Entrevista | Hong Sang-soo (Cinema Scope)

UMA CONVERSA PÚBLICA COM HONG SANG-SOO SOBRE O FILME DA NOVELISTA


Notas do tradutor (Marco Leal):

Conduzida pelo editor da recentemente extinta revista canadense, Cinema Scope, Mark Peranson, e publicada em 1º de Novembro de 2022, esta entrevista foi traduzida diretamente do site da Cinema Scope (que pode ser conferida na integra aqui). Foram mantidas apenas as perguntas e respostas entre o entrevistador e o entrevistado, com a introdução original sendo excluída desta tradução. Assim como em outras entrevistas, trechos podem ser cortados da tradução a depender do tradutor.

O curioso com Hong Sang-soo é que parece que nunca estamos falando sobre seu filme mais novo, devido o quão prolífico é o sul-coreano. Como mencionado no início da entrevista, Hong já está na casa das três dezenas de filmes, e me chama a atenção como ele parece tratar cada um de maneira finita.

Destacados, alguns trechos e frases que me chamam a atenção para dúvidas comuns constantemente levantadas sobre seu cinema.


Mark Peranson (MP)

Você não é um diretor que gosta de interpretar os seus filmes, mas fala sobre eles mais em termos do processo, de como são feitos. O Filme da Novelista (2022) é o seu 27º filme. Seu 28º filme, Walk Up (2022), está passando às 9h00, hoje. Você já filmou seus filmes 29 e 30. Olhando para sua filmografia, podemos ter chegado ao ponto onde olhamos para um filme e é difícil não enxergar como separado dos outros, porque existem muitas similaridades entre os filmes e muita repetição entre os filmes, e às vezes dentro dos filmes em si. No Filme da Novelista, como é comum em sua filmografia, o personagem principal é diretor de cinema. Mas essa diretora tem uma teoria cinematográfica que de certa forma é muito próxima da sua teoria, do jeito que você faz filmes e a razão pela qual você faz filmes. Para começar, você concorda que a teoria de O Filme da Novelista é a sua teoria? E por que você quis que uma novelista fosse uma cineasta nesse filme?

Hong Sangsoo (HS): Eu escrevi aquele diálogo dela, falando sobre o material dela. Não posso dizer que é uma teoria.

MP: É uma teoria.

HS: De qualquer forma. Então, quando eu escrevi o diálogo para o papel, não pensei sobre representar minha teoria cinematográfica com o diálogo. É só que eu sempre aceito o que quer que venha no processo. Eu concordo que o resultado, em algumas partes é semelhante a como eu faço filmes. E de alguma forma um pouco diferente… sobre o porquê de ela ser uma novelista, isso eu também não posso explicar. Conheci essa atriz e fiz um filme com ela chamado Perante O Teu Rosto (2011). Esse foi meu segundo filme com ela. A primeira coisa que pensei sobre para esse filme foi que eu tinha filmagens para uso pessoal - eu tenho muito material assim. E então eu decidi filmar algo diferente. E então pensei sobre Lee Hye-Young como uma novelista. Com ela e esse material que eu já tinha, tive a ideia de uma novelista fazendo seu primeiro filme. Minha curiosidade ou interesse era, não importa quanto eu tente com um roteiro ou performance, existe um limite em termos de o quão natural você pode se tornar. Eu tinha essa filmagem que você viu no final da Kim Min Hee, que filmei sem qualquer intenção. E ao combinar isso com as outras partes roteirizadas do filme, eu queria ver como elas poderiam ser percebidas. Então esse foi o meu primeiro interesse em fazer esse filme. Eu queria tentar escrever diálogos tão naturais quanto possível. Mas eu estava certo que deveria haver alguma diferença entre essas filmagens de antemão e o filme que eu ia fazer. E eu queria ver por eu mesmo como estes tem uma textura diferente. Essa foi a primeira coisa que tive na minha mente. Para fazer isso, eu precisei ter um personagem que faz seu próprio filme. E então eu só pensei sobre essa novelista fazendo seu próprio filme porque essas filmagens eram, de um jeito, muito inocentes. Então todo esse processo perto do final do filme foi preparação para a audiência aceitar esse último curta de maneira tão convincente como possível.

