Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

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POR MAIS QUE NÃO DEVESSE, “VENOM 2” DECEPCIONA.

Digo que não deveria pois o filme 1, de 2018, já não dava nenhum indício de acerto ou melhor possível na sequência. E talvez, isso possa ser considerado um mérito: “Tempo de Carnificina” é tão ruim quanto, o problema é que com uma história pontecialmente melhor o resultado é o mesmo. Dirigido por Andy Serkis a produção traz Tom Hardy interpretando o papel principal e também co-assinando o roteiro, além dele, Michelle Williams retorna como Anne, Woody Harrelson e Naomie Harris estream na franquia como o casal Cletus Kasady / Carnificina e Frances Barrison / Shriek respectivamente. Apesar de lidar com o principal inimigo de Ed Brock, a história não se esforça para criar o personagem sombrio e apavorante adorado pelos fãs de HQs e se contenta com as saídas fáceis, piadas sem graça e péssimas atuações, em muitos momentos passa a impressão de ser apenas algumas cenas coladas pelo estúdio para preencher os 90 minutos (aliás, a coisa mais elogiável é o tempo de duração) sem nenhuma intenção de criar algum enredo. Não é o primeiro filme dirigido pelo nosso querido Gollum, mas certamente é o mais chamativo, antes disso tinha feito “Uma Razão para Viver” (2017) e “Mogli: entre dois mundos” (2018) lançado diretamente no streaming, além disso foi o responsável pela segunda unidade na trilogia do “Hobbit”, desse currículo e do seu trabalho inovador com Motion Capture poderia se esperar que pelo menos o departamento de efeitos especiais de “Tempo de Carnifinca” executariam algo divertido, mas apenas não pioraram o que já era ruim no antecessor.

Em “Venom: Tempo de Carnificina” vemos Ed Brock (Hardy) tentando reconstruir após ter perdido seu noivado e seu emprego no filme 1, isso é o que nos conta o roteiro pois não vemos nada exatamente que comprove isso, ele agora tenta conviver com seu simbionte Venom enquanto trabalha como jornalista e cobre o caso do serial killer Cletus Kasady (Harrelson). Em decorrência de um conlito entre os dois, Kasady absorve um pedaço de Venom o que resulta na gestação de um novo simbionte ainda mais poderoso: o Carnificina, ele usa seus novos poderes para escapar da pena de morte e salvar seu amor de infância Frances (Harris), enquanto isso Brock e Venom precisam acertar os termos de sua parceria com ajuda de Anne (Williams) para se protegerem. O que me chamou atenção na trama é que parecem haver muitas maneiras de torná-la melhor com escolhas simples, por algum motivo, parece que todas escolhas erradas foram feitas, a personagem Frances é muito mal utilizada, apesar de ter algum potencial dramático, na versão apresentada, dá pra dizer que poderia ser cortada sem afetar tanto o filme com apenas alguns ajustes. A relação entre Brock e Kasady é muito atravessada, e não temos tempo suficiente para entender do que se trata Carnificina, por falta de competência no uso dos minutos disponíveis, talvez por isso um ator tão talentoso como Woody Harrelson pareça sempre confunso sobre o seu personagem, do outro lado, Tom Hardy, que também é bom ator, interpreta um palhaço ao invés de um anti-herói. “Venom 2” teria toda capacidade e justificativa para ser um desses filmes sérios de HQs, mas preferiu tomar a rota segura e ser engraçado, para amenizar a história sombria, fracassando nas duas coisas, também porque as piadas são péssimas.

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Há uns anos se discutia muito sobre a possibilidade de fazer boas adaptações dos quadrinhos para o cinema, é um debate morto sobre os bilhões de dólares da Marvel, mas queria resgatar aquilo que parecia consenso na época sobre ser impossível, por serem meios muito diferentes e claro, sempre tinha algúem para falar de “Hulk” do Ang Lee ou “Watchmen” (2008) do Zack Snyder como exemplos de adaptações, o que ocorre nesses dois casos são diretores dominando a linguagem cinematográfica a ponto de aproximar ela do gibi. Mas não lembro de ter visto algo como “Tempo de Carnificina” em termos de transposição HQ e cinema, e talvez essa seja a prova que os dois meios são simplesmente muito diferentes, há muitos e muitos takes nesse filme que podem ser imaginados como um quadro desenhado ou vários em sequência bem como várias das sofríveis falas caberiam em balões brancos flutuantes. A natureza da ação e do diálogo numa mídia gráfica é tão diferente do audiovisual que ao recortar algo de um lugar e colocar no outro causa muito estranhamento a cima de qualquer outra sensação, a diversas diálogos nesse roteiro incapazes de invocar emoção ou avanço na história, nos quadrinhos muitas vezes as falas complementam a ação desenhada, o texto fundamental é o andamento da história não o diálogo, no cinema o que é dito pelos personagens ocupa um papel muito mais central, especialmente em Hollywood. A ação representada visualmente nas páginas do Venom é o trabalho de desenhistas de ponta executando arte gráfica no maior nível possível, assim também é o trabalho da equipe de um blockbuster, mas o cinema exige som, imagem, efeitos especiais, edição, todos trabalhando juntos para representar cada ação e esse sentido é o mais decepcionante de “Venom - Tempo de Carnificina” a parte técnica parece feita de maneira tão apressada e sem alma que às vezes é muito difícil entender os diálogos e o que estamos vendo é apenas um bolo de computação gráfica se mexendo.

Se trata de um filme esquecível, para sorte de Serkis, Hady e equipe, pois se alguém parasse para pensar em 5 minutos de “Venom 2”, talvez teríamos um novo grande desastre, mas nem isso ele vai entregar, eventualmente quando tivermos um “Venom 3” muito vai se perguntar o que aconteceu nos outros dois filmes, mas também não poderemos discutir qual foi a sequência de ação mais marcante de cada, como é na franquia “Velozes e Furiosos”, pois a única diferença entre o vilão desses dois filmes é a sua cor. Aliás, no final fica engatilhado uma sequência com o pior personagem, o policial Mulligan (Stephen Graham), teremos sorte se a Sony simplesmente varrer para baixo do tapete a existência dessa franquia (o que é improvável visto o faturamente alto que o primeiro teve), logo sobre apenas a torcida para um dia termos uma representação decente no cinema de um personagem tão cheio de possibilidades como Venom. Por enquanto temos há já cansativa ladainha que não toma riscos, com o agravante aqui de sequer desejar contar uma história e desperdiçar personagem, recursos, tempo e boa vontade no processo.

1,5

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