Crítica | Vampire Weekend - Father of the Bride
É claro que algumas bandas de longa data existem e continuam fazendo música depois de muitos anos, movidos pelo desejo de ser multifacetada, de realizar experimentos, de sair da zona de conforto; explorar variedades de timbres e instrumentos, métodos de gravação e produção; ir até os confins da criatividade que os seus instrumentistas oferecem, somente pelo gosto doce da renovação.
Eu, particularmente, sou fã desse modus operandi, e quase sempre vejo mudanças sonoras com bons olhos; mas claramente esse não é o caso dos nova-iorquinos do Vampire Weekend. Ezra e companhia encontram serenidade e despreocupação reinventando a roda de tempo em tempo, e não há pecado algum nisso! A fórmula é ótima: dinâmica circense, guitarras pulantes, linhas de baixo hiperativas e ritmos dançantes. Misture com algumas baladas delicadas, letras inteligentes e de muito bom gosto e pronto.
Seu último lançamento com o multi-instrumentista e entre muitas aspas “cabeça pensante” da banda Rostam Batmanglij foi um sucesso de críticas e vendas. “Modern Vampires of the City” de 2013 ainda ecoa como um lançamento moderno na cabeça dos amantes da música. “Father of the Bride” não soa como uma outra reinvenção da roda, mas mais ou menos como a manutenção dela, a postura mais cautelosa é nítida desde a primeira faixa, na verdade, já era nítida nos primeiros singles de divulgação do disco.
Para não contar novamente a mesma história com outras palavras, Ezra tenta inovar os assuntos abordados em suas letras, ou mudanças muito pontuais e sutis, como a introdução de alguns samples e ritmos mais diretos e não tão complexos. Um ar surrealista e mais otimista que o normal paira sobre as inacreditáveis 18 músicas do projeto; quase uma hora inteira de música que, por incrível que pareça, não se arrasta, mas também não cativa por inteiro.
A aura otimista vem de alguns riffs de tom maior que tomam conta de músicas chave da tracklist do álbum, como “Harmony Hall” e “Sunflower”. Talvez nenhum momento destoe demais dessa temática abordada e, por isso, o álbum tem tanto sucesso em ser coeso. Até em momentos onde a harmonia menor predomina, a jovialidade da voz de Ezra Koenig e as palavras cantadas por ele não nos deixam aprofundar por muito tempo.
O lado A inteiro do disco segue repleto de hits ascendentes, circenses e tropicais; malabarismos cromáticos com os 3 instrumentos de cordas; bom, pra não dizer que não há nada que se sobressaia perante os discos anteriores: os riffs de guitarra nunca foram tão criativos e experimentais.
Mas o contraponto é a produção, absolutamente educada, controlada e polida. Não há um instrumento que se evidencie de forma absurda em nenhuma faixa, não há nenhuma guitarra que ataque os ouvidos de forma agressiva, não há sintetizadores afiados ocupando a mixagem em nenhum dos lados das caixas de som.
Participações interessantes são pequenos oásis de desafogo num disco tão longo: Danielle Haim, uma das irmãs Haim (dã), e Steve Lacy, o produtor/compositor/instrumentista prodígio mais querido do nicho alternativo, aparecem em várias das faixas, algumas vezes até não creditados, como nos backing vocals de “This Life”.
Father of the bride é um álbum adulto, com uma pitada até grande demais de nostalgia pra aqueles que cresceram junto com a banda, a banda não é mais aquela banda universitária que escreveu os hits alvoroçados do primeiro álbum. A banda passou por um processo discreto, mas perceptível e gradual de amadurecimento lírico e sonoro; Ezra já é pai, e vocês já tem quase 30.