Os 20 Curtas Nacionais do Fantaspoa 2020

Em meio a quarentena provocada pelo Covid-19, o cinema - como arte, e não estabelecimento, fiquem em casa! - acaba sendo a saída para fazer os longos dias passarem mais rápido.

Festival Online Fantaspoa At Home separou uma seleção de 20 curtas nacionais, todos tendo como temática o impacto do isolamento social. Assistimos todos, que estão disponíveis no canal do festival no YouTube até o dia dez de maio, e decidimos trazer pequenas críticas sobre cada um. Além, é claro, de deixar nosso voto sobre os favoritos.


Os primeiros cinco curtas foram avaliados por Marco Oliveira*

1 | 2022, de Fabio Spolti - Lisérgico, alucinante e com uma crítica sutil a sociedade, este curta, apresentado com uma razão de aspecto semelhante a 1.37:1, mistura imagens aparentemente desconexas, mas que, graças a um depoimento tocante, constróem uma narrativa envolvente e visualmente fascinante sobre as consequências do momento que estamos vivendo.

2 | Adventício, de Abdiel Anselmo - Grades, corredores estreitos, o livro do Iluminado. “Adventício” é um retrato mais comum da quarentena e com menos estilo do que o necessário para funcionar. O subtexto sobrenatural é, ao menos, um diferencial bem vindo, mesmo que visualmente o filme jamais faça essa faceta se sobressair.

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3 | As Vezes ela volta, de Matheus Maltempi - Este curta se passa todo em uma tela de notebook/celular e, mesmo assim, consegue dar medo pela situação que cria. Um pouco apressado - é um curta, afinal -, e com uma mensagem um tanto batida, é basicamente o início de qualquer filme de zumbi, porém calcado no micro, e não no macro. O que já o torna quase único no gênero. Eu confesso que olhei para trás com medo.

4 | O Céu da Pandemia, de Marina Kerber - Menos um curta cinematográfico do que um vídeo editado como tal, este trabalho tem seu melhor momento no final, que contradiz as boas vibrações provocadas pelas mensagens de apoio, e tornando o projeto dirigido de Marina Kerber em um dos mais políticos do festival. Falta foco e estrutura, mas sobra - no bom sentido - em ideologia.

5 | Depois do Sétimo Dia, de Lisa Alves e Débora Cancio - Baseado em um conto de Lisa Alves, o que provavelmente justifica o belo texto, “Depois do Sétimo Dia” transforma seus visuais em metáforas e mensagens graças ao natural voice-over, que torna um relógio, uma chave e a própria palavra fotografia em símbolos metalinguísticos de incomodo e claustrofobia, retratando de forma quase alucinógena, e devidamente pesada, os efeitos da quarentena. E também da opressão. Falta um quê de narrativa, mas tematicamente foi um de meus projetos favoritos.

O favorito de Marco: As Vezes ela Volta, de Matheus Maltempi.


Os curtas seguintes foram avaliados por Pietro Braga*

6 | Disneyloka 2093, de Erick Ricco - O curta se passa num futuro distópico onde a humanidade e a vida como conhecemos fora destroçada por evoluções do atual Corona (Covid 26, 28 e 33). A narração é arrastada e emocionalmente pesada ao passo que o historiador consegue dispor em seu tom tanto a frustração quanto o saudosismo. A Mistura de diversas referências cinematográficas junto a locação e a representatividade de sua história ajudam a criar a crítica que o diretor deseja alcançar. “Eu vi o dinheiro ser colocado acima da vida pelas pessoas que evitavam vir aqui”.

7 | Está Noite, Só, De Allan Riggs e William Nunes - Toca em um tema delicado para muito nessa quarentena. A ideia em representar a perpetuação de alguns demônios das nossas cabeças em razão do isolamento através de uma rede social que deveria ser usada para, de alguma forma, amenizar o sentimento de tristeza é extremamente interessante. A reflexão criada pesa. Às vezes, nesse momento principalmente, queremos estar sós.

8 | Estúpidemia, de Junior Larethian - Estamos em um país onde a dissipação de um vírus de grande contágio não é a única preocupação. Se Fake News e mentiras através de redes sociais incomodavam antes, imaginem agora. Bem executado como terror trash com um tom cômico eficiente, consegue passar sua mensagem: Podemos fazer tudo para nos proteger da pandemia mais inevitavelmente estamos expostos a alguns outros absurdos.

9 | Ibi Clausus, de Fabi Ud - É de forma excêntrica que a diretora busca o desconforto do público. Repetidamente repassando a mesma cena, chamando atenção para seus detalhes e agravando o efeito que sua música causa através de tal mecanismo, Ibi Clausus causa muita inquietação com pouco.

10 | Jérôme: Um Conto de Natal, de Beatriz Saldanha - Uma visão apocalíptica da pandemia da Covid-19 que enfrentamos atualmente se torna satânica pela visão de um gato doméstico faminto. Além de criativo ao dizer tudo que quer com pouco - e dá até pra imaginar o trabalho envolvido ao se trabalhar com atores felinos - fomenta muito bem a sensação de enclausuramento.

