon Musk - sem emprestar nenhuma de suas principais características - visão, dádiva atlética, timing - e não percebe que, na verdade, passa tempo demais se preocupando e tempo de menos pensando, em um charmoso e confuso adolescente que não bem sabe o que quer da vida.

A própria essência do personagem traz problemas claros ao roteiro. É dito que Brooks tira excelentes notas, mas não vemos nenhum traço de inteligência acima da média; é dito que ele é pobre, mas seu apartamento é espaçoso e consideravelmente confortável; é dito que ele não é popular com garotas, mas justamente a que ele quer, a mais popular, se interessa por ele sem nenhum motivo aparente e em um momento onde o roteiro simplesmente ignora o que aconteceu há exatos dois minutos atrás. Isso tudo seria inconcebível e inaceitável em um filme se o ator principal não tivesse carisma para pelo menos validar um pouco dessas afirmações sobre si mesmo. Agora, se é algo que dá pontos para a narrativa do filme, aí já é outra história.

Chris Nelson, que dirige o longa, até faz um bom trabalho de ritmo, mas falha em estabelecer um tom próprio. Afinal, o que esse filme realmente é? Uma comédia romântica? Um coming of age? Uma crítica a superficialidade da sociedade atual? Uma mistura disso tudo e um pouco mais? Bem, decida você mesmo.

A premissa principal, de um aplicativo de encontros é, bem, estranha, com sua execução sendo bem menos arrogante e sexista como poderia soar. Garotas o contratam para ajudá-las em diversas situações, nunca para propriamente usar de seus atributos físicos, mesmo que o marketing venda o filme assim de certa forma. Mas o que fiquei me perguntando: Quanto ele cobra e quantas pessoas utilizaram do serviço sem que ele ficasse famoso nas redondezas? Afinal, para conseguir metade do dinheiro para se entrar em Yale fazendo isso, indica que seus clientes pagam muito bem, melhor do que a maioria dos adolescentes poderiam pagar.

Laura Marano (que trabalhou em “Nemo” e, mais recentemente, em “Lady Bird”) faz um contraponto interessante à personalidade quase vazia do protagonista, sendo uma garota que não cai sobre seus encantos até, bem, - SPOILER - cair. A atriz é talentosa, mesmo que sua personagem seja escrita de forma pouco lógica. Me sinto na obrigação de notar que, assim como nos outros dois filmes protagonizados por Noah, há um personagem amigo do principal (neste filme interpretado por Odiseas Georgiadis) que é negro e, no caso deste e de “Para Todos os Garotos…”, gay, quase como um modo de o filme falar “olhem só, somos inclusivos”, mas engraçado como é sempre um coadjuvante que mata dois, ou até três clichés em um, e nunca um personagem recorrente com o peso que um jovem negro na América carrega em suas costas.

“O Date Perfeito” é um filme feito com dedicação limitada sobre uma história mal pensada para um público nada exigente. Dito isso, é leve e até um pouco divertido, mesmo que falhe em comparação com seus milhares de primos tanto da Netflix como fora dela.

5,5

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