Crítica | As Herdeiras
Um tema pertinente, excelentes interpretações, mas, ainda assim, não é o tipo de filme que você vá querer re-assistir ou relembrar.
"Las Herederas" é um filme paraguaio dirigido por Marcelo Martinessi que conta a história de Chela e Chiquita, um casal de mulheres que, após anos vivendo juntas, tem começam a passar por dificuldades financeiras, o que leva Chiquita à cadeia e faz com que Chela tente re-encontrar a alegria de viver.
Contando com um elenco inteiramente composto por mulheres, é um filme que trabalha assuntos pouco vistos no cinema ou em qualquer foram de arte. Quase como uma jornada de auto-realização de sua personagem principal, Chela, interpretada por Ana Brun, pouco acontece de verdade, e para se aproveitar o longa ao máximo é preciso estar investido.
Algumas escolhas técnicas do diretor são interessantes, mas questionáveis. Em torno de 95% de todos os planos do filme são médios e sempre com uma grande quantidade de sombra que ocupa quase metade da tela. Você praticamente só enxerga a pessoa em foco na cena, o que exige muito de cada atriz, a boa notícia é que funciona porque todas estão excelentes. Porém, essa decisão praticamente nos inibe de entender e imergir no local onde elas vivem visualmente, deixando este trabalho para o roteiro que, por sua vez, não faz questão de se fazer auto-explicativo. A própria história do filme é difícil de se caracterizar, pois aprendemos mais pela ótima interpretação de Ana Brun e sua jornada como Chela do que pelo que nos é contado e mostrado.
Lapsos de tempo não explicados, conversas não finalizadas, falta de clareza sobre o atual estado das personagens, tudo fica em segundo plano para o desenvolvimento de Chela. Muito é falado pelo silêncio, então se você não estiver investido na história pode muito bem perder boa parte de suas conexões. Apesar de ter apenas uma hora e meia de duração, o longa é extremamente melancólico e pesaroso, demora para estabelecer sua premissa e em momento algum parece estar interessado em ser atraente. Tudo bem, são decisões que refletem o estado de espírito de sua personagem principal, mas que não são nada convidativas.
A maior sacada do diretor está em acompanhar o desenvolvimento de Chela ao tornar o filme constantemente mais claro e acalorado conforme ela volta a se relacionar com o mundo a sua volta. Seu interesse na jovem Pituca, interpretada de forma convincente por María Martins, é crescente e um tanto agoniante por conta das muitas emoções retraídas e o clímax final entre ambas é impactante.
A cena final é provavelmente o único momento agradável e revigorante de todo o filme, que apesar de levantar questões extremamente relevantes sobre sexualidade, conformidade e depressão na transição para a terceira idade, falha em ser recomendável de qualquer forma.