Crítica | No Ritmo do Coração (CODA)

Com todas as características para ser um clássico da sessão da tarde, “No Ritmo do Coração” prova que é possível fazer um bom filme mesmo com estrutura simples.

Contando a história de Ruby, única filha ouvinte de uma família de surdos (CODA é uma sigla do inglês para denominar filhos/as de pais surdos), temos um coming of age otimista e sensível, com bons momentos para se emocionar e para rir capaz de fugir da mesmíce dos filmes do gênero pela qualidade do roteiro e das atuações. Dirigido por Sian Heder, a história é uma adaptação de “A Família Bélier”, filme francês de sucesso lançado em 2014, com os mesmos temas “CODA” possui boa capacidade narrativa para apresentar os diversos problemas da protagonista com dinâmica e naturalidade garantindo que o roteiro tenha um andamento orgânico que possibilita excelentes atuações de seu elenco. “No Ritmo do Coração” se passa em uma pequena cidade no Massachussets onde diversos ambientes são construídos para dar vida também ao subjetivo de Ruby, a escola, o barco de pesca, a sua casa são apresentadas visualmente refletindo as incertezas dela frente as possibilidades e sonhos que tem para seguir sua vida. O elenco liderado pela estreante no cinema Emilia Jones como Ruby, traz ainda Marlee Matlin, única pessoa a ganhar um Oscar de atuação por uma interpretação que não é em inglês por “Filhos do Silêncio” (1986) como Jackie, mãe de Ruby e Troy Kotsur que interpreta Frank, pai de Ruby.

Em uma pequena cidade no leste dos EUA, Ruby e sua família dependem da pesca para sobreviver, assim como dezenas de outros pequenos pesacores locais eles saem com barcos e vendem peixes a baixo valor, a protagonista alterna a vida no mar com seu pai e seu irmão com a rotina escolar. Na escola, ela não é muito empolgada e tem apenas uma amiga, por ser CODA a personagem se sente e possui uma experiência de mundo diferente dos demais colegas, mas ao ver que seu crush Miles (Ferdi Walsh-Peelo) se inscrever na aula de canto da escola, Ruby resolve se increver também. Lá ela descobre paixão pelo canto, o seu professor Bernanrdo Villalobos, ou Sr. V. (Eugenio Derbez), a incentiva a explorar seu talento e a coloca de par com Miles para praticarem um dueto e se apresentarem juntos na escola, sua nova atividade, porém, toma o tempo que ela passaria no barco da família e a coloca em conflito com seus pais, esse conflito num primeiro momento vem de uma suposta dependência do pai e do irmão que são surdos e ela os ajuda a comprar e vender a pesca e também a se comunicar com o rádio no barco, mas o conflito possui uma camada abaixo na dificuldade que os pais têm de deixar os filhos seguirem o próprio rumo na adolescência e os confrontos que isso pode gerar.

A história de “No Ritmo do Coração” é bastante simples, mas é apresentada com eficiência ímpar para seu gênero, os personagens são bastante simples mas as motivações são visíveis e suas ações ao longo da trama, eles também possuem bastante agência sobre a história algo que foge da maneira como normalmente se retrata pessoas com deficiência no cinema. O roteiro equilibra temas sérios como bullying, discriminação e a pressão que Ruby carrega por se sentir responsável pela sua família, há diversas cenas que a mostram como intérprete de seus pais e irmão como cenas leves e esperançosas. A atmosfera é adolescente e otimista, com um olhar leve sobre o mundo mesmo quando se discute situações sérias, muito bem produzido, o longa teve muita repercurssão e uma recepção imensamente positiva, a fórmula pode ser velha conhecida mas o empenho na realização e o talento e carisma de Emilia Jones que interpreta nas duas línguas, inglês e ASL, alternando fluentemente entre elas eancorando a trama foram suficientes para convencer o público e a crítica. “CODA” demonstra o quão longe um filme simples pode ir dentro da estrutura hollywoodiana baseado em elementos essenciais muitas vezes esquecidos, o roteiro é envolvente e os dilemas de Ruby se traduzem universalmente, e sem nenhuma dúvida vai fazer esboçar um sorriso em quem assistir sem tantas pretensões.

7

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