Os 25 Melhores Álbuns de 2021
2021 nos entregou uma mistura sadia da introspecção e urgência, não deixando faltar beleza estética e sonora ao longo do caminho. Esses são os 25 melhores álbuns do ano, selecionados pela equipe editorial do outrahora.
25
James Blake
“Friends that Break Your Heart”
Permanece a identidade sonora de James Blake, e permanecem as melhores ideias de produção e convergência pop apresentadas em “Assume Form”. No entanto, a alegria, a sensualidade e a descontração de seu disco anterior dão lugar à magoa em “Friends That Break Your Heart”. Um dos melhores trabalhos da carreira de Blake, o álbum circunda a dor de amizades perdidas com inventividade e verdade, em alguns momentos mais distante da tristeza, e em outros, com o dedo na ferida.
Bernardo Liz
24
Olivia rodrigo
“Sour”
O termo “planta da indústria” virou jargão popular nos últimos anos, mas seu uso parece não depender do quão “planta” um artista é, e sim da qualidade do seu trabalho. Digo isso pois esse tipo de ataque não conseguiu impedir a ascensão triunfal de “SOUR” em 2021, por uma simples razão: planta ou não, com um hit inspirado-na-referência-além-da-conta ou não, Olivia Rodrigo entregou um excelente debut. Divertido, variado, bem produzido e interpretado, “SOUR” é uma estreia de alto nível e faz por merecer os elogios que recebe.
Pietro Braga
23
Arlo Parks
“Collapsed in Sunbeams”
Outra estreia surpreendentemente madura. O primeiro álbum de Arlo Parks, “Collapsed In Sunbeams”, busca influências do Soul tradicional e entrega um disco de Pop e R&B tão contemporâneo quanto se pode ser. A londrina carrega a identidade no timbre de voz e no arranjo de cada música, que pode variar entre pungentemente cheio e quase esquelético, dando espaço a cada instrumento.
“Collapsed In Sunbeams” é um debut elegante, rico, versátil, que muitos artistas adorariam executar, mas poucos conseguiriam. Entre todas as virtudes do disco, a personalidade de Arlo Parks é a melhor delas.
Bernardo Liz
22
Pinkpantheress
“to hell with it”
Ainda não sabemos qual será a duração dessa “trend”, mas o fato é que PinkPantheress criou uma trend em “To Hell With It”. Para muito além do TikTok, sua produção e inventividade sonora reuniu elementos da música house, hyperpop, pop-punk, emocore, vaporwave, synthwave, que estavam soltos por aí, esperando para serem reunidos. Ela o faz imprimindo temas jovens e proprietários, em faixas dinâmicas e bem interpretadas. Apesar de não ser um álbum perfeito, traz tantas coisas novas para a mesa, que é impossível não monopolizar sua atenção, e não lhe fazer desejar o próximo trabalho da artista.
Bernardo Liz
21
snail mail
“valentine”
“Valentine” tira o elefante “maldição do segundo álbum” da sala de Snail Mail. Se “Lush” tinha como principal qualidade o flow de faixas que praticamente se conectam, criando uma tracklist quase perfeita, “Valentine” permite que cada faixa seja o que precisa ser, e ainda consegue manter a coesão do disco como um todo. Snail Mail encontra-se mais guitarrista, instrumentista, arranjadora, do que vocalista aqui, ao menos em comparação com seu primeiro trabalho, e isso é para o melhor das canções. Um álbum agridoce, cheio de flutuações emocionais, e recheado de art-pop-indie-rock como poucos artistas fazem hoje.
Pietro Braga
20
Adele
“30”
Após dois álbuns de olhos fechados (“19” e “21”) e um álbum de olhos abertos (“25”), encarando a câmera, aparentemente estarrecida com sua vida, Adele finalmente está olhando para frente.
“30” não carrega as mesmas interpretações enérgicas e composições cheias de fogo de “21”, e talvez por isso não seja capaz de destroná-lo. Porém, pelo menos de um ponto de vista de composição, é o melhor trabalho da britânica.
“Strangers by Nature” já abre o disco dando essa nota, com variações harmônicas jamais imaginadas para um disco de Adele, e “Love Is A Game” o encerra como um grande disco dos anos 70 o faria. Que a artista siga olhando para frente no hipotético “35”.
Nicholas Mendes
19
Injury Reserve
“By the Time I Get to Phoenix”
Poucos artistas, duplas ou grupos seguem atacando essa região turva entre o experimental, o rap e o atmosférico nos dias de hoje. Ainda temos alguns atos, mas nenhum deles o faz com a propriedade e o estilo únicos de Injury Reserve. É uma lástima que essa seja a despedida.