O favorito de Pietro: Jérôme: Um Conto de Natal, de Beatriz Saldanha


Os curtas a seguir foram avaliados por João Francisco*

11 | Labirinto, de Bruno Maia - “Labirinto” é um filme simples, mas do melhor jeito possível. Sem diálogos, ele se apoia na edição rápida que alterna os ambientes de maneira dinâmica para aproveitar seu tempo de duração o melhor possível, a edição de som é também muito boa. Esses fatores nos mergulham rapidamente na história. Além disso, enquanto acompanhamos a protagonista fugir das inevitáveis mensagens de texto que podem significar várias coisas, na minha interpretação é uma metáfora sobre agressão sexual e a dificuldade em fugir do agressor, significado que pode estar em uma mensagem sobre intimidade que nós vemos. Claro que essa é uma interpretação, pois a maneira como o roteiro se apresenta é aberta a interpretações. “Labirinto” mostra como pode se fazer filmes de terror com baixo serem tão fortes como os grandes de Hollywood.

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12 | A Mancha na Parede, de Daniel Pires - Esse filme trata de uma situação que todo mundo sentiu em algum momento nessa quarentena, a percepção das mais imperceptíveis sujeiras em lugares nunca antes vistos nas nossas casas. É a partir daí que a personagem investiga uma mancha em forma de gente que aparece na parede do seu quarto. O filme é rápido e vai direto ao ponto, a narração em off fica sobrando durante o meio da história e parece nos afastar do medo genuíno que “A Mancha na Parede” pode proporcionar. É muito fácil se identificar com a situação da personagem, a sujeira, a solidão e o celular são os nossos únicos aliados nesses eternos dias.

13 | Pique-Esconde Macabro, de Julio Napoli - Esse poderia ser um “Filme C”. É, no mínimo, muito bizarro. Usa algumas tropes clássicas de filme de terror para contar a história de um cara que resolve fazer uma brincadeira com uma boneca infantil, a coisa mais assustadora que existe, mas ele não esperava que essa brincadeira e a própria boneca se viraria contra ele. Os sons, a fotografia, a atuação e a movimentação do brinquedo que ganha vida são engraçados, mas só isso, é um filme na direção certa, mas que passou por um caminho esburacado.

14 | Pra ficar perto, de Lucas dos Reis - Os curtas-metragens têm esse eterno poder de ir além do que se estabelece como padrão para o cinema e esse é o principal mérito de “Pra Ficar Perto” filme filmado todo na horizontal enquanto acompanhamos uma conversa virtual de namorados. A ideia de transformar uma conversa em Whatsapp em filme é arriscada e, nesse caso, não compensa, pois por mais interessante que pareça, isso ocupa tempo de tela que poderia ser mais rápido. O tema é legal, pensar em quantos casais pensando em fazer rituais mágicos para ser ver durante o isolamento social. Aqui sobra um pouco, poderia ser mais aparado. O final quase faz valer a pena.

15 | Preso comigo, de Caio Shindo - Apesar de o protagonista fazer o maior erro que um ser humano pode cometer: instalar uma lâmpada automática em casa, isso é o que torna o rápido “Preso Comigo” um filme divertido. Sua história é até um pouco previsível mas a velocidade com que acontece impede isso de ser um problema. Criativo e com um final cômico, bom de assistir.

O favorito de João: Labirinto, de Bruno Maia.


Os últimos cinco curtas foram avaliados por Felipe Guedes*

16 | Psicopompo, de Giordano Gio - Conectando os temas mais populares nos últimos meses (Covid-19, panelaços, Bolsonaro e até mesmo o meme dos caixões), "Psicopombo" conta a história de um homem que, enquanto grava o áudio dos panelaços, acaba ouvindo uma contagem misteriosa que pode se conectar com o número das mortes por coronavírus. Com isso, acaba trabalhando com um pouco da confusão que todos nós estamos sentindo no momento: Por que isso está acontecendo? É um castigo? E como faço para isso parar?

17 | Quarentena, de Fernando Mantelli - Trata a angústia através do psicológico e dos sonhos de uma mulher que começa a se tornar paranóica dentro de sua própria casa ao longo dos dias de quarentena, que parecem não ter fim.

18 | Quarentena Sem Fim, de Fabrício Bittar - Em uma visão pessimista e angustiante de uma quarentena que já dura mais de 2 anos, "Quarentena Sem Fim" conta com um roteiro envolvente, atores preparados e um final surpreendente. É um dos melhores da mostra.

19 | Sem Segredos, de Rafael Santos - Em outra visão pessimista, Rafael Santos conduz a história de um homem infectado disposto a revelar dolorosas verdades sobre o CoronaVírus enquanto digita freneticamente em seu computador. Repetitivo, mas nada que atrapalhe tanto visto que sua duração é bem reduzida.

20 | Writer's Duet, de Felipe Iesbick - Com uma linguagem de meme, trata da questão do bloqueio criativo através de uma interação entre um escritor tentando escrever e um Jean-Claude Van Damme que representa sua mente distraída, fazendo questão de atrapalhar qualquer progresso.

O favorito de Felipe: Quarentena Sem Fim, de Fabrício Bittar.


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