As Melhores Interpretações da Década | Atores Principais

Se montar qualquer lista de filmes já é um exercício que, por mais divertido que seja, tende a se tornar exaustivo quando levado a sério (o que, infelizmente, acabo fazendo), elencar as principais performances em um período tão longo é uma tarefa mais do que ingrata.

Pois pense só, muito provavelmente em todos os bons filmes que viu havia ao menos uma boa interpretação, mas além destes há aqueles filmes medianos que trazem performances inspiradas e até aquelas atrocidades salvas pelo trabalho de um ou outro intérprete. Além disso, se um filme já é um mar de elementos que funcionam de acordo com a subjetividade - e bagagem cinematográfica, é claro - de cada um, imagine avaliar atuações que, em atos mínimos, e muitas vezes desapercebidos, acabam nos tocando de formas que nem bem sabemos como.

Acho interessante apontar também como, nas listas de atores e atrizes coadjuvantes, a diversificação étnica é mais visível, algo que diz mais sobre os estúdios - e sobre nossa sociedade - do que sobre a capacidade dos interpretes pertencentes a minorias.

Para facilitar meu trabalho e torná-lo mais prazeroso, decidi apenas listar aquelas interpretações que mais me cativaram, por um motivo ou por outro e, antes de começar, aviso que dividi os atores em duas categorias, assim como na grande maioria das premiações, por motivos óbvios. Além disso, atores e atrizes presentes em uma postagem não poderão ser incluídos em outra, por motivos de variedade.

Abaixo, aquelas as quais considero as 10 melhores performances masculinas da década:


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10B | alex hibberts, ashton sanders, trevante rhodes, moonlight (2016)

Assim como não consigo me decidir entre qual dos três faz o melhor trabalho, também não consigo não colocar todos nesta lista. Então, fica aí uma menção honrosa especial.

Interpretando um menino confuso, um adolescente conturbado e um homem perdido, o trio de atores dá à Little/Chiron/Black uma vida de buscas, onde as respostas só são atingidas após muito sofrimento.

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10 | Hugh Jackman, Logan (2017)

A segunda melhor atuação em um filme de super-herói desde o Coringa de Heath Ledger, Jackman poderia interpretar o Wolverine dormindo (o que o faz várias vezes), mas aproveita de sua última jornada com o personagem o qual marcou sua carreira para explorar ainda mais sua complicada personalidade, além de representar com perfeição a imponência física e, desta vez, visível decadência do mutante.

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9 | Viggo Mortensen, Capitão Fantástico (2016)

Se reutilizando de elementos de seu personagem mais famoso (um tal de Aragorn), Mortensen concebe em Jack um homem orgulhoso demais, e falho o suficiente para que toda sua postura seja questionada, porém, é sua dedicação aos filhos que sempre fala mais alto. Sua forte ideologia só não consegue superar justamente isso, em um arco que culmina em uma das cenas mais lindas e tocantes que já vi - e escrevi sobre.

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8 | Steve Carell, foxcatcher (2014)

Olhe de novo, sim, este é o mesmo ator que fez O Virgem de 40 Anos, The Office e etc, etc, etc. Interpretando um homem tão oposto de seu tipo habitual que parece que toda sua vivacidade fora sugada, o John DuPont de Carell contém toda atmosfera e natureza sombria de um homem que, de tão infeliz, jamais poderia aceitar a felicidade de outros sem que ela fosse imposta por ele próprio. Mais um grande trabalho na carreira de Carell.

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7 | Michael Keaton, birdman (2014)

Uma das maiores injustiças que já presenciei no cinema foi ver Keaton tendo de guardar seu discurso de Melhor Ator em 2015. Interpretando um personagem fictício, que de tão similar à si próprio soa como uma auto-biografia, Keaton entrega muito mais realidade à Riggan Tompson do que Redmayne jamais seria capaz, mesmo na pele do lendário Stephen Hawkins.

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6 | Jake Gyllenhaal, O Abutre (2014)

Se optasse por listar meus atores e atrizes favoritos destes últimos dez anos, Gyllenhaal definitivamente estaria mais alto. Apenas decidir qual de suas performances faria a lista já foi uma tarefa árdua, mas, dentre suas muitas inesquecíveis, a mais marcante é aquela onde ele brinca de metamorfose e se transforma, literalmente, na criatura que dá nome ao filme.