Somando mais um grande álbum a uma discografia curta, mas incrível, o trio do Arizona se despede em formato de dupla aqui, após o falecimento do vocalista Steppa J Groggs. Um disco de despedida intenso, urgente, emotivo e perplexo, em vários momentos, tudo isso ao mesmo tempo. Uma despedida em alto nível, fazendo jus ao legado de Groggs.
Pietro Braga
18
caetano veloso
“meu coco”
9 anos separam “Meu Coco” de “Abraçaço”, último disco de estúdio de originais de Caetano Veloso. Esses anos são perceptíveis: em seu último disco, Caetano abraça pela primeira vez uma posição mais madura e sóbria. Parece que foram anos de experimentações em outros projetos, reflexão, e acima de tudo, clarividência sobre sua própria mente, sua influência, suas referências. Moderno e mais conectado do que nunca ao zeitgeist, Caetano trabalha com produtores e instrumentistas jovens, cita Billie Eilish e FINNEAS, fala da mistura de tempos que vivemos, e entrega um dos melhores álbuns de sua carreira.
Amanda Machado
17
little simz
“sometimes i might be introvert”
Novamente Little Simz transcende as barreiras do gênero e cria uma experiência envolvente e reflexiva. Com liricismo sempre pontiagudo e inteligente e uma habilidade impressionante de contar histórias, a artista aborda questões pessoais, sociais e raciais de forma inseparável, o que eleva a discussão proposta a uma esfera que torna a não reflexão quase impossível. Trazendo produção inovadora em relação a seu último projeto, com uma vasta gama de estilos e influências musicais incorporados no álbum, a mensagem de autoconhecimento e empoderamento presente nas músicas ressoa de forma mais impactante. “Sometimes I Might be Introvert” é uma revelação artística que merece ser apreciada e aclamada por entregar profundidade temática sem deixar escapar, em nenhum momento, musicalidade grandiosa.
Marco Oliveira
16
silk sonic
“an evening with silk sonic”
O anúncio da dupla Silk Sonic, bem como o lançamento do single “Leave the Door Open”, tomou o mundo de supetão como uma faixa não fazia em muitos anos. Bruno Mars e Anderson .Paak. Alguém tinha alguma dúvida de que o resultado seria um sucesso?
A abordagem setentista só melhora ainda mais o material. A dupla não reinventa a roda aqui, mas escolhe uma roda linda, que estava um pouco empoeirada, e coloca ela pra rodar, e rodar muito. O disco pode soar um pouco repetitivo após muitas audições, mas os hits atingem picos tão altos, e a construção sonora do álbum é tão gostosa, que tudo que nos resta desejar é que Silk Sonic não tenha sido uma dupla de um álbum só.
Bernardo Liz
15
ada lea
“one hand on the steering wheel, the other sewing a garden”
Ada Lea emerge da cena independente de Montreal, Canadá, como um nome que promete - e muito - para os próximos anos. Seu segundo álbum, de nome longo e carregado de interpretações possíveis, realiza um estudo sobre as desilusões de ser uma jovem adulta, e sobre as dores de um coração partido quando ele já não espera mais ser partido com tamanha surpresa, ou facilidade.
Art-pop refinado, com letras inteligentes e verdade artística de sobra. Ada Lea parece incorporar elementos de Joni Mitchell a Hayley Williams, passando por uma atmosfera de início de carreira de Justin Vernon. Ainda veremos esse nome indo longe.
Bernardo Liz
14
tyler, the creator
“call me if you get lost”
O que dizer de Tyler, the Creator, a essa altura do campeonato? Desde que acertou a fórmula e o equilíbrio perfeito entre sua personalidade caótica, sua produção e seus versos, na época de “Flower Boy”, parece que o artista não erra mais. “CALL ME IF YOU GET LOST” é mais um grande disco em uma discografia que é uma das mais interessantes de sua geração. Se você ainda não conhece o trabalho de Tyler, e sua fusão única de pop, hip-hop e soul, está mais do que na hora.
Pietro Braga
13
the weather station
“ignorance”
O quinto álbum do The Weather Station, "Ignorance", é um empreendimento que extrai com maestria a beleza da dor, evitando clichês e pieguices. Apesar de sua sofisticação musical e coração lírico, o álbum é uma declaração confiante e ousada, representando o florescimento pleno de um talento notável.
Com influências do jazz e uma banda completa de apoio, as composições de Tamara Lindeman atingem novos patamares, capturando momentos inesquecíveis de calma e beleza no mundo natural. Ao longo de dez faixas, Lindeman mergulha em um rock artístico com influências do jazz e prata líquida, capturando um mundo além das notícias e barreiras emocionais. "Ignorance" é uma combinação de emoções comuns e ansiedades abstratas, que explodem em algo incrível quando compartilhadas.
Amanda Machado
12
blackmidi
“cavalcade”
Entre artistas como 100 gecs, Black Country New Road e outros que tem se revelado inovadores dos últimos anos, talvez o grupo blackmidi seja o mais difícil de tentar encaixotar.