MP: Eu imagino que isso leve à questão: Qual a sua atitude em relação à realidade quando você está fazendo filmes? Em outra entrevista, você falou sobre como seu objetivo é chegar o mais perto possível da realidade e no fim, meio que se afastar. Mas aqui parece pra mim que o filme dentro do filme é o mais perto que você chegou da realidade. E é realidade. Quero dizer, você não pode discutir isso. Então, você encontrou isso ou aquela cena ainda é algo que é ficcional quando colocada no contexto de outra estrutura?

HS: Sim, talvez seja o mais próximo possível em termos de mostrar algo real com o meio para mim. Mas é claro que a realidade é algo muito mais complexo. É filtrada pela sua percepção e você pode seguir e aprofundar e expandir infinitamente. E então a realidade é algo que você nunca pode alcançar e resolver.

MP: Talvez seja a emoção que esteja sendo alcançada aqui. 

HS: Ah, sim, mas a realidade não é só emoção. Então para a percepção do meio ambiente e de mim mesmo, está sempre movendo, mudando. Então eu não acho que, em nenhum meio, os seres humanos podem ser compreendidos.

MP: O filme foi filmado durante a COVID e foi interessante para mim pensar no filme dessa perspectiva, porque com essa estrutura, que você já usou antes, tem um personagem que vai de uma locação para outra e tem encontros de acaso com diferentes pessoas. Para mim pareceu algo que todos sentimos falta durante a COVID: essa habilidade de caminhar lá fora e encontrar alguém e então ir em uma direção diferente, imprevisível. A vida foi muito estruturada durante a pandemia. Uma razão pela qual eu acho que existe um apelo com esse filme mais do que com outros, é porque ele vem em um bom tempo. Você sente como se as possibilidades do mundo fossem expostas de um jeito que talvez não fossem se você tivesse feito o filme anos atrás.

HS: Do jeito que sou, eu tento não analisar isso, como eu disse. Então o que quer que venha desse processo…

MP: Estou pedindo para você analisar a minha análise, então…

HS: Um, é a sua análise, e eu aceito isso. Eu realmente tentei respeitar o processo em si. Esse processo, é sempre maior do que qualquer forma de generalização ou intenção. Então quando eu estou com a atitude certa no processo, algo surge e eu geralmente prefiro isso às coisas que eu fiz com intenção.

MP: E esse processo não é o jeito que você fez filmes ao longo de sua carreira. Em um certo ponto de sua filmografia, você mudou. Eu acho que foi com O Filme de Oki (2010) que você começou a escrever roteiros, os diálogos, na manhã de gravação. Então tem essa fase. Seus créditos neste filme são como roteirista, diretor, produtor, editor, compositor e câmera. A única coisa faltando é o som, que podemos falar em um minuto. O que te levou a fazer filmes assim? Por que fazer tudo por você mesmo, que é essencialmente terminar em um lugar onde um novelista reside, onde você não precisa de mais ninguém para trabalhar, você pode trabalhar você mesmo. Ou talvez um pintor seja mais preciso. Mas qual o benefício de trabalhar desse jeito e por que você decidiu fazer isso ao lado de Kim Min Hee, que agora é gerente de produção?

HS: Minha faculdade de cinema era orientada em direção ao cinema independente, o que significa que você faz o seu próprio filme com uma pequena câmera e talvez duas ou três pessoas ajudando. Então esse foi o método. Pareceu muito natural e fácil e confortável. Mas quando eu comecei a fazer filmes, foi na indústria Coreana, então eu tinha que apresentar os roteiros para ser financiado. E essa companhia já tinha um gerente de produção e eles tinham o próprio jeito de fazer as coisas. E eu não estava confiante, então tive que esperar. Então, pouco a pouco fui capaz de - não é a palavra certa, mas de qualquer forma - eliminar pessoas. Eu não estava certo de que poderia fazer isso porque é muito maior do que cinema independente, não? O que eu fiz na escola. Então eu estava muito assustado e precisava de tempo para ganhar mais confiança. E um por um eu eliminei o número de pessoas.

