Crítica | Rasga Coração

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O que causa ansiedade em cada geração? pelo que se luta hoje e pelo que já se lutou? as reivindicações de uns são mais importantes que a de outros? Essas questões pipocam por todo tempo em tela em Rasga Coração.

Rasga Coração (2018) é o filme mais recente do diretor gaúcho Jorge Furtado, baseado na peça homônima escrita por Oduvaldo Vianna Filho em 1974. É um drama familiar contado pela perspectiva do pai Custódio (Marco Ricca) que lida com a vida de seu filho Luca (Chay Suede), a partir da relação que ele tem com as lutas do seu passado. Custódio relembra os dias em que era chamado de Manguari Pistolão (João Pedro Zappa), que aparece em contínuos flashbacks, na luta pela abertura política e o fim da ditadura militar. Isso é contando em paralelo às luta de Luca, estudante bolsista de escola particular, ciclista e vegano, para se vestir do jeito que ele quer na escola.

Com fortes diálogos e um ritmo intenso as contradições de cada um dos personagens são expostas e colocadas em conflito entre eles mesmos e com as nossas ansiedades e visões de mundo trazendo reflexões sobre os problemas das gerações, o que é velho, o que é novo e o que parece que é novo mas na verdade é muito velho. Pulsa no desenvolvimento da história aparecer como algumas questões são transversais, logo no início o personagem Luca fala: “geração é o que gera, todas gerações só pensam sobre sexo”. Esse tipo de construção quebra já no início o estereótipo do embate “jovem rebelde x velho conservador” e mostra que as questões importantes para os personagens (e para as gerações) são mais complexas que isso.

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Com fortes marcas da filmografia de Furtado, o filme se constrói com diálogos que sempre criam e recriam a dinâmica da relação entre os personagens. A personagem Nena, interpretada brilhantemente pela Drica Moraes, é a mãe e é a esposa e é também uma espectadora hiper-ativa do conflito entre seu filho e seu marido na casa, sempre construindo discórdia e mediação, mostrando preocupação com a inação de Custódio e o futuro do seu filho, assim como com a relação dos dois. Em paralelo com os problemas do presente, “Rasga Coração” conta as lembranças de Custódio da sua juventude, tratando principalmente sua amizade com “Bundinha” (George Sauma) um personagem excêntrico da noite que representa o lado boêmio da juventude de Custódio, mas também em quem enxerga seu filho, que não gosta de política e não se importa com nada além de seus amigos.

Rasga Coração é um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos, com rara capacidade de não fazer caricaturas fáceis quando se fala de política ou apenas repetir jargões e sensos comuns. Sem estabelecer uma opinião clara o filme é posicionado e competente em nos fazer refletir sobre os problemas do nosso tempo.

7,5


*Esse texto foi publicado originalmente no dia 10 de Janeiro de 2019, com algumas alterações, no Medium.

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