O que diabos é “Cavalcade”? Não é pop, com certeza, mas traz elementos de composições pop para o disco. Não é erudito, mas conta com virtuosismo cirúrgico em todos os arranjos da vasta paleta instrumental. Claramente não é metal, mas é influenciado.
A banda segue produzindo seu próprio universo musical, absolutamente grandioso e, em certos momentos, desconfortável. Os lampejos de claridade musical são como frestas de luz do sol, mas a escuridão tem saturação, e cor. É um disco de excessos, de difícil entendimento, mas inegável talento, de sobra, em todos os cantos.
Bernardo Liz
11
billie eilish
“happier than ever”
O segundo álbum de Billie Eilish sanou qualquer dúvida que houvesse sobre o talento e o potencial da nova estrela e seu parceiro, o irmão Finneas. Com mais de uma hora de duração, “Happier Than Ever” explora diferentes estilos e temas, entregando profundidade e reflexões intensas que ressoam com toda uma geração e, especialmente, com seus fãs. Destaque para os singles “Therefore I Am” “my future” e a faixa título, que já é um hino de sua geração, a explosão de sentimentos que é “Happier Than Ever”.
Pietro Braga
10
kanye west
“donda”
Kanye disse, em 2016, que “The Life of Pablo” seria um álbum gospel. Aquele, claramente não foi. Em 2019, ele tentou novamente, com “JESUS IS KING”, que foi um álbum gospel, mas muito menos um álbum de Kanye West do que os demais.
Em “DONDA” ele parece ter conseguido executar o que pretendia em 2016 com “The Life of Pablo”. Um disco que dá vazão a sua única relação com a religiosidade e espiritualidade.
O inchaço da tracklist, com 27 músicas que poderiam, facilmente, ser 20 ou até 15 faixas, é perdoável somente pelo exercício conceitual. O que carrega a qualidade do disco, são os cortes que entram para a seleta lista de melhores faixas da carreira de Ye, como “Jail”, “Off The Grid”, “Hurricane”, “Moon”, e “Come to Life”. Apesar de um ser humano cada vez mais errático e indefensável em suas palavras e atitudes, são faixas como essas que tornam impossível deixar de reconhecer, quando em sua boa forma, a competência do artista.
Marco Oliveira
9
lingua ignota
“sinner get ready”
Lingua Ignota continua a trilhar seu próprio caminho. Nos levando por entre becos escuros e sentimentos pesados, a artista continua o trabalho de “Caligula” em “Sinner Get Ready”.
Menos aterrorizante, mais pesado e profundo, o terceiro álbum de estúdio da artista a apresenta mais poderosa e encontrada vocalmente do que nunca, com interpretações ricas e encorpadas. Liricamente, ela aborda aqui menos as dores do abuso, focando mais em suas consequências, e nos caminhos para superá-lo.
João Francisco Milani
8
marina sena
“de primeira”
Uma estreia cativante e autêntica de Marina Sena. Com um som que incorpora elementos de MPB, pop e indie, o álbum apresenta a faceta solo da ex-vocalista da banda Rosa Neón, agora usando sua voz singular, para interpretar suas próprias canções. A produção que dá ritmo, textura e um frescor que a cena do pop brasileiro não via há algum tempo, é um dos elementos que torna "De Primeira" uma estreia promissora e encantadora que mostra a força e a originalidade da cena musical brasileira contemporânea.
Amanda Machado
7
sufjan stevens & angelo de augustine
“a beginner’s mind”
Criatividade é um exercício, acima de tudo. Uma habilidade que pode ser melhorada com auxílio de técnicas e boas práticas, como um esporte.
Quando você trabalha com isso por muito tempo, especialmente de forma prolífica como Sufjan Stevens, pode ser necessário recorrer a novas técnicas para chegar a novas ideias. O exercício realizado junto a Angelo de Augustine em “A Beginner’s Mind” foi trazer referências do cinema e do audiovisual para inspirar a obra. Como diz o titulo, “mentalidade de iniciante”.
O resultado é sublime. Algumas das faixas mais fascinantes dos últimos anos estão nesse álbum, que consegue condensar a delicadeza dos dois artistas com instrumentação que dá o arrojo necessário em certos momentos, como solos de guitarra ou synth extremamente bem construídos e executados.
Amanda Machado
6
black country, new road
“for the first me”
Com uma mistura de post-punk, jazz e rock experimental, “For the first time”, o primeiro álbum do Black Country, New Road, não parece uma estreia.
O disco apresenta músicas complexas e intrincadas que misturam instrumentos como guitarra, violino, saxofone e trompete, criando uma sonoridade única e inovadora. As letras do álbum exploram temas como isolamento, desilusão e identidade, e são apresentadas através de performances intensas e emocionais do vocalista Isaac Wood. Uma das estreias mais interessantes dos últimos anos, que deve ser muito bem recebida por fãs de Arcade Fire, blackmidi, para citar alguns.
Nicholas Mendes
5
japanese breakfast
“jubilee”
Após dois álbuns soturnos e doídos, Japanese Breakfast encontra na alegria seu melhor trabalho até agora.
“Jubilee” é um daqueles discos cuja capa transmite exatamente a vibe do som. Amarelo, frutado, cítrico, envolvente. As baladas “Kokomo, IN” e “Posing for Cars” revivem os anos 90 de uma forma refrescante, enquanto as explosivas “Paprika” e “Be Sweet” são a receita para um fim de tarde onde nada dá errado.
Japanese Breakfast tem seu próprio estilo, e a produção desse disco leva cada composição ao lugar certo. Um disco para se ouvir, dançar, apreciar, do início ao fim.
Marco Oliveira
4
st. vincent
“daddy’s home”
St. Vincent ainda não possui um lançamento ruim sequer em sua discografia, e “Daddy’s Home” dá sinal de que isso não deve acontecer tão cedo.
Migrando do digitalismo radical de seus últimos trabalhos, o self-titled de 2014 e “Masseduction” de 2017, aqui Annie Clark viaja em direção a influência dos anos 70, e acerta em cheio. Um álbum denso, que permite a cada faixa ser o que precisa ser, e constrói, de quebra, uma narrativa conceitual e confessional riquíssima sobre sua relação com seu pai, sua visão sobre família e sobre si mesma. Um dos melhores álbuns na discografia de St. Vincent, que não cansa de se superar.
Bernardo Liz
3
jpegmafia
“lp!”
JPEGMAFIA, ou Peggy para os mais próximos, é um daqueles artistas que temos que agradecer por viverem na mesma época que nós.
Virtuoso, criativo, ilimitado em possibilidades como criador, faz pelo rap algo parecido com o que James Murphy fazia pelo pop nos anos 2000.
“LP!” é mais um triunfo em uma carreira que, francamente, só conhece triunfos. Menos centrado do que nunca em criar faixas que se destaquem individualmente, Peggy cria uma experiência suave e rica, texturizada e cheia de camadas. As ideias, as mensagens, os conceitos sobre liberdade de expressão, os detalhes sobre sua vida pessoal que cabem entre vírgulas: tudo isso enriquece ainda mais essa obra de art-rap.
Mas a virtude mais interessante do disco é justamente como ele funciona sob todos os ângulos. Seja a versão completa, ou a versão picotada a pedido da label, o trabalho de Peggy aqui é, novamente, tão competente, que não há forma de tirar a qualidade do álbum — nem há forma de querer parar de ouvi-lo uma vez que você soltou o play.
Bernardo Liz
2
clairo
“sling”
Tudo sobre Sling soa imensuravelmente sincero. Diferente de Immunity, que fazia qualquer coisa para ser ouvido, aqui Clairo parece demonstrar que não se importa com quantas pessoas a escutem, desde que se sinta confortável com o que está fazendo. Por conseguinte, isso nos deixa mais acomodados sob suas lindas melodias e também sob a produção irretocável de Antonoff. Um dos discos mais sensíveis de 2021, e uma experiência lírica e sonora que ganha novas camadas e significados a cada audição.
Pietro Braga
1
spellling
“the turning wheel”
The Turning Wheel, o segundo álbum da brilhante Spellling, é uma imersão hipnótica em um mundo sonoro distinto e cativante.
Exite aqui uma fusão de elementos eletrônicos e orgânicos que cria uma paisagem sonora e conceitual inigualável. Spellling domina a arte de evocar emoções profundas com sua expressão vocal singular, envolvendo-nos em uma teia de intensidade e melancolia. Cada faixa é uma jornada emocional por si só, com camadas complexas de instrumentação e letras poéticas que ecoam no âmago do ouvinte, criando um universo íntimo e impactante.
A produção do álbum é uma verdadeira obra-prima, onde o arpejo multifacetado de sintetizadores se entrelaça com a voz de Spellling de maneira arrebatadora. A mixagem é um componente crucial, trabalhando milagres em certas músicas que possuem arranjos desafiadores, que são resolvidos perfeitamente na mix.
Spellling consegue harmonizar habilmente uma sensação de nostalgia com uma visão futurista, criando uma sonoridade única que desafia as fronteiras do convencional. The Turning Wheel é uma odisseia musical que transcende o tempo e o espaço, deixando uma marca indelével na pele de quem explora esse disco. Este álbum é uma conquista para a artista e o álbum do ano com folga. Um disco que revela novas camadas a cada audição e cresce com o tempo no coração, tato e mente de quem o experencia.
Amanda Machado