Filmes Para Toda Hora | Encontros e Desencontros

Esta coluna é reservada para filmes que cravaram seu lugar no coração de quem a escreve. Seu objetivo é que possamos tentar explicar os motivos pessoais de um filme ser tão importante para que, talvez, os leitores possam também se identificar. Hoje, escrevo (bem… mais sobre isso a frente) sobre um de meus dez filmes favoritos que, alguns anos atrás, me conquistou de forma que senti como se estivesse preso nele ele por dias e dias.

Na verdade, em minha busca dos melhores romances do século 21 até agora, fui trazido de volta a esta obra prima de Sofia Coppola, cuja qual havia escrito um texto alguns anos atrás e jamais publicado. Então o texto a seguir é, na verdade, escrito por um eu que não existe mais, mas que ainda compartilha dos mesmos sentimentos em relação a “Lost In Translation”, ou seu péssimo título traduzido: “Encontros e Desencontros”.

Com vocês, um Marco mais jovem, menos sábio, mais esperançoso e mais confuso.


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É incrível o numero de coisas que o amor pode se tornar.

Na obra prima de Sofia Coppola, “Encontros e Desencontros”, o amor é uma rota de escape no meio do nada, quando você não sabe como chegou lá e não tem qualquer ideia de como sair. Onde tudo parece parado e fora de alcance, e então, de repente, algo gentilmente toca suas mãos - ou pés - e fica por um breve, mas intenso momento.

É linda a forma como Sofia sabe exatamente o que fazer para nos fazer sentir o que ela quer que sintamos. Há uma tensão crescente que jamais se sacia, catalisada pelas performances dos dois astros. Scarlett pode estar em sua primeira crise existencial, Bill provavelmente já teve uma mão cheia delas. E, então, no meio de um lugar que não comunica nada para nenhum dos dois, duas pessoas com décadas de diferença na idade encontram no outro algo que, de alguma forma, soa como lar.

Fica para nós decidir se o que eles tiveram foi um relacionamento como qualquer outro casal. Bill é sempre carinhoso e educado com ela, em todos os seus trejeitos, olhares e ações, enquanto ela possui aquela luz que apenas a juventude pode trazer, agindo com amor mesmo sem saber que o amor está agindo nela. A conexão de ambos parece pura, sincera e quase inocente, eles entendem seus personagens e os interpretam da melhor forma que poderiam ser interpretados. É algo maravilhoso de se acompanhar e pode lhe trazer memórias que você nem lembra que ainda tem. Ou te deixar ansioso para ir fazê-las.

A fotografia, de suma importância, também te manipula. Brincando com luz e escuridão, a câmera se move, permanece, muda, flerta entre o confortável e o desconfortável, mas jamais se mostra satisfeita. Como eles, o filme parece desorganizado, procurando seu lugar no mundo, entendendo o conceito de tempo como poucos filmes antes fizeram. Em uma cena, eles estão deitados em uma cama, quase dormindo. A câmera fica parada o suficiente para que vejamos Bob tocar o pé de Charlotte da maneira mais natural possível. E, é claro, em sua cena final, ele a beija - de surpresa - e sussurra algo em seu ouvido que talvez nunca saberemos. Sofia entende tudo que está acontecendo e nos deixa com curiosidade o suficiente, e uma necessidade por explicações, para que o filme continue em nossos corações por muito mais tempo que em nossas cabeças.

Em “Encontros e Desencontros”, duas pessoas que precisavam se encontrar, se encontraram. Por um pequeno período de tempo elas se conheceram, conversaram, riram, brigaram, amaram. É um dos filmes mais bonitos e arrasadores que já assisti, um marco moderno do romance no cinema.

É um filme sobre cada um e todos nós, mesmo que alguns ainda não saibam disso.

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