Crítica | My Dinner With Andre
Imagine o seguinte: um podcast de 2 horas, filmado em um restaurante francês, contendo uma conversa entre dois antigos colegas que, de pouco em pouco, vai escalando níveis filosóficos e mergulhando em temas sobre absolutamente tudo e sobre absolutamente nada.
Esse é “My Dinner With Andre”. É maçante, é longo e se você está atarefado com trabalhos da faculdade e obrigações do trabalho, ele vai acabar sendo assistido em partes. E você não vai entender muito até a conversa esquentar de vez. E aí ferrou. É quando você começa a questionar a sua existência.
“My Dinner With Andre” te força a abrir mão. A abrir mão de ter, ou pensar ter, o controle sobre uma narrativa. A abrir mão de uma narrativa. A abrir mão de procurar saber como o filme vai terminar - a partir de um certo momento, você nem vai lembrar onde foi que ele começou. Os únicos pontos de tensão presentes vêm das tentativas de adivinhar quando é que Wally vai estruturar uma frase completa e quando é que Andre vai cansar de narrar suas perambulações. Pronto.
É um ode ao diálogo, puro e simples. Uma homenagem emocionada e efusiva ao ato de ‘contar’.
Como Andre, abandonamos tudo e vamos para o meio da floresta, apenas para rememorar a forma mais antiga de contar histórias. Como Wally, viramos reféns de uma crônica gigantesca e um monólogo do qual não temos e nem queremos ter controle sobre. A câmera insiste durante todo o longa na troca entre os dois que vai se tornando cada vez menos unilateral.
De “Antes do Amanhecer” não tem nada. Acredite, sou fã de carteirinha da trilogia de Linklater, mas esta obra dirigida por Louis Malle facilmente mostra que possui outras pretensões. É mais densa. Mais complicada. Mais chata, por assim dizer. Enquanto as conversas entre Jesse e Celine são construídas para fluírem quase imperceptíveis e arejadas, a conversa entre Andre e Wally - por ser quase unilateral e ser geograficamente estática - traz um ambiente ocluso e uma sensação claustrofóbica. A ausência de belas paisagens e de tensão sexual latente não-resolvida entre os protagonistas - que servem, em “Antes do Amanhecer” para descansar, respectivamente, os olhos e o fôlego - nos força a procurar algo a mais. Escavar. E é assim que encontramos as pedras preciosas.
Não tem pra onde fugir. Não há cenas de ação para distrair os nossos olhos ou cenas de romance para distrair nosso coração. Não há piadas para entrecortar o clima contínuo e não há cenários grandiosos, belos e extravagantes para redirecionarmos nossos olhos sem que tenhamos que imaginar o Monte Everest que Andre descreve. Não tem para onde fugir e é por isso que o impacto é tão grande quando o assunto na mesa se volta para todas as distrações que insistimos em enfiar em nossas vidas para não percebermos que estamos completamente vazios por dentro.