Crítica | Amor e Morte

Amor e morte tem o objetivo de calar


Escrito por Julia Kherlakian

Uma cidadezinha pacata no Texas tem sua “paz” interrompida quando alguém resolve sugerir um affair sem nem imaginar que as consequências poderiam ser sangrentas — literalmente. O termo paz só poderia ser escrito entre parêntesis, uma vez que a vida de Candace Montgomery (Elizabeth Olsen), conhecida apenas como Candy, é o maior exemplo de que as aparências são apenas isso: aparências. Dona de casa, mãe de dois filhos, frequentadora de igreja, esconde por trás do sorriso uma vida que carece de tempero — como ela própria diz, a recompensa. Em busca deste tempero extra, Candy tem a ideia de propor um affair ao marido de sua amiga, Betty Gore (Lily Rabe).

Com pinceladas positivas e negativas, pode-se dizer que Amor e Morte cumpre com o que propõe. Um crime foi cometido. Surge a pergunta que não quer calar: culpada ou inocente? Amor e Morte tem o objetivo de calar. Baseado no artigo do Texas Monthly e em Evidence of Love, a série abusa dos recursos para puxar o público para o que o júri foi puxado a acreditar: inocente. Alguns exemplos são a música de abertura, com trechos como Please don’t let me be misunderstood (Tradução literal Por favor não me deixe ser mal-interpretado), assim como o ritmo lento e arrastado dos primeiros capítulos, dando-nos o tempo de criarmos uma conexão com Candy… talvez a própria fotografia, utilizando de cores vibrantes na maior parte do tempo.

A escolha da atriz foi também provavelmente um recurso, com Olsen deixando transparecer seu carisma natural e ar inocente, o que é, no entanto, rompido em determinados momentos, onde uma atuação primorosa entrega um olhar frio e o que se pode chamar de aspecto psicopata. Pode-se destacar também reações faciais inusitadas e naturais (um charme conhecido de Olsen), como na cena em que conversa com seu futuro amante Allan Gore (Jesse Plemons) em um restaurante, e seu rosto expressa amargor com o que ouve. A atuação de Rabe, por outro lado, acaba ficando um pouco opaca, com um roteiro que parece se preocupar apenas em nos mostrar como Betty era predominantemente irritante e problemática. Em uma série de ar novelesco, com atuações que dão a sensação de exageradas (principalmente a de Olsen), Plemons se destaca em termos de naturalidade. O termo, no entanto, não se pode aplicar às cenas de sexo inócuas, que entram no clichê e no artificial — talvez tenha sido automático, talvez instruído, e se sim, com a intenção de mostrar o que se passava na cabeça de Candy, mas que poderia ter sido mostrado de outra forma, menos explícita. É neste contexto que pode-se mencionar a montagem — bem feita, indo muito bem ao som de Stayn’ Alive. A trilha sonora no geral, no entanto, atinge o excesso, desnecessária em certos momentos. 

Destacando dois momentos específicos no roteiro nas partes em que ele mais pesa, uma peça relevante para nos conectarmos mais com a trama é ignorada. Não faz sentido não darmos uma boa mergulhada na rotina sem grandes emoções de Candy, que foi, nada mais nada menos, o que a levou a tomar a decisão que mudaria sua vida para sempre. Teria gerado muito mais impacto, primeiro testemunharmos e entendermos o problema dela para depois vermos ela tomando essa decisão. A faísca de interesse que surge por Allan, após acidentalmente esbarrar no mesmo durante uma partida de vôlei, é jogada no primeiro capítulo com muita pressa e de forma aleatória.

Com isso, a cena em que Candy tenta chamar a atenção do marido (Patrick Fugit) enquanto está entretido com a televisão, deveria ter sido mostrada antes da proposta do affair, e não depois. Se essa escolha narrativa não fosse suficientemente equivocada, temos Candy indo se despedir de Allan antes de começar uma nova vida em uma nova cidade. O diálogo entre os dois se estende, dando tudo menos a percepção de que aquilo foi real… podendo ter funcionado melhor se fosse apenas um sonho de Candy, onde sonha com uma possível redenção com Allan, em que um pedido de desculpas por ter assassinado sua esposa seria plausível.

7

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