Zeca Baleiro @ araújo Vianna - 28/11/2025
Zeca Baleiro é skate!
“Música popular é cultura, e eu gosto de contar histórias!” A frase, dita por Zeca Baleiro logo no início do seu show no dia 27/11, não poderia ser mais verdadeira. Abrindo os trabalhos, Zeca já trouxe uma regravação sensível, delicada e emocionante de um grande hit do Charlie Brown Júnior: “Céu Azul”, acompanhada por Adriano Magoo no piano.
Como de costume, Zeca transita entre diferentes ritmos e musicalidades, incluindo no repertório a já clássica versão do samba “Disritmia” e o forró “Ai que saudade d’ocê”, um de seus maiores sucessos. Como bem disse logo no início, Zeca honrou seu gosto pelas histórias populares, relembrando um samba “espinha de peixe” que, segundo ele, era dificílimo cantar, apesar dos seus anos de experiência e voz impecável.
Ao longo do show o cantor foi revelando sua maturidade nos palcos, simpatia e bom humor. Mesmo sendo no Araújo Vianna, a apresentação acústico e com baixo quórum se tornou intimista, arrancando diversos “eu te amo” - correspondidos - e conversas paralelas com a plateia.
Aproveitando o clima de romance, Zeca encantou casais (e solteiros) com sua linda melodia “Quase Nada” e “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo. Também homenageou, para vibração de todos, Milton Nascimento, dando uma cara de tango à música “Me deixa em paz”.
Como todo show é, apesar de vivido em conjunto, uma experiência única, algumas músicas se tornam mais marcantes para cada um que o aprecia. “A flor da pele” me emociona por si só, porém, juntando à melancolia inerente a todo início de verão e ao final do ano que se aproxima, torna-se ainda mais impactante. Em tempos em que se anda “tão a flor da pele que qualquer beijo de novela nos faz chorar”, emocionar-se, com uma frase, no meio de um show, prova a importância dessa experiência, seja ela coletiva ou individual.
Além de rasgar elogios à cultura gaúcha, ressaltando nomes como Nei Lisboa, Teixeirinha e Lupicínio Rodrigues, Zeca também trouxe repertório gauchesco para seu show. Com o coral da plateia, prestou homenagem a Hermes Aquino, cantando duas de suas canções e finalizando com o clássico “Nuvem passageira”. Após incorporar o sul ao som, Magoo largou o piano e se adonou da gaita, dando um novo brilho à belíssima música “Bandeira”. Seguindo na gaita, após transformar um rap/reggae em MPB, Zeca leva “Proibida pra mim” a um forró à lá Falamansa.
Já na finaleira, em tom cômico mas valorizando a cultura popular e revelando suas pesquisas no que ela chamou de “cultura chula”, arrancou risos do público com o clássico “Suíte do Quemeleu”, de Nelson Dantas (título que não nos revela muito sobre a letra, amplamente conhecida por ser engraçadinha). Voltando para a seriedade e para finalizar com chave de ouro, o bis ficou para a mais aguardada por muitos, “Telegrama”.
Com o seu clássico bonezinho e cachecol, Zeca traz em suas músicas e histórias um conhecimento claro da cultura popular, uma pesquisa profunda sobre a música brasileira, suas diversidades e possibilidades lindas que, na sua voz, ganham uma sensibilidade a mais. Fica nítido para quem o ouve que sua inspiração está nas ruas, nas conversas e nas produções feitas pelo e para o povo. Apesar de ser conhecido pela calmaria, Zeca é skate, rap, samba, forró e, principalmente, música popular brasileira.