MP: Então você acha que esse é o jeito de seguir fazendo filmes no futuro?

HS: Como eu disse, eu acho mais fácil e confortável e natural se eu puder fazer as coisas eu mesmo.

MP: Mas a única coisa que você precisa é de alguém para gravar o som. Por que?

HS: Então, eu poderia usar um tripé e ter uma espécie de boom, em uma posição mais alta. Então eu poderia também fazer algumas gravações eu mesmo. Talvez um dia eu faça. Mas presentemente eu quero ter um cara do som, porque então eu tenho a liberdade de movimentos. Assim que eu tenho a posição do boom, estou confinado a este ângulo. O benefício de uma pessoa para o boom é que você pode misturar sons ambientes e diálogos apropriadamente do jeito que eu gosto. Eu posso sempre mudar a altura para que eu possa misturar som ambiente e o diálogo. Eu posso checar e decidir qual posição fixa do boom. Eu acho isso muito difícil porque às vezes eles tem que se mexer… 

MP: Como você escolhe seus atores? Você não tem um roteiro escrito quando você começa o filme. Você tem locações e você tem atores. Então nesse um em particular, como você encontrou locações e por que você escolheu esses atores?

HS: É como um pintor que precisa de um modelo. Eu primeiro preciso ter esses dois elementos para começar a pensar sobre filmar seriamente. Claro, quando eu comecei, primeiro escrevi todo o roteiro, e então gradualmente removi a quantidade de roteiro com o tempo. E então com O Filme de Oki, eu tinha apenas alguns atores e locações. Assim que decido as locações e as pessoas com quem quero trabalhar, então talvez por umas duas semanas eu realmente me concentro. E então eu venho com uma estrutura básica e uma história. Antes eu costumava escrever cedo pela manhã no dia de gravação. Mas agora eu sei que estou ficando velho e a condição dos meus olhos não é muito boa. Então eu decidi escrever as cenas um dia antes. Então eu filmo, e eu edito de noite, então eu sei exatamente o que eu tenho. Então, baseado nisso, eu escrevo o próximo dia do roteiro.

MP: Então é sempre cronológico. Normalmente tem cenas que não são usadas no corte final ou você usa todas as cenas que filma?

HS: Eu não calculo, mas provavelmente de 80 a 90% das cenas que eu filmo são incluídas no filme.

MP: Então o processo de edição deve ser muito rápido.

HS: Muito rápido. Eu gosto de filmar três ou quatro cenas, e então eu posso editá-las em, tipo, 20 minutos.

MP: A Câmera de Claire (2017) foi filmado durante Cannes e, ao fim do festival, estava finalizado e editado. Tem uma razão pela qual você trabalha tão rápido? Ou essa é uma pergunta burra? Poucos pintores pintam um quadro por ano, sendo que essa é a vocação deles. É por isso que, pra mim, o que você está fazendo é análogo à pintura. Tem um certo estilo. Você vê uma imagem de um filme de Hong Sang Soo, você pensa, ok, esse é um filme de Hong Sang-soo. Como você vê um Cézanne e você pensa, ok, isso é um Cézanne - que, para tomar nota, também fez múltiplas versões da mesma pintura. Então, quando as pessoas perguntam, "Por que você faz filmes tão rápido?" isso é uma coisa estranha para você? Contanto que tenha o dinheiro - essa é a diferença.

HS: Eu sei, comparado a outros diretores, sou rápido. Mas eu não me sinto rápido. Eu não tenho mais nada para fazer… eu filmo essa quantidade e edito e então continuo até que o fim do filme esteja lá.

