CHICO CHICO @ OPINIÃO - 05/12/2025

Fotos: Natália Lima

O Opinião recebeu, na noite de 5 de dezembro, um público tão diverso quanto curioso, com uma presença inevitável de pessoas 50+, claramente fãs de Cássia Eller, que agora ansiavam por confirmar, bem de pertinho, a existência viva de seu legado. Era o show de Chico Chico, com a turnê “Let It Burn / Deixa Arder”, título de seu álbum mais recente, lançado em outubro deste ano.

Chico Chico sobe ao palco às 21h40, de bermuda e pés descalços. Sua camiseta estampa “Banda Banda”, nome que batizou a trupe de sete músicos que o acompanha nesta jornada. Ele se posiciona ao centro do palco e fica agachado, já sorridente, aguardando os primeiros acordes de Tempo de Louças. A cena inicial, simples e despretensiosa, já entregava o clima da noite: espontâneo, afetivo e totalmente entregue à música.

A bateria, posicionada de lado no canto direito, contrasta com o teclado no extremo oposto, o que fazia do palco um semicírculo diante da plateia, com Chico sempre ao meio — nos breves momentos em que consegue ficar parado. Após a segunda música, Hora H, troca palavras muito breves com o público, demonstrando que prefere usar a voz mesmo para cantar. E, antes de iniciar Farsa, surpreende a plateia com Vapor Barato, imortalizada por Gal Costa e de autoria de Jards Macalé, falecido em novembro deste ano. A essa altura, a plateia já perdoava os minutos de atraso e mergulhava junto na atmosfera descontraída que vinha de um palco tão convidativo.

Entre uma música e outra, a inquietude de Chico Chico é visível ao ficar mordendo a gola da camiseta ou mexendo na sua cabeleira bagunçada. Mas também o mantém atento a tudo o que acontece ao seu redor: auxilia o guitarrista quando ele se enrola com a alça da guitarra, faz sinal para o técnico de som quando o diretor musical indica que algum volume precisa ser ajustado, enfim, faz do palco seu habitat natural, como quem nasceu e cresceu em meio a instrumentos, cabos e pedaleiras. Um menino de poucas palavras que se expressa muito bem através da música, do corpo e de uma presença gigantesca. Toma o palco para si, desfila por todos os cantos, como uma criança explorando um cercadinho cheio de brinquedos - neste caso, instrumentos musicais e cigarros, muitos cigarros.

Em Acorda Zé, dança e brinca de sensualizar com a plateia, trazendo levadas de funk e arrocha — brasilidade é o que não falta em seu repertório. Seus músicos, sempre em sintonia, entram na onda de descontração e ajudam a fazer do show um grande ensaio aberto no quintal. 

Logo depois, sentado de maneira tão confortável quanto quem está no sofá de casa, Chico Chico coloca o público para cantar Menino Bonito, sua cativante releitura de Rita Lee que certamente contribuiu para impulsionar sua carreira em 2025. Emenda com Tanto Pra Dizer, lançada primeiro como single e depois oficializada no terceiro e mais recente álbum, reafirmando que, muito além de um “menino bonito”, ainda tem bastante a expressar.

Perto do fim, Chico Chico e sua Banda Banda presenteiam a plateia com uma versão acelerada de I Will Survive, sendo a cereja do bolo para o público mais experiente que almejava nostalgia. Já em Norte, divide o Opinião ao meio para formar um coral simultâneo nos versos que soam como um mantra:

Vou me ater aos fatos / O amor nunca falhou

E as coisas acontecem / De uma hora pra outra.

Francisco Eller encerra o repertório com Ninguém, um de seus maiores hits, feito em parceria com Fran (Gilsons) em 2020 — e certamente uma das mais cantadas pelo público que lotava o bar. A Banda Banda mal ameaça sair do palco e a plateia já grita por “mais um”. O bis, prontamente atendido, traz Espelho e fecha a noite com o grandioso Blues da Piedade, de Cazuza e Frejat, também gravado por Cássia. Antes do refrão, Chico não resiste e comemora a prisão de Jair Bolsonaro. O Opinião incendeia. Nada mais simbólico para uma canção que pede piedade “pra essa gente careta e covarde”.

O público que buscava celebrar a memória de Cássia certamente a encontrou em sua voz, em sua risada e, principalmente, em sua malandragem. Não há dúvidas de que “Chicão” honra com maestria seu legado. Mas, para além disso: é inventivo, ousado, brincalhão e livre. Deixa arder, quase que literalmente. É nítido que a música está presente em seu sangue, em sua mente, em seu corpo. O que nos dá a certeza e o alívio de que ainda há muito por vir.


SET LIST:

TEMPO DE LOUÇAS

HORA H

VAPOR BARATO / FARSA

VILA DO SOSSEGO

MEIA LUA INTEIRA / URMININU

ÁRVORE

ACORDA ZÉ

NA MINHA IDADE

TWO MOTHER BLUES

4+20

ΜΕΝΙΝΟ BONITO

TANTO PRA DIZER

NORTE

NINGUÉM

::BIS::

ESPELHO

BLUES DA PIEDADE

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