Os 10 Maiores Filmes de Todos os Tempos (2022)
Nesse dia 1º de Dezembro, a revista britânica Sight & Sound revela sua lista decenal dos maiores filmes da história do Cinema.
Anunciada desde 1952, e nesse ano com um número recorde de mais de 1600 votantes, a revista conta com participantes ilustres: diretores, atores, produtores, todos entregando listas de seus 10 filmes favoritos (Scorsese entregou 12 na última, porque sim) que são condensadas no top 250 que vemos a cada dez anos.
— atualização, Scorsese entregou uma lista de 15 filmes nesta.
Enquanto muita expectativa se cria sobre quais filmes sobem, descem, entram e saem, aqui falo sobre algo muito mais importante: os dez filmes que eu votaria, caso fosse convidado (um dia, quem sabe).
O que deveria ser uma tarefa difícil - escolher dez filmes em 140 anos de história do Cinema - se torna impossível quando você começa a pensar na lógica por trás da lista. Como disse Roger Ebert em um de seus melhores artigos (os quais aprecio mais que suas críticas), existem três tipos de voto:
O voto democrático - seu diretor favorito é Alfred Hitchcock, e seu filme favorito dele é Notorius, mas como todos votam em Vertigo, você vota em Vertigo para que ele seja representado
O voto da lembrança - você escolhe um filme pouco falado, para que seja lembrado de alguma maneira
O voto sincero - você genuinamente acredita que este é um dos melhores filmes de todos os tempos
Pensando nisso, tentei chegar a um consenso de um filme por década, para representar melhor todas as épocas do Cinema, mas logo percebi que um dos meus dois filmes favoritos ficaria de fora, e deixei a ideia de lado. Pensei também em dividir cinco posições para filmes clássicos e cinco para filmes “novos”, mas foi algo que também não me agradou. A única maneira possível, então, foi fazer listas diferentes, antes de chegar na lista final.
Cada uma delas com uma espécie de mistura de gosto pessoal, importância histórica e importância na minha vida como alguém que ama Cinema. Levando em conta a experiência de assistir o filme pela primeira vez, sua influência na minha vida, e misturando um pouco dos critérios delineados por Roger Ebert, porém me limitando a apenas um voto por diretor, por lista.
A primeira delas, apenas com filmes pré-1958. Por que 1958? Porque foi o ano que Vertigo saiu e, além de ser o primeiro colocado na lista de 2012, considero o filme de Alfred Hitchcock o maior marco da mudança entre o Clássico e o Moderno no Cinema. Como defendido na brilhante tese de Luis Carlos Oliveira Jr., todos os filmes depois de Vertigo, o devem. A seguir, os dez primeiros e uma breve explicação de sua entrada:
Meu filme favorito do Cinema Mudo, e talvez meu Horror favorito de sempre em O Gabinete do Dr. Caligari (1920); o maior quebrador de corações da história em Make Way For Tomorrow (1937); um filme menos importante, mas que traz a melhor atuação de um dos meus atores favoritos, em O Tesouro de Sierra Madre (1948); o drama romântico neo-realista mais forte de todos, em Primavera Numa Pequena Cidade (1948); o filme mais assombroso e sintomático da minha própria condição como aspirante a artista em No Silêncio da Noite (1950); não podia faltar um Ozu, Tokyo Story (1953); o filme que o Marco de sete anos mais amaria caso visse no Cinema em Os Sete Samurai (1954); o melhor filme de todos os tempos em Intendente Sansho (1954); o filme que tem o momento mais belo em qualquer filme brasileiro, em Rio, Zona Norte (1957); o maior filme de todos os tempos em Vertigo (1958).
A segunda, com filmes entre 1959 e 1996, o escopo do Cinema Moderno e do Maneirismo, e toda a influência alastrante de Vertigo… até o ano em que nasci:
A versão digital de Psicose, décadas antes do digital em Peeping Tom (1960); o filme que revolucionou minha percepção sobre Cinema em Acossado (1960); não podia faltar um Bergman, Persona (1966); o outro melhor filme de todos os tempos e talvez a experiência mais intensa que já tive assistindo um filme em casa, em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968); não podia faltar um Buñuel, representando o grande cânone das Comédias de Costume, com O Discreto Charme da Burguesia (1972); o Vertigo de Antonioni, meu diretor Italiano favorito, em Profissão: Repórter (1975); a sinfonia da decadência do homem moderno e meu Scorsese favorito, em Taxi Driver (1976); Edward Yang desafia minha concepção de tempo, e a música de Michael Jackson no meio definiu, Taipei Story (1985); tinha que ter um Argento e um terror escatológico, Opera (1987); a melhor representação da infância e a obrigatoriedade de um filme animado, Meu Amigo Totoro (1988)… e um bônus porque é impossível deixar Um Sonho de Liberdade (1994) de fora. Cinema não fica mais gratificante que isso. E mais um bônus porque é omega impossível deixar De Palma de fora, então Body Double (1984).