MP: Você também está ensinando, então não está apenas fazendo filmes. Com os alunos, você mostra filmes para eles? Você ensina o seu jeito de filmar?

HS: Eu geralmente deixo eles escreverem. Eu tento encorajá-los a escrever tão livremente como possível. Talvez eu dê alguns conselhos, os pergunto "Por que você está bloqueado? Qual sua ambição ou ideia errada? Ou coisas assim." Eu posso dizer a eles essas coisas porque eu tenho experiência. E então, eu deixo eles escreverem. Depois de terem escrito algo, deixo eles apresentarem em frente aos outros alunos. Eu ouço e digo para eles o que eu gosto e, "Por favor, não ignorem meus comentários". 

MP: Você tem bloqueio de escritor?

HS: Não. Uma das coisas que eu faço em minha turma é deixar eles irem ao banheiro… porque tem cheiro. Então alunas vão para o banheiro das mulheres e eu deixo elas escreverem na parede por 20 minutos. E então eu as deixo apresentar o que escreveram para que saibam que podem escrever a qualquer tempo que queiram. É essa conexão com o seu cérebro, seu coração e suas mãos: se você continuar fazendo, você não terá nenhum problema para escrever.

MP: No que diz respeito aos atores, você mencionou Lee Hye-young. Para as pessoas que não a conhecem, ela é filha do famoso diretor Coreano, Lee Man-hee, e atuava quando era mais nova. Então ela atuou bastante na televisão, mas não atuou em filmes por um longo tempo. Ela está em O Filme da Novelista, e também estrela Walk Up e In Front of Your Face. Como você escalou ela nos seus filmes? Porque ela se torna uma fase dentro de uma fase dentro de uma fase, de certa forma.

HS: O pai de Lee Hye-young foi, como você disse, um diretor bem famoso 40 ou 50 anos atrás. Ele frequentava a casa de minha mãe, mas nunca o conheci. Um dia ele deixou sua jaqueta de inverno, uma bem velha e gasta. Eu gostei muito. Ele deixou lá porque estava bêbado ou tanto faz. E eu tenho essa memória de usar a jaqueta dele, um bom tempo atrás. Minha mãe morreu há sete ou oito anos. Lee Hye-Young veio ao funeral porque a amiga dela conhecia minha mãe. Então eu a conheci pela primeira vez no funeral, talvez por dez minutos - uma conversa bem curta. E então eu queria fazer esse filme In Front of Your Face. O nome dela só me veio, eu liguei, e ela estava disposta a trabalhar comigo. É só memória e acaso.

MP: Sua mãe foi produtora de filmes, certo?

HS: Sim, com meu pai.

MP: Então você cresceu no Cinema e sempre quis ser um diretor? Ou, primeiro, você queria rejeitar seus pais, e então…

HS: Eles largaram a produção quando eu era bem novo. Então se divorciaram e ela começou uma editora de livros. Eu nunca pensei em me tornar uma pessoa de filmes. (um dia) Eu tinha 20 e um amigo da minha mãe era um diretor de teatro bem famoso. Tinham muitos convidados e todos foram embora, mas ele estava bêbado e sentado no sofá. Eu meio que gostei dele porque ele era um cara engraçado. Eu estava sentado ao seu lado e ele me perguntou, "O que você está fazendo?" e eu disse, "Não estou fazendo nada". Não havia feito meu exame de estágio ou nada disso. E, do nada, ele disse, "Talvez você possa se tornar um diretor de teatro." Depois que ele foi, eu pensei sobre isso, e eu tive uma briga terrível com meu sênior. Então, eu estava pensando em sair daquela escola, mas ela tinha departamentos de cinema e teatro. Então mudei para cinema.

MP: O resto é história. Quando você termina um filme, você tem um senso de que é um dos melhores ou piores? Isso importa para você? Ou você vê os filmes como parte de um longo filme, ou talvez como uma casa que você constrói um andar de cada vez?