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5 | Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas (2013)

A perda de peso de McConaughey pode ter sido um influenciador para que ele tirasse o (mais um) Oscar de DiCaprio em um ano onde muitos julgam que o último deveria ter finalmente ganho, mas o que mais me impressiona são os olhos que encontramos no fundo daquele rosto esquelético, que em meio à toda teimosia, preconceito e ignorância, mascaram um sentimento de desespero que só não é maior que sua necessidade de afeto e compreensão. Por mais que não tenha se tornado tão icônico quanto o milionário festeiro de “O Lobo de Wall Street”, ou como seu próprio “alright”, esta é a melhor performance tanto daquele Oscar (2014), como da carreira de McConaughey.

4 | adam driver, história de um casamento (2019)

Em uma década onde Adam Driver se alçou ao estrelato saltando entre pequenos papéis em filmes independentes e Star Wars, foi em “Marriage Story” que ele atingiu o ápice de sua cativante estranheza. E digo sem problemas, não fosse por aquela cena, não o colocaria tão alto nesta lista, mesmo que ela não ofusque seu brilhante trabalho ao longo da projeção que, infelizmente - ou felizmente? -, me lembrarei para sempre.

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3 | daniel kaluuya, corra (2017)

Marcado pela já icônica cena onde uma lágrima escorre de seu olho escancarado, este trabalho de Kaluya é seminal não apenas pelos momentos onde não conseguimos tirar nossos próprios olhos dele, mas sim por aqueles menores que passam desapercebidos: um sorriso desconfiado, uma afirmação involuntariamente pacificadora com a cabeça, uma risada acostumada com uma situação que já se tornou regra. Mas, ainda mais do que isso, pela habilidade inumana dele, e de Jordan Peele, de nos colocar, por quase duas horas, na sua pele. Literalmente.

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2 | Joaquim Phoenix, Her (2013)

Ele pode ter estado mais impressionante em O Mestre e Coringa, ou até mais imerso em Vício Inerente e Você Nunca Esteve Realmente Aqui, mas nenhuma das atuações na brilhante carreira de Phoenix me conquistaram tanto como seu quase inofensivo Theodore. Um homem tão solitário e com medo de seus próprios sentimentos, que fabricá-los se torna sua melhor chance de escondê-los. Por isso, quando o vemos entregue completamente à Samantha, a sensação de descoberta e liberdade é tamanha que seu efeito ressona na forma como encaramos nossa própria forma de amar.


Menções Honrosas: Leonardo DiCaprio em O Regresso, O Lobo de Wall Street, Ilha do Medo, Era Uma Vez Em… Hollywood (não consegui me decidir, então podem considerá-lo como membro honorário da lista); Samuel L. Jackson em Os Oito Odiados; Bradley Cooper em Nasce Uma Estrela; Chiwetel Ejiofor em 12 Anos de Escravidão; Vladmitr Brichta em Bingo; Ryan Gosling em Drive; Andy Serkis na Trilogia Planeta dos Macacos; Casey Affleck em Manchester à Beira Mar; Payman Maadi em A Separação; Ben Foster e Jeff Bridges em A Qualquer Custo.


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Oscar Isaac, Inside Llewyn Davis (2013)

Gostaria de ter pensado mais sobre qual interpretação colocar em primeiro lugar, mas infelizmente não tive escolhas. Pois, de certa forma, eu odeio o Llewyn Davis de Oscar Isaac. O desprezo, inimaginavelmente.

Depressivo, perdido e o pior, teimoso, é um jovem que ainda não percebeu que já deveria ser um homem, para enfim dar um rumo àquela coisa errática que chama de vida. Antissocial o suficiente para não se deixar aceitar as próprias amizades, presunçoso, prolixo e o pior (parte 2), incansavelmente chato.

E porque o considero tanto?

Pois Oscar Isaac, de certa forma, concebe um ser humano que espelha muitas características as quais também possuo. E ele, diferente da grande maioria de nós, apesar de saber que tempo, dinheiro e universo estão contra ele, não desiste de um sonho que já a muito acabara e o que sobrou foi a ressaca de uma noite mal dormida.

Ninguém foi tão intenso com tão pouco, ninguém foi tão verdadeiro a ponto de ser irritante, nenhum outro ator conseguiu criar um ser humano tão complexo que ele existe além de sua própria história.

É a melhor performance que vi esta década, e talvez eu me odeie por isso.


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