A terceira, apenas com filmes lançados durante a era Marco:
Eric Rohmer, aos 80 anos, fazendo um filme sobre todos os meus verões, em Conto de Verão (1996); o melhor suspense dos anos 90, em Cure (1997); meu filme favorito até o fim da adolescência, em Clube da Luta (1999); talvez o melhor filme do século 21, em Cidade dos Sonhos (2001); o filme que mais vi na vida, em Cidade de Deus (2002); a epítome dos romances problemáticos e talvez o filme que eu mais gostaria de fazer, em Encontros e Desencontros (2003); a epítome do homem pós-moderno problemático, em Synecdoche, Nova York (2009); o filme que me fez querer escrever sobre Cinema, e que retrata minha infância como nenhum outro, em Boyhood (2014); talvez o filme mais socialmente importante dos anos 2010, em Get Out (2017); uma obra prima contemporânea que desafia os conceitos de modernidade e classicismo, em Retrato de uma Jovem em Chamas (2019). Se fosse adicionar um bônus: Homem-Aranha (2002), porque fui ver com a creche aos seis anos e lembro como se fosse hoje.
Outros filmes que ficaram de fora por um motivo ou por outro que também foram importantes, sem repetir diretores (se não Mizoguchi e Hitchcock teriam mais de cinco, cada) e com menos critérios que os escolhidos acima, são: Viagem À Lua (1902), The Outlaw and His Wife (1919), Metrópolis (1927), Silêncio nas Trevas (1946), Arroz Amargo (1949), Tarde Demais Para Esquecer (1957), Au Hazard Balthazar (1966), O Exorcista (1973), Rocky (1976), As Filhas do Fogo (1978), O Iluminado (1980), ET (1982), Paris, Texas (1984), O Cemitério dos Vagalumes (1988), O Serviço de Entregas da Kiki (1989), O Rei Leão (1994), O Show de Truman (1998), Escola de Rock (2003), Homem-Aranha 2 (2004), Senhor dos Anéis (2001-03), Harry Potter (2001-11), Caminho para o Nada (2010), Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011), Na Vastidão da Noite (2018), Under The Silver Lake (2018), Capernaum (2018), Era Uma Vez em Hollywood (2019).
E agora, a escolha impossível de fazer uma lista com apenas dez destes, mas, depois de pensar muito, acho que cheguei a uma conclusão: considero que apenas deixei de ser adolescente aos 25 anos, portanto, nenhum filme com menos de 25 anos é elegível. A lista, apesar de subjetiva, também tem um critério abrangente: sem repetir diretores e com a maior variedade e representatividade possível de diferentes escolas.
O resultado, então, a seguir:
Três filmes jamais poderiam estar de fora, pois dividem, pra mim, o posto de melhor filme de todos os tempos. Kenji Mizoguchi é meu diretor favorito, e Intendente Sansho (1954) a experiência mais emocionalmente desafiadora que o Cinema já me ofereceu. Alfred Hitchcock é o segundo, e Vertigo (1958) é o ápice da capacidade e da natureza do que é Cinema e o filme que gostaria de dedicar minha carreira a alcançar. Por fim, Kubrick e 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), talvez a obra mais monumental e visionária da história.
Os complementando,
Make Way For Tomorrow (1937): um filme essencialmente americano e que não deixa de ser atemporal e universal.
Rio, Zona Norte (1957): um filme que, em um microcosmos e pautado por fatalidades, representa o Brasil e sua cultura.
Acossado (1960): o filme que redefiniu o que é Cinema pro mundo - e pra mim.
O Discreto Charme da Burguesia (1972): tem que ter um Buñuel, e também um representante de um dos melhores cânones de todos, da comédia de costumes, além é claro do surrealismo e da língua espanhola.
Profissão: Repórter (1975): tem que ter um Antonioni (e, de brinde, um representante do Slow Cinema e da Itália), sou jornalista, e este é dos filmes que mais me expandiram o conceito de Cinema.
Taxi Driver (1976): tem que ter um Scorsese, e Taxi Driver é a síntese da decadência do homem e da sociedade que já dura quase meio século.
Conto de Verão (1996): o filme mais jovem da lista, que entra por representar Rohmer - frequentemente preterido nessas listas - e também parte da minha adolescência.
E é isso. Em dez anos, espero estar mais sábio, mais cansado e vivendo de Cinema. E, claro, que a lista esteja diferente.