HS: Eu não sei por que as pessoas continuam me fazendo a mesma pergunta: "Você tem um favorito entre seus trabalhos?" Eu realmente não consigo pensar em um. Eu justifico minha relutância: eu só sigo o que vem e eu sinto que faço o meu melhor. Então, depois que termino o filme, eu não penso nele. Para cada filme, algumas pessoas gostam muito, algumas não gostam. Eu não consigo fazer uma hierarquia.

MP: A experiência de fazer o filme deve ser diferente a cada vez. Você deve ter boas memórias de alguns filmes e não de outros.

HS: É verdade.

MP: Mas você não quer dizer.

HS: O processo de filmar é tão importante para mim pessoalmente porque, a não ser por amar alguém de verdade, a não ser por isso, nada pode ser melhor que essa experiência.

MP: Temos perguntas da audiência?

Audiência: Assistindo seus filmes, constantemente antecipo o momento quando eles vão comer. Quando eles vão beber? Para mim é sempre um clímax. Para O Filme da Novelista, você viu pessoas no parque comendo por acaso e então os personagens tiveram a ideia: "Ok, vamos pegar algo para comer?" e como você escolheu o que eles iriam comer?

HS: Sim. O lugar que fomos para filmar foi um lugar que normalmente vou. Sobre essas duas pessoas comendo: aquilo veio da minha experiência. Eu não tinha nenhuma comida comigo, mas eu estava meio, "Talvez da próxima vez, eu deva trazer comida." Eu tive essa experiência, então só aconteceu. E para a comida: eu escolho. Não sei o porquê, mas só surge no processo de escrita.

MP: A última parte, o filme dentro do filme, foi filmado no mesmo parque, certo? Muitas coisas em seus filmes são baseadas em experiências de alguma maneira. Talvez essa seja uma razão porque você pode escrever tão rápido.

HS: Eu uso minhas experiências diretas e coisas que leio em livros. Para uma cena de cinco minutos de diálogo, é talvez quatro ou cinco fontes misturadas. Então, em termos de espírito das coisas, é bem pessoal, autobiográfico. No sentido material, está tudo misturado, misturado, misturado. Se eu tenho um modelo na vida real, eu estou mais consciente de evitar uma representação ou replicação direta. Porque eu não quero ser inimigo de alguém por causa de alguma confusão. Então, eu sempre misturo, misturo e misturo.

Audiência: Eu estava pensando sobre algumas linhas dos personagens, porque eles falam sobre documentários, e agora aprendi que você é professor e sua teoria fílmica foi mencionada antes. Parece um pouco que "documentário" é uma palavra ruim para você. Porque estar aberto às coisas que vem é o que você geralmente faz em um documentário, e o filme dentro do filme, a parte na cor, me lembra de Jonas Mekas. Não estou dizendo que você usaria a palavra documentário como seus personagens usam, mas estava pensando o que você acha sobre documentário e como você usa isso nos seus filmes?

HS: Documentário convencional é normalmente um veículo para mensagens. Então mesmo que esse material real seja usado, o produto final é muito, como posso dizer, é trabalho interpretado. Quero dizer, se posso escolher entre documentário convencional e ficção, sempre escolho ficção. Eu acho que também tenho dificuldade em fazer um produto final em uma forma concreta. Mas, por exemplo, se eu trabalhar com pessoas que não são atores e nas configurações delas existirem limitações. Primeiro de tudo, eu preciso esperar um longo tempo. E eu não quero fazer isso; é chato. Ficar seguindo as coisas por dois, três meses - não é o meu temperamento. E também, eu não consigo fazer eles fazerem ou dizerem algo por eu quero. Supostamente eu deveria respeitar o que está acontecendo na minha frente. Eu posso editar, eu posso inserir algumas das minhas mensagens, mas eu não posso mudar o material. Claro, com atores, ou alguém que está tentando atuar, existe uma superficialidade, mas eu posso fazer algo sobre isso. Eu sempre posso pedir a eles para fazerem e dizerem algo, então não é perfeito. Mas eu gosto de ficção. Eu me sinto mais livre. Pessoas reais em documentário: você não pode imitar aquele grau de naturalismo.

