Crítica | Ingresso para o Paraíso

Todo mundo sabe sobre filmes para levar crianças, mas “Ingresso para o Paraíso” é a institucionalização do “filme para ver com um idoso”.

Trazendo Julia Roberts e George Clooney como protagonistas, os dois atores ganharam, para além dos cachês e dos créditos de produção, férias num lugar paradisíaco para gravar um filme honesto, que nem por 1 segundo finge ser algo além de um comercial de turismo. Centrado numa narrativa de um casal que se odeia sendo obrigado a conviver e ver velhos sentimentos voltando a tona, enquanto tentam sabotar o repentino noivado da sua filha, tudo isso no cenário paradisíaco do Bali. A química de Clooney e Roberts é inegável e os dois são convincentes se odiando e se amando, além deles, a promissora atriz Kaitlyn Dever que interpreta a filha do casal se destaca na película que, apesar de ser tanto longa que por vezes gasta muito tempo explicando coisas que não são tão importantes, com certeza vai divertir bastante gente.

Com voice overs, “Ingresso para o Paraíso” inicia mostrando os dois protagonistas David (Clooney) e Georgia (Roberts) contando a história do seu pedido de casamento para pessoas diferentes, os cortes entre um personagem e outro reforçam as diferenças entre um e outro a partir da sua visão dos fatos contados, ao final da cena os seus interlocutores (tanto em cena quanto o público) são levados a pensar que os personagens ainda são casados, o que é rapidamente esclarecido pelo casal para as pessoas com quem cada um estava conversando, ela segue explicando que o único motivo para terem que se ver de novo é que sua filha Lily (Dever) vai se formar. Logo conhecemos a jovem formanda ao vermos ela e sua melhor amiga arrumando as coisas em seu dormitório, em sequência a personagem recebe duas ligações seguidas dos seus pais para confirmar que um não vai sentar perto do outro na cerimônia colação de grau, e, apesar da filha mentir para eles, vemos o momento em que descobrem que seus assentos são lado a lado.

Tão logo sua filha embarca para uma viagem comemorativa para o Bali, os dois planejam não ser ver novamente por muito tempo. Porém ao fim do prólogo vemos que 40 dias depois os dois estão embarcando juntos para a mesma ilha na Indonésia, após sua filha se apaixonar e noivar com um rapaz morador da ilha. A história da filha lembra o que os dois protagonistas contavam no início sobre se apaixonar rápido e noivar e eles, apesar de não concordarem em mais nada na vida, decidem que juntos vão convencer Lily a não se casar. A estrutura da história é tão previsível como esses filmes costumam ser, as ações em dupla e os contratempos, além do cenário que os obriga a conviver fazem os protagonistas reavaliar aspectos do seu relacionamento mal acabado. Com uma série de piadas leves e cenas em belíssimas locações, “Ingresso para o Paraíso” não dá qualquer sinal de estar tentando dar alguma mensagem além das mais básicas que uma comédia romântica costuma dar sobre amor, sobre falar a verdade e etc.

Dito isso, há muitas maneiras de fazer esse filme ficar ruim, o que não chega a ser o caso dessa produção, o roteiro é tão sólido quanto pode ser, o elenco se diverte em cena e os dois experientes atores carregam os momentos mais drmáticos com bastante facilidade. Claro que fica aquela impressão de ser muito mais um vídeo institucional de turismo do Bali e que além dos enormes cachês, Julia Roberts e George Clooney foram passar férias nas belas paisagens e em contrapartida tiveram que filmar algumas cenas e assim, por mais que isso seja questionável, Hollywood hoje virou um lugar de tão pouco esforço que não há tantos aspectos diferentes entre o que a produção desse filme fez e o que qualquer outra tem feito, inclusive o fato desse filme ter mais de 90 minutos, o que é completamente dispensável, pois há cenas que apenas reforçam ideias que já temos e uma sequência de dança com hits dos anos 90 que apesar de ter função dramática é só constrangedora. “Ingresso para o Paraíso” será visto um pouco nos cinemas e muito nos streammings e aviões e eu acho que estamos todos ok com isso.

5

Anterior
Anterior

Crítica | Elvis

Próximo
Próximo

Crítica | Nuvens Flutuantes