Crítica | O Estranho Que Nós Amamos

Eu assisti a dois filmes sobre guerra nesta semana. Um deles foi "Dunkirk", outro "O Estranho Que Nós Amamos". Um não deveria estar necessariamente no caminho do outro, mas pelas suas propostas, só posso trazer esta comparação. 

Enquanto o filme de Nolan é um espetáculo visual e conceitual, focando o drama da guerra na situação e no que está prestes a acontecer, e não no sangue e na morte, o de Sofia Coppola, que foi aplaudido e lhe rendeu o prêmio de melhor diretora em Cannes, não chega nem perto de explorar o conceito que propõe em sua premissa. 

Um remake do filme de 1971 (que por sua vez foi baseado no livro de Thomas P. Cullinan, "A Painted Devil") o roteiro foi praticamente conservado. Durante a guerra civil americana de 1863, um soldado da união é encontrado por uma jovem estudante do Internato da Sra. Martha Farnsworth, onde apenas cinco alunas e uma professora residem após quase todas terem sido mandadas para casa por conta da guerra. Sua presença faz com que uma tensão supostamente sexual se crie na casa, entre o soldado John, a professora Edwina, a própria Sra. Martha e a mais velha das alunas, Alicia. 

O grande problema aqui é a falta de química envolvendo o elenco. Clint Eastwood era o John de 1971, e embora John Cusack seja um bom ator, não há nada de atrativo ou carismático em sua performance. Não existem motivos, fora da privação do contato com o sexo oposto, para que todas as mulheres fiquem tão consternadas com sua presença. Suas interações com o resto do elenco, um tanto mais bem colocado, não trazem quase nada de tensão ou envolvimento, e suas duas cenas de sexo são apenas utensílios do roteiro, e não enriquecem em nada o desenvolvimento de seus conceitos, perdidos meio à estilosa, mas substancialmente vazia direção de Coppola.  

É quase um desperdício de uma ótima Nicole Kidman, que interpretando a Sra. Martha, traz um senso de preocupação e de relutância em seu olhar quanto à seus desejos verdadeiro. E mesmo que as personagens de Kirsten Dunst e Elle Fanning, a primeira uma professora frustrada e sem nenhum brilho de vida, e a segunda uma jovem quase promíscua, não sejam exatamente bem desenvolvidas, elas fazem o melhor com o que lhes foi dado. Até mesmo o elenco das crianças, liderado pela talentosa Oona Laurence não está exatamente mal. Só não existe nada aqui essencialmente brilhante para agregar valor ao longa. 

O roteiro, também escrito por Coppola, funciona de forma estranha em conjunto com a cinematografia, propositalmente escura. Há um clima de tensão crescente, mas raramente é uma tensão atraente. Em seu favor, ela consegue segurar o filme razoavelmente bem e tem a mão precisa do começo ao fim. Você sabe que tem algo de errado, é uma atmosfera crua, mas ela se arrisca muito pouco em termos de impacto, e a maioria dos diálogos não conseguem ser eficientemente atrativos para enriquecer a história. 

O momento triunfante de "O Estranho Que Nós Amamos" talvez esteja no final, que coroa uma obra peculiar e estranha de forma quase perturbante. Não assisti aos outros filmes em Cannes até agora, e embora muitos tenham gostado deste, não existem motivos realmente fortes para levar alguém ao cinema. Ver filmes está caro, e existem opções melhores por aí. 

5.5

 

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