Cena em Detalhe | Bonequinha de Luxo

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Inúmeros fatores contribuíram para “Bonequinha de Luxo” se tornar um clássico do cinema e o filme mais importante da carreira de Audrey Hepburn.  A cena em análise exibe significativamente a excelente construção das camadas da protagonista, transparecendo durante sua inusitada e imprevisível jornada. 

O músico Henry Mancini compôs “Moon River” especificamente para Audrey Hepburn. Posteriormente, ele disse que houveram muitas versões da canção, porém nenhuma supera a da atriz. Em uma sessão durante o período de pós produção, um executivo do estúdio comentou; “A primeira coisa que precisamos nos livrar é daquela música estúpida”. Audrey Hepburn respondeu; “Nem por cima do meu cadáver”. O resto é história. “Moon River” viria a vencer o Óscar na categoria de “Melhor Canção Original”. 

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Inspirado no homônimo livro de Truman Capote. Em “Bonequinha de Luxo”, Holly Golightly (Hepburn) é uma festeira de Manhattan e sua forma de renda é ser acompanhante de outras pessoas. Ocasionalmente leva informações “meteorológicas” na prisão de Sing Sing. Suas aspirações são riqueza e glamour, que se concretizam no ambiente em que se mais sente segura; A Joalheria Tiffany’s. 

O novo inquilino do apartamento superior ao de Holly é o escritor Paul Varjak (George Peppard) e faz com que ela se sinta saudosa de seu irmão Fred, quem não vê há anos, já que está alistado no exército. Os dois rapidamente se tornam amigos por se identificarem pela busca de algo maior do que o estado atual de sua vida. A situação de Paul é mais similar de Holly do que gostaria de admitir: Nada que escreveu é publicado faz cinco anos, sendo sustentado pela milionária e casada decoradora; Emily Eustance (Patricia Neal).

Eventualmente, Paul se apaixona por Holly e pretende cuidar dela e não ser cuidado como é atualmente. Ela também está se apaixonando por ele, porém se questiona se ele é capaz de concretizar suas aspirações. Ela, então, questiona; O que é necessário para existir a possibilidade de um futuro para o casal?

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A cena inicia com pés, pedaços de papel amassados no chão e sons de dedos digitando em uma máquina de escrever. Conforme a câmera se movimenta aparece a mensagem transcrita no papel: “Minha amiga. Havia uma adorável, e muito assustada garota. Ela morava sozinha, exceto pela companhia de uma gato sem nome.” O autor das palavras é Paul Varjak. Não somente apelidado de Fred pela protagonista por se assemelhar com a doçura e beleza de seu irmão, também porque são as duas pessoas, figurinas masculinas em que se permite à expor sua fragilidade. Com quem pode abandonar a glamourosa persona nova iorquina que criou. 

O som da máquina de escrever é substituído e o ambiente é preenchido por uma doce voz, entoando “Moon River”. Paul sente que o som está vindo da janela. Ele levanta, ergue as cortinas e abre as janelas. Logo, a câmera denuncia a responsável pela cantoria; Holly. Sentada na janela de seu apartamento, tocando violão. Um turbante envolve seus cabelos, usa sapatilhas, jeans, blusa branca. Este é um dos momentos que vemos a personagem despida do glamour, desarrumada e serena. Todavia, esta cena demonstra que elegância e graciosidade são, na verdade, um estado de espírito, além de comprovar a incontável beleza de Audrey Hepburn. 

Holly canta e toca seu violão. Aparentemente, não ciente de que Paul a observa. Talvez sua atitude fosse diferente se tivesse percebido. Porém, o nível de intimidade e confiança que Holly estabelece com o escritor permite essa vulnerabilidade à frente dele e este é um dos fatores que a mais assusta, afinal seu maior medo é a ideia de comprometimento que, para ela, se iguala a estar presa em uma gaiola. Essa barreira, frieza e distância que criou, é simbolicamente salientada ao longo do filme, como o fato de seu gato ter o nome: ”Gato”, já que o ato de nomear algo ou alguém significa estabelecer laços duradouros e profundos esboçando sua maior covardia. 

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A letra da canção diz muito sobre o significado da solidão e vazio que Holly carrega. Apesar de estar sempre acompanhada, paradoxalmente se sente só. Apesar disso e impedida por seu medo, a sua verdadeira vontade é se permitir vagar pelo mundo ao lado de seu doce e aventureiro amigo; Paul Varjak. Após terminar a canção. O olhar de Holly fica vagando até encontrar o de Paul na janela. Ela diz “Olá” com uma doce voz, que demonstra satisfação de perceber que ele havia assistido assistido a verdadeira, despida e afável persona de Holly. 


“Rio da Lua, mais largo do que uma milha

Eu irei de encontro a você com elegância, qualquer dia

Oh, seu sonhador, você partiu meu coração

Aonde quer que você vá, eu seguirei o seu caminho

Dois andarilhos, indo por aí para ver o mundo

Há tanto do mundo para se ver

Nós procuramos o mesmo fim do arco-íris

Esperando logo depois da curva

Meu doce e aventureiro amigo

Rio da Lua, e eu”

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