Crítica | Homem de Ferro

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Existe um mundo alternativo onde “Homem de Ferro” e “Batman Begins” fracassam nas bilheterias e são Shyamalan e as Wachowski que comandam os blockbusters da próxima década, fugindo do realismo e nos imergindo em mundos onde o fantástico impera, onde a mesmice não seria defendida e vangloriada, onde o “entrar no Cinema para se divertir” seria uma frase proibida e não validação de um discurso pronto para não aceitar o condicionamento imposto pela Disney.

Mas esse mundo, como eu disse, é alternativo, e enquanto o multi-verso continuar na ficção, temos de viver com o que sobrou do legado dos filmes de Jon Favreau e Christopher Nolan. Porém, enquanto o segundo fez uma trilogia fechada com sua visão para o personagem - e que diferentemente de uma das facções brasileiras da cinefilia, eu defendo -, Favreau apenas seguiu as ordens do estúdio comandado por Kevin Feige, conseguindo aplicar apenas o suficiente de si mesmo no projeto para que ele não soasse completamente burocrático e obrigatório. Ainda assim, é curioso ver como este filme praticamente prevê tudo que aconteceu desde então, tanto dentro do Cinema como na indústria: “Homem de Ferro” surge com uma ideia de realismo não muito distante da trilogia de Nolan, mas tão superficial que parece uma piada de mau gosto.

Os conflitos geo-políticos, além de excessivamente capitalistas e patriotas (me lembraram Clint Eastwood, até), surgem apenas como fundo para que a representação do capitalismo (quase social), Tony Stark, nascido na riqueza, seja desculpado pelo público quanto à seu comportamento egocentrista. Pois enquanto Bruce Wayne escolhe o exílio e o anonimato para tentar dar sentido à sua luta, Stark abraça a fama, em um filme que traz traços de Michael Bay e “Top Gun”, quase como um mostra o seu que eu mostro o meu. Dirigido como um comercial de Audi (li isso no Letterboxd, não lembro quem escreveu), há um fetiche hormonal na maneira como Favreau passeia pela armadura e torna Stark irresistível para o sexo feminino, o tornando o exemplo perfeito do macho alfa utilizado como capa de cursos vendidos até hoje. Detalhe, falo isso elogiando o filme, porque a aposta no carisma de Downey Jr. não apenas funcionou, mas desviou os olhares de todo mundo para o quão reciclado é este filme.

E desta masculinidade frágil, vem também o convite para entrar na armadura com Stark, que surge como o sonho de um dia ver os Vingadores juntos que todos tiveram ao vislumbrar pela primeira vez a ideia de um universo compartilhado. Essa promessa é de longe a coisa mais bonita de todo o MCU, algo que surge como uma fagulha aqui e ascende em poucos dos filmes, mas que talvez represente de verdade o que Stan Lee visualizou tantos anos atrás. Pois há, em meio ao realismo de máquinas de guerra, o sonho do homem de conquistar os céus, a invulnerabilidade e todo o poder para poder mostrar o seu para o mundo todo.

Talvez não como era o objetivo, mas se esse é um dos melhores filmes do MCU, é porque havia ao menos um traço da ingenuidade que faltou para tantas de suas sequências. Se eu acreditei na coisa toda? Claro que não, mas, pelo menos, me diverti.

7

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