Audiência: Você tem muitos filmes juntos com esse grupo ou você muda atores? Por exemplo, a cena com a linguagem de sinais foi perfeita. Você disse que escreve na noite do dia anterior. Então isso significa que os atores recebem essa informação de manhã e tem que atuar. Essa cena foi sua ideia, ou veio de um processo coletivo?

HS: Essa pessoa que faz linguagem de sinais costumava ser minha aluna e trabalhou por me como meio que uma pessoa de produção por um tempo. Ela disse que começou a aprender linguagem de sinais porque queria fazer algum dinheiro, sendo que é difícil fazer dinheiro atuando. Eu tinha essa informação sobre ela, então escrevi essa cena de linguagem de sinais, e então pedi a ela para ligar para o professor dela e ter certeza que estava tudo certo. Foi assim que eu fiz.

Audiência: Você disse que usar o processo é realmente importante e que você aceita o que vem disso. Você quer curtir o processo livremente e a experiência que vem com isso? Ou depois de cada filme, você também reflete no processo e então pensa sobre o que provavelmente não é tão bom para esse em específico, o que poderia ser melhor? E então para o próximo filme, você tenta modificar o processo para fazer com que ele se adeque melhor você e ao seu time?

HS: Talvez eu me arrependa de algumas coisas em termos de eficiência de produção, ou algo assim. Alguns membros de equipe não estão aptos ao nosso tipo de produção. Mas 99% do tempo, eu não penso nas coisas depois que termino um filme. Esse processo sempre traz algo muito maior do que o que eu consigo fazer com minha intenção. Então, eu estou sempre um pouco surpreso com o que ocorre no processo. E então o filme é finalizado, e a sensação é satisfatória. Então eu posso agradecer e sair. Eu não me arrependo de nada exceto algumas coisas técnicas.

MP: Mas quando você termina seu filme, você está consciente que seu próximo filme deveria ser algo diferente? Ou você aborda como se estivesse começando do zero cada vez.

HS: A única coisa que posso dizer é: quando eu termino um filme, eu digo, talvez esse seja para mim. Então também, talvez eu faça algo em setembro. É a única coisa que eu sei.

MP: Mas você também não trabalha com os mesmos atores toda vez. Por exemplo, Kim Min Hee não está em Walk Up. Tem uma razão para isso?

HS: O desejo não é de trabalhar com ela continuamente… se você continua trabalhando com a mesma pessoa, há um limite. Você sente que precisa de uma pausa. Eu só planejei filmar um filme com Kim Min Hee no centro e talvez dois filmes sem ela, ou onde ela teria um papel menor. Desse jeito eu consigo continuar trabalhando com ela com uma certa quantidade de frescor.

Audiência: Na cena onde os atores estavam bebendo Makgeolli e Soju, eles pareciam realmente bêbados. É verdade?

HS: Eu não gosto de atores fingindo que estão bêbados. Eu só não gosto da sensação disso. Então, no começo, eu fiz eles beberem e ficarem bêbados, mas então foi impossível para que eles memorizem e lembrassem das falas. Hoje em dia, eu os digo: se vocês conseguem beber cinco copos sem ficarem realmente bêbados e começarem a esquecer suas falas, vocês podem distribuir esses cinco copos em mais ou menos dez tomadas. Se vocês só conseguem digerir um copo, então apenas sintam o gosto e então bebam água. E quanto a hora da emergência vem, você pode tomar um pouco de novo. Então, é como um controle. Mas a razão pela qual faço isso é porque é uma coisa muito física. Se você tem cheiro de licor na sua mão, em suas narinas, eu acho que ajuda muito.

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