Crítica | Stroke Of Genius

Se eu não amasse tanto escrever sobre filmes ou música, com certeza escreveria sobre esportes. Não que uma coisa impeça a outra, mas as possibilidades de interpretação e a maior facilidade em transcrever sentimentos para o papel com os dois primeiros são fatores inquestionáveis. A um “Q” de parcialidade sempre presente quando se fala de esportes.

Mas se há algo fascinante dentro das histórias sobre o mundo esportivo é que elas não tem roteiro. Cada decisão é uma constante variável de um resultado onde ninguém no mundo pode adivinhar até, nesse caso, acontecer o aperto de mão depois de uma reflexiva caminhada até a rede.

É engraçado lembrar o quanto eu queria ser jogador profissional de tênis lá pelos meus 10 anos e todos acontecimentos que envolveram o maior jogo de todos os tempos do esporte. No mesmo dia eu iria jogar a minha primeira final no esporte, ou seja, perderia a grande decisão de Wimbledon - torneio mais importante do Tênis - entre dois dos meus maiores ídolos.

Roger Federer, o artista que sabe como lutar e Rafael Nadal, o lutador que sabe como fazer arte. Ainda acredito que há muitas rivalidades maravilhosas na história do esporte mas algo sobre a questão das únicas duas pessoas dentro da mesma quadra ser você e seu adversário é enervante. E antes que me argumentem sobre as grandes rivalidades do Boxe ou outros esportes individuais, o Tênis possui essa particularidade onde você não pode falar com o seu treinador ou quem quer que seja da sua equipe. Você, seus demônios e seu adversário.

O contexto era: Federer havia ganho os últimos 5 títulos do torneio e Nadal nenhum na sua história, com o asterisco de ter atropelado o seu maior rival durante todo ano de 2008. O principal aspecto do documentário é dar espaço pra ambos jogadores comentarem detalhes de uma das partidas mais mentais da história e eles o fazem com a mesma seriedade e comprometimento 10 anos depois. Federer com seu inglês fluente e Nadal sem o desconforto de ter que falar outra língua que não o espanhol.

O mais engraçado - e quando digo engraçado quero dizer que nem o mais irônico dos seres humanos imaginaria algo assim - é que o documentário transita entre pontos jogados a beira da perfeição e o começo da trajetória de ambos jogadores no esporte. O ponto fraco de Nadal? Seu físico. O de Federer? Seu comportamento extremamente temperamental. É entre essas indas e vindas que a narrativa de “Stroke Of Genius” busca humanizar duas das maiores máquinas que o esporte já viu, seja com relações familiares ou com paixões descobertas dentro do próprio esporte, o que também torna a história acessível para os não fãs de tênis.

Duas forças tão inevitáveis serem tão contrastantes é onde a beleza mora. Anos passaram desde suas dificuldades iniciais no mundo competitivo. Nadal, já com a fisionomia de um touro - razão pela qual ganhou seu apelido - e Federer, sem cabelos descoloridos mas sim com trajes que lembram as vestimentas de um príncipe fizeram de suas fragilidades suas principais virtudes. Não podiam imaginar a magnitude do que viria acontecer, mas com certeza sabiam que aquilo era uma possibilidade.

Naquele domingo chuvoso de 2008, tanto aqui quanto em Londres, duas das maiores partidas de tênis - na minha cabeça, é claro - estavam acontecendo simultaneamente. Acontece que aquela vitória foi um dos meus últimos capítulos no esporte. Hoje, depois de 11 anos daquela final, ou melhor, daquele marco, Federer e Nadal seguem ganhando título após título, deixando claro, desde 2008, que a única coisa que pode parar um fenômeno natural é outro fenômeno natural.

A chuva mais precisamente. Só a água pôde parar o fogo do espanhol e a pedra emocional que é o suíço. naquele dia, nem a escuridão foi capaz disso.

8,5

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