Crítica | Rua do Medo

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A consistência dos sucessos da Netflix é o que dá medo de verdade.

Logo vai virar piada, mesmo que a obviedade impeça de certa maneira, porque praticamente todo o original que bomba é justamente isso, uma bomba e esse “Rua do Medo Parte 1: 1984” não foge a escrita. Dirigido por Leigh Janiak, a primeira parte da trilogia que será lançada em três semanas é uma tentativa de homenagem ao terror enquanto adapta um dos contos do Goosebumps, mas soa mais como um exercício inacabado e mal pensado, principalmente quando o lançamento da última parte não coincide com o Halloween.

Com uns primeiros 20 minutos que me deixaram pronto pra declara-lo candidato forte a pior filme de 2021, o longa chegou a me lembrar a edição de “Bohemian Rhapsody”, como se a preparação e antecipação merecessem a mesma confusão de sentidos que os atos de terror em si, mas é possível também considerar uma tentativa mais do que falha de emular David Fincher e seu apreço por detalhes. Feliz, e estranhamente, as cenas e o espaçamento ficam mais claros assim que somos apresentados ao jogo de gato e rato, atordoando pela maneira como brinca com nossa perspectiva, e não por uma confusão desproporcional. Por mais toscas que algumas das cenas sejam, Janiak filma de maneira que entendemos os confrontos como resoluções fisicamente plausíveis, algo que combina com o tom sério que o filme adota.

Quer dizer… tenta adotar, mas ao tentar partir direto pra paródia como homenagem em alguns momentos acaba ficando no meio do caminho dos slashers clássicos e aquilo que o Adam Wingard (“Death Note”, “O Hóspede”) faz, além de que não há bem uma unidade no elenco. A protagonista tem uma cara de dor de barriga o tempo todo, overacting do início ao fim, e parece que só Fred Hechinger (que manda mal em “A Mulher na Janela”) compreende bem o tom, em tese, proposto. Ao menos ele se diverte, os outros parecem presos em um lado só do filme.

E essa incerteza em definir o que é impede o filme de passar qualquer medo, porque já cedo percebemos que estamos ali pela brincadeira (macabra, claro) e a seriedade com que se trata em vários momentos impede ela de ser realmente prazerosa (não olhem pra mim, vocês que gostam de filmes assim!). Talvez o único momento onde senti uma ponta de medo (lembrem, sou um cagão de marca maior) foi o final, na ligação de uma das sobreviventes, mas Janiak perde a chance de te deixar com aquele sentimento, partindo pra algo muito mais óbvio que diminui, e muito, minha vontade de ver o segundo.

Ah, não bem que ache responsável, mas a ideia de que só as drogas podem te libertar do stress do mundo diário é algo, no mínimo, muito inteligente quando o filme trata sobre adolescentes que enlouquecem e atacam colegas. Isso é, caso o anacronismo e a ideia de que vem tudo de uma bruxa assassinada não meio que jogassem fora a culpa da sociedade em si.

Mas bem, pra um filme que apontou como uma bomba indefensável, até que o saldo final foi mais positivo. Dei umas boas risadas, e caso vocês não exijam muito, vão também.

5

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