Crítica | Billie Eilish - HIT ME HARD AND SOFT

A água como forma de representação de um amor fadado ao fracasso.


Me vi engajado desde o primeiro múrmuro inundado de Reverb em SKINNY.

Billie Eilish, em sua faixa de abertura, indicava o começo de uma história já acabada, com sua atmosfera imersiva, a indicação que ali o tempo não parece passar - “21 took a lifetime” - e a porta escancarada que anseia pelo seu retorno mas que parece impossível alcançá-la - Am I already on my way out? -.

Sua capa e sua primeira faixa pintam a tela de um amor que inunda e que afoga, que parece infinito e inescapável, mas que já foi um lugar tranquilo para se banhar. Surpreendentemente, a triste SKINNY, num estalar de dedos, é dissipada pela enérgica e sexual LUNCH. Consequentemente, assume a função de prólogo da narrativa, e instantaneamente entendemos que se trata de um álbum conceitual (coisa nova na discografia da cantora):

Um conto de amor, seus altos e baixos, e o destino final já conhecido.


O contraste entre as duas músicas iniciais conversa muito bem com seu título. Billie, junto ao seu irmão e produtor FINNEAS, adota essa combinação de momentos empolgantes e frustrantes, pega temas delicados e os reveste com uma produção que usa e abusa de sintetizadores e baixos tão destacados (CHIHIRO) que poderiam causar rachaduras em paredes dependendo da caixa de som em que forem tocadas. Não é um quebra cabeça muito ortodoxo, não possui segundas intenções e não há muitas mensagens ambíguas. É uma história tão translúcida quanto a água que a afunda.

E falando em transparência…

… Uma das coisas que mais chamam atenção no Disco é o subjetivismo de suas composições (escritas e sonoras). As ideias da cantora claramente representam o que sentiu em determinada situação, e não o que ela, por definição, acha que aquilo deveria significar (atitude meio comum da geração Z). A temática (amor), por mais que seja bem conhecida por todos nós, aqui é acompanhada por alguém que parece estar vivendo ela pela primeira vez, consequentemente evocando sensações que parecem novas e ao mesmo tempo uma estranha nostalgia.

BIRDS OF A FEATHER, por exemplo, é a declaração de amor mais verdadeira que um ser humano poderia criar, onde a simplicidade de seus acordes e a honestidade em sua performance geram uma profundidade emocional que poucas vezes uma música Pop alcançou. Por outro lado, em THE GREATEST, um desabafo detalhista sobre o processo de desapaixonar-se (e o quão triste e desolador ele é), não há esconderijo para suas frustrações. As palavras carregam consigo sua definição mais literal, e a produção ambienta esses momentos com a mesma clareza. O dedilhado de violão que sobrevive por aparelhos durante quase toda faixa ganha forças orquestrais e cinemáticas na Ponte (um dos momentos mais emocionalmente intensos do ano), enquanto ela proclama novamente de forma simples seus sentimentos: “I loved you, And I still do, Just wanted passion from you Just wanted what I gave you.”


A ingenuidade de Chihiro (a personagem), se atrela a de Billie em sua história. Na única faixa metafórica do LP, a esperança em um amor fantasioso, de outras vidas, e que pode superar barreiras intransponíveis é o que se destaca.

Mas até na fantasia há literalidade, e a faixa indietrônica, com seus sintetizadores e sua linha de baixo pulsante, parece, pra mim, uma transcrição exata do filme, cuja água tem papel fundamental (é quase protagonista na verdade). Água onde Chihiro se afoga, perde sua memória e se reapaixona. Águas de um rio que com a força para inundar uma cidade e que já a machucou, mas que leva o nome de sua primeira paixão.

São as contradições agridoces do amor, agora conhecidos por Billie Eilish.

8

Faixas favoritas: SKINNY, LUNCH, CHIHIRO, BIRDS OF A FEATHER, WILDFLOWER, THE GREATEST, L’AMOUR DE MA VIE

Faixas que menos gostei: THE DINNER (música de vilão da Disney), BLUE (faixa explicativa completamente desnecessária).

Anterior
Anterior

Crítica | Adrianne Lenker - Bright Future

Próximo
Próximo

Crítica | Charli Xcx